sábado, 20 de abril de 2013
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quarta-feira, 17 de abril de 2013
Professor demonstra manipulação de O Globo sobre Venezuela
17 de Abril de 2013 - 15h19
do Vermelho
Globo ataca governo venezuelano com dados manipulados
Prezada Senhora Sandra Cohen
Editora de Mundo de O Globo
Já é sabido que o jornal O Globo não nutre qualquer simpatia pelo governo do presidente venezuelano Hugo Chávez, e tem se esforçado a formar entre os seus leitores opinião contrária ao chavismo – por exemplo, entrevistando o candidato Henrique Caprilles sem oferecer ao leitor entrevista com o candidato Nicolás Maduro em igual espaço. Isto por si já é algo temerário, mas como eu não tenho a capacidade de modificar a linha editorial do jornal, resigno-me. O problema é que o jornal tem utilizado sistematicamente dados um tanto quanto estranhos na sua tarefa de formar a opinião do leitor. Sou professor de Economia da Universidade Federal Fluminense e, embora não seja “especialista” em América Latina, conheço alguns dados sobre a Venezuela e não poderia deixar de alertá-la quanto aos erros que têm sido sistematicamente cometidos.
Como parte do esforço de mostrar que o governo Chávez deixou a economia “em frangalhos”, o jornalista José Casado, em matéria publicada em 15/04/2013 (“Economia em frangalhos no caminho do vencedor”) informa que o déficit público em 2012 foi de 15% do PIB. Infelizmente, as fontes desta informação não aparecem na reportagem (apenas uma genérica referência a “dados oficiais e entidades privadas”!!!), uma falha primária que nem meus alunos não cometem mais em seus trabalhos. Segundo estimativas apresentadas para o ano de 2012 no “Balanço Preliminar das Economias da América Latina e Caribe”, da conceituada Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), o déficit foi de 3,8% do PIB, ligeiramente menor do que no ano anterior, mas muito inferior ao apresentado pelo jornal. Caso o jornalista queira construir a série histórica para os resultados fiscais para a Venezuela (e qualquer outro país do continente), pode consultar também as várias edições do “Estudio Económico” também da Cepal. Para poupar o seu trabalho: a Venezuela registrou superávit primário de 2002 a 2008: 1% do PIB; 2003: 0,3; 2004: 1,8; 2005: 4,6; 2006: 2,1; 2007: 4,5; 2008: 0,1; e déficit nos anos seguintes: 2009: -3,7% do PIB; 2010: -2,1; 2011: -1,8; 2012: -1,3. O déficit é decrescente, mas bem distante dos 15% do PIB publicados na matéria. Afirmar que o déficit público na Venezuela corresponde a 15% do PIB tem sido um erro recorrente, e também aparece na matéria intitulada “Onipresente Chávez”, publicada na véspera, também no caderno “Mundo” do jornal O Globo em 13/04/2013. A este propósito, tenho uma péssima informação a lhe dar: diante de um quadro fiscal tão saudével, o presidente Nicolás Maduro não precisará realizar ajuste fiscal recessivo, e terá condições de seguir com as políticas de seu antecessor.
A matéria do dia 15/04/2013 possui ainda outros erros graves. O primeiro é afirmar que existe hiperinflação na Venezuela, e crescente. Não há como negar que a inflação é um problema grave na Venezuela, mas O Globo não tem dispensado o tratamento adequado para informar os seus leitores. A inflação na Venezuela tem desacelerado: foi de 20% em 2012, contra 32% em 2008 (novamente utilizo os dados da Cepal). Tudo indica que o jornalista não possui conhecimento em Economia, pois a Venezuela não se enquadra em qualquer definição existente para hiperinflação – a mais comumente utilizada é de 50% ao mês; outras, mais qualitativas, definem hiperinflação a partir da perda da função de meio de troca da moeda doméstica, situações bem distantes do que ocorre na Venezuela.
Outro equívoco é afirmar que “não há divisas suficientes para pagar pelas importações”. A Venezuela acumula superávits comerciais e em transações correntes (recomendo que procure os dados - os encontrará facilmente na página da Cepal). Esta condição é algo estrutural, e a Venezuela é a única economia latino-americana que pode dar-se ao luxo de não precisar atrair fluxos de capitais na conta financeira para financiar suas importações de bens e serviços. Isto decorre exatamente das exportações de petróleo.
O problema, Senhora Sandra Cohen, é que os erros cometidos ao expor a situação econômica venezuelana não se limitam à edição do dia 15/04, mas tem sido sistemáticos e corriqueiros. Como parte do esforço de mostrar que o governo Chávez deixou uma “herança pesada”, a jornalista Janaína Figueiredo divulgou no dia 14/04 (“Chavismo joga seu futuro”) que em 1998 a indústria respondia por 63% da economia venezuelana, e caiu para 35% em 2012. Infelizmente, a reportagem comete o erro primário que o seu colega José Casado cometeu: não cita suas fontes. Em primeiro lugar, a informação dada pelo jornal é que a Venezuela era a economia mais industrializada do globo terrestre no ano de 1998. Veja bem: uma economia em que a indústria representa 63% do PIB é super-hiper-mega-industrializada, algo que sequer nos países desenvolvidos foi observado naquele ano, nem em qualquer outro. E a magnitude da queda seria digna de algo realmente patológico. Como trata-se de um caso de desindustrialização bastante severo, procurei satisfazer a minha curiosidade, fazendo algo bastante corriqueiro e básico em minha profissão (e, ao que tudo indica, o jornalista não fez): consultei os dados. Na página do Banco Central da Venezuela encontrei a desagregação do PIB por setor econômico e lá os dados eram diferentes: a indústria respondia por 17,3% do PIB em 1998, e passa a representar 14% em 2012. Uma queda importante, sem dúvida, mas algo muito distante da queda relatada por sua jornalista. Caso a senhora, por qualquer juízo de valor que faça dos dados oficiais venezuelanos, quiser procurar em outras fontes, sugiro novamente a Cepal, (Comissão Econômica para América Latina e Caribe). As proporções mudam um pouco (21% em 1998 contra 18% em 2007 – os dados por lá estão desatualizados), mas sem adquirir a mesma conotação trágica que a reportagem exibe. Em suma: os dados publicados na matéria estão totalmente errados.
O erro cometido é gravíssimo, mas não é o único. A reportagem ainda sugere que a Venezuela é fortemente dependente do petróleo, respondendo por 45% do PIB. Novamente, a jornalista não cita suas fontes. Na que eu consultei (o Banco Central da Venezuela), o setor petróleo respondia por 19% do PIB em 1998, contra pouco mais de 10% em 2012. Como a Senhora pode perceber, a economia venezuelana se diversificou. Não foi rumo à indústria, pois, como eu mesmo lhe mostrei no parágrafo acima, a participação desta última no PIB caiu. Mas, insisto, a dependência do petróleo DIMINUIU, e não aumentou como o jornal tem sistematicamente afirmado.
A edição de 13/04/2012, traz outros erros graves. Eu já falei anteriormente sobre os dados sobre déficit público apresentados pela matéria assinada pelo jornalista José Casado (“Onipresente Chávez”). A mesma matéria afirma que a participação do Estado venezuelano representa 44,3% do PIB. O conceito de “participação do Estado na economia” é algo bastante vago, e por isso era importante o jornalista utilizar alguma definição e citar a fonte – mas isto é algo, ao que tudo indica, O Globo não faz. Algumas aproximações para “participação do Estado na economia” podem ser utilizadas, e as mais usuais apresentam números distantes daqueles exibidos pelo jornalista: os gastos do governo equivaliam a 17,4% do PIB em 2010 (contra 13,5% em 1997) e a carga tributária em 2011 era de 23% (contra 21% em 2000), nada absurdamente fora dos padrões latino-americanos.
Enfim, no afã de mostrar uma economia em frangalhos, O Globo exibe números que simplesmente não correspondem à realidade da economia venezuelana. Veja bem: eu nem estou falando de interpretação dos dados, mas sim de dados equivocados!
Seria importante oferecer ao leitor de O Globo uma correção dessas informações – mas não na forma de errata ao pé de página, mas em uma reportagem que apresente ao leitor a economia venezuelana como ela é, e não o caos que O Globo gostaria que fosse.
E, por favor, nos próximos infográficos, exibam suas fontes.
Atenciosamente,
Victor Leonardo de Araujo
Fonte: Rede Democratica
Diante da manipulação da informação nos jornais da Rede Globo, como O Globo, sobre a situação econômica da Venezuela, depois da confirmação de que o candidato Nicolás Maduro, Partido Socialista Unido da Venezuela (Psuv) venceu a eleição no domingo (14), o professor de economia Victor Leonardo enviou carta ao impresso manifestando sua indignação. No domingo, uma onda de violência foi iniciada pela oposição.
Globo ataca governo venezuelano com dados manipulados
Prezada Senhora Sandra Cohen
Editora de Mundo de O Globo
Já é sabido que o jornal O Globo não nutre qualquer simpatia pelo governo do presidente venezuelano Hugo Chávez, e tem se esforçado a formar entre os seus leitores opinião contrária ao chavismo – por exemplo, entrevistando o candidato Henrique Caprilles sem oferecer ao leitor entrevista com o candidato Nicolás Maduro em igual espaço. Isto por si já é algo temerário, mas como eu não tenho a capacidade de modificar a linha editorial do jornal, resigno-me. O problema é que o jornal tem utilizado sistematicamente dados um tanto quanto estranhos na sua tarefa de formar a opinião do leitor. Sou professor de Economia da Universidade Federal Fluminense e, embora não seja “especialista” em América Latina, conheço alguns dados sobre a Venezuela e não poderia deixar de alertá-la quanto aos erros que têm sido sistematicamente cometidos.
Como parte do esforço de mostrar que o governo Chávez deixou a economia “em frangalhos”, o jornalista José Casado, em matéria publicada em 15/04/2013 (“Economia em frangalhos no caminho do vencedor”) informa que o déficit público em 2012 foi de 15% do PIB. Infelizmente, as fontes desta informação não aparecem na reportagem (apenas uma genérica referência a “dados oficiais e entidades privadas”!!!), uma falha primária que nem meus alunos não cometem mais em seus trabalhos. Segundo estimativas apresentadas para o ano de 2012 no “Balanço Preliminar das Economias da América Latina e Caribe”, da conceituada Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), o déficit foi de 3,8% do PIB, ligeiramente menor do que no ano anterior, mas muito inferior ao apresentado pelo jornal. Caso o jornalista queira construir a série histórica para os resultados fiscais para a Venezuela (e qualquer outro país do continente), pode consultar também as várias edições do “Estudio Económico” também da Cepal. Para poupar o seu trabalho: a Venezuela registrou superávit primário de 2002 a 2008: 1% do PIB; 2003: 0,3; 2004: 1,8; 2005: 4,6; 2006: 2,1; 2007: 4,5; 2008: 0,1; e déficit nos anos seguintes: 2009: -3,7% do PIB; 2010: -2,1; 2011: -1,8; 2012: -1,3. O déficit é decrescente, mas bem distante dos 15% do PIB publicados na matéria. Afirmar que o déficit público na Venezuela corresponde a 15% do PIB tem sido um erro recorrente, e também aparece na matéria intitulada “Onipresente Chávez”, publicada na véspera, também no caderno “Mundo” do jornal O Globo em 13/04/2013. A este propósito, tenho uma péssima informação a lhe dar: diante de um quadro fiscal tão saudével, o presidente Nicolás Maduro não precisará realizar ajuste fiscal recessivo, e terá condições de seguir com as políticas de seu antecessor.
A matéria do dia 15/04/2013 possui ainda outros erros graves. O primeiro é afirmar que existe hiperinflação na Venezuela, e crescente. Não há como negar que a inflação é um problema grave na Venezuela, mas O Globo não tem dispensado o tratamento adequado para informar os seus leitores. A inflação na Venezuela tem desacelerado: foi de 20% em 2012, contra 32% em 2008 (novamente utilizo os dados da Cepal). Tudo indica que o jornalista não possui conhecimento em Economia, pois a Venezuela não se enquadra em qualquer definição existente para hiperinflação – a mais comumente utilizada é de 50% ao mês; outras, mais qualitativas, definem hiperinflação a partir da perda da função de meio de troca da moeda doméstica, situações bem distantes do que ocorre na Venezuela.
Outro equívoco é afirmar que “não há divisas suficientes para pagar pelas importações”. A Venezuela acumula superávits comerciais e em transações correntes (recomendo que procure os dados - os encontrará facilmente na página da Cepal). Esta condição é algo estrutural, e a Venezuela é a única economia latino-americana que pode dar-se ao luxo de não precisar atrair fluxos de capitais na conta financeira para financiar suas importações de bens e serviços. Isto decorre exatamente das exportações de petróleo.
O problema, Senhora Sandra Cohen, é que os erros cometidos ao expor a situação econômica venezuelana não se limitam à edição do dia 15/04, mas tem sido sistemáticos e corriqueiros. Como parte do esforço de mostrar que o governo Chávez deixou uma “herança pesada”, a jornalista Janaína Figueiredo divulgou no dia 14/04 (“Chavismo joga seu futuro”) que em 1998 a indústria respondia por 63% da economia venezuelana, e caiu para 35% em 2012. Infelizmente, a reportagem comete o erro primário que o seu colega José Casado cometeu: não cita suas fontes. Em primeiro lugar, a informação dada pelo jornal é que a Venezuela era a economia mais industrializada do globo terrestre no ano de 1998. Veja bem: uma economia em que a indústria representa 63% do PIB é super-hiper-mega-industrializada, algo que sequer nos países desenvolvidos foi observado naquele ano, nem em qualquer outro. E a magnitude da queda seria digna de algo realmente patológico. Como trata-se de um caso de desindustrialização bastante severo, procurei satisfazer a minha curiosidade, fazendo algo bastante corriqueiro e básico em minha profissão (e, ao que tudo indica, o jornalista não fez): consultei os dados. Na página do Banco Central da Venezuela encontrei a desagregação do PIB por setor econômico e lá os dados eram diferentes: a indústria respondia por 17,3% do PIB em 1998, e passa a representar 14% em 2012. Uma queda importante, sem dúvida, mas algo muito distante da queda relatada por sua jornalista. Caso a senhora, por qualquer juízo de valor que faça dos dados oficiais venezuelanos, quiser procurar em outras fontes, sugiro novamente a Cepal, (Comissão Econômica para América Latina e Caribe). As proporções mudam um pouco (21% em 1998 contra 18% em 2007 – os dados por lá estão desatualizados), mas sem adquirir a mesma conotação trágica que a reportagem exibe. Em suma: os dados publicados na matéria estão totalmente errados.
O erro cometido é gravíssimo, mas não é o único. A reportagem ainda sugere que a Venezuela é fortemente dependente do petróleo, respondendo por 45% do PIB. Novamente, a jornalista não cita suas fontes. Na que eu consultei (o Banco Central da Venezuela), o setor petróleo respondia por 19% do PIB em 1998, contra pouco mais de 10% em 2012. Como a Senhora pode perceber, a economia venezuelana se diversificou. Não foi rumo à indústria, pois, como eu mesmo lhe mostrei no parágrafo acima, a participação desta última no PIB caiu. Mas, insisto, a dependência do petróleo DIMINUIU, e não aumentou como o jornal tem sistematicamente afirmado.
A edição de 13/04/2012, traz outros erros graves. Eu já falei anteriormente sobre os dados sobre déficit público apresentados pela matéria assinada pelo jornalista José Casado (“Onipresente Chávez”). A mesma matéria afirma que a participação do Estado venezuelano representa 44,3% do PIB. O conceito de “participação do Estado na economia” é algo bastante vago, e por isso era importante o jornalista utilizar alguma definição e citar a fonte – mas isto é algo, ao que tudo indica, O Globo não faz. Algumas aproximações para “participação do Estado na economia” podem ser utilizadas, e as mais usuais apresentam números distantes daqueles exibidos pelo jornalista: os gastos do governo equivaliam a 17,4% do PIB em 2010 (contra 13,5% em 1997) e a carga tributária em 2011 era de 23% (contra 21% em 2000), nada absurdamente fora dos padrões latino-americanos.
Enfim, no afã de mostrar uma economia em frangalhos, O Globo exibe números que simplesmente não correspondem à realidade da economia venezuelana. Veja bem: eu nem estou falando de interpretação dos dados, mas sim de dados equivocados!
Seria importante oferecer ao leitor de O Globo uma correção dessas informações – mas não na forma de errata ao pé de página, mas em uma reportagem que apresente ao leitor a economia venezuelana como ela é, e não o caos que O Globo gostaria que fosse.
E, por favor, nos próximos infográficos, exibam suas fontes.
Atenciosamente,
Victor Leonardo de Araujo
Fonte: Rede Democratica
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Leonardo Severo: Mídia privada faz “guerra psicológica” na Venezuela
publicado em 16 de abril de 2013 às 10:48 no Blog VIOMUNDO do Azenha
Venezuela com Maduro: Crianças jogam futebol, o vendedor de sapatos Guerman Varela e a estudante de Odontologia Débora Antequera felizes com a vitória. Fotos: Joka Madruga
por Leonardo Wexell Severo, de Caracas, no ComunicaSul
“Há uma guerra psicológica para a oposição apátrida, que serve aos interesses dos Estados Unidos. Eles escondem a comida para especular e falam em escassez de alimentos; eram os que entregavam o petróleo aos estrangeiros e agora falam em uso indevido dos recursos para as missões sociais. Nas urnas, elegendo Nicolás Maduro, o povo venezuelano reafirmou o caminho de Chávez pelos pobres e disse não aos bandidos e ladrões”.
A análise de German Varela sobre a vitória eleitoral de Nicolás Maduro para a presidência da República mais parece a de um sociólogo ou “politólogo”, como atualmente são chamados alguns analistas. Mas German, vendedor de sapatos na Feira Popular localizada próximo à estação Belas Artes do metrô, em Caracas, é um “filho da revolução bolivariana”. Um processo que, para ser vitorioso, apostou na formação política e ideológica de milhões de homens e mulheres.
Pelas ruas da capital venezuelana, em meio à estridente convocação do candidato oposicionista Henrique Capriles – com a sua parafernália midiática – para que a população não reconhecesse a derrota eleitoral, presenciamos nesta segunda-feira (15) de ressaca pós-eleitoral, a maior das naturalidades, com meninos jogando futebol, a simpatia dos habitantes e o trânsito caótico de sempre.
“OPOSIÇÃO SERVIL AO IMPERIALISMO”
Ao comparecer ao Conselho Nacional Eleitoral, onde foi declarado presidente eleito, Nicolás Maduro disse confiar na sabedoria popular ao não cair no jogo de uma “oposição servil ao imperialismo”.
Maduro avalia que o delírio golpista é próprio dos que são vítimas de uma “overdose de ódio e de vingança, dos que querem acabar com uma revolução que é símbolo de amor”.
Mas o ódio de Henrique Capriles à revolução bolivariana é proporcional à sua submissão aos EUA que, carente de petróleo, busca novamente tomar de assalto as maiores reservas provadas do “ouro negro” do mundo.
Assim como usou bombas contra o povo líbio e iraquiano, o império se utiliza do bombardeio midiático para se apropriar das imensas riquezas da Petróleos de Venezuela (PDVSA), colocada por Chávez em função dos interesses da nação. Os ativos da estatal alcançaram cerca de US$ 115,9 bilhões no final de 2012, com um incremento de 18% sobre 2011.
No total, os ativos mundiais da empresa somaram mais de US$ 218,42 bilhões, e cresceram cerca de US$ 36,27 bilhões em relação a 2011. Os rendimentos de 2012 foram de US$ 124,4 bilhões, o lucro bruto ficou em torno de US$ 28,8 bilhões e o lucro líquido atingiu US$ 4,2 bilhões. Projetando o futuro, os investimentos realizados pela PDVSA alcançaram mais de US$ 24,5 bilhões, com um aumento de 36% em relação a 2011.
É justamente esta injeção de recursos que vem possibilitando que o país trilhe o caminho do desenvolvimento ampliando conquistas e direitos. Conforme o coordenador Internacional da Central Bolivariana Socialista dos Trabalhadores da Cidade, do Campo e da Pesca da Venezuela (CBST), Jacobo Torres, em maio entrará em vigor a nova Lei Orgânica do Trabalho, que melhorará as condições de vida dos trabalhadores.
Entre outros avanços, o texto reduz a jornada para 40 horas semanais (a atual é de 44 horas), elimina a demissão sem justa causa, estabelece licenças de seis semanas prévias ao parto para as mulheres grávidas e outras 20 semanas depois de dar a luz.
PENSAR COM A PRÓPRIA CABEÇA
Ostentando um boné chavista do Partido Socialista Unificado da Venezuela (PSUV), German acredita que a revolução estimulou as pessoas a pensarem com a própria cabeça e que chegou a hora de, mais do que caminhar com os próprios pés, “acelerar na construção de uma nova sociedade”.
Cursando o segundo ano de odontologia, Débora Antequera considera que o principal legado de Chávez foi a “grande atenção que deu aos mais pobres, particularmente com as missões sociais”, por meio de investimentos na saúde e na educação públicas. Caminhando sorridente pelas ruas de Caracas, Débora explica porque a cidade foi eleita “capital da alegria”: “temos confiança e esperança num futuro melhor”.
Com 78 anos “bem vividos”, Henry Avendaño León, aposentado que começou a trabalhar no dia 27 de julho de 1954, lembra que “um dia depois, nasceu Chávez”. “Desde que o presidente assumiu, nunca deixou de nos assistir e isso é muito importante, porque prometer é diferente de cumprir. Chávez sempre cumpriu. Eu fiquei de 1995 a 1998 lutando sem nada e foi só com o triunfo da revolução que comecei a receber minha aposentadoria”, declarou.
Vendedor de camisetas e militante do Partido Comunista da Venezuela (PCV), Luiz Alvares avalia que o resultado eleitoral “reafirma a democracia, a participação e o protagonismo dos venezuelanos neste processo de mudanças rumo ao socialismo”.
Para Alvares, a vantagem de cerca de 2% dos votos de Maduro sobre o direitista Henrique Capriles se deveu a “uma espécie de triunfalismo”, uma “confiança” que acabou desmobilizando parte da militância. Agora, defende, “é o momento de radicalizar mais o processo e investir no fortalecimento político-ideológico da nossa condução para aumentar o nível de consciência do nosso povo”.
Ao mesmo tempo em que alguns países desenvolvidos estão promovendo a redução dos direitos sociais e trabalhistas, em maio entrará em vigor na Venezuela a nova Lei Orgânica do Trabalho, buscando melhorar as condições de vida dos trabalhadores. Empresas e estabelecimentos comerciais tiveram um ano de prazo para adaptar-se à nova norma, que substituirá a legislação vigente desde 1936.
Entre outros avanços, o texto estabelece uma jornada de 40 horas semanais (a atual é de 44 horas), elimina-se a demissão sem justificativa, constitui-se um Fundo Nacional de Prestações, se estabelecem licenças de seis semanas prévias ao parto para as mulheres grávidas e outras 20 semanas depois de dar a luz
Comerciante, Doris Alvarez disse que votou para “seguir adiante um processo que defendeu e continuará ampliando o direito das mulheres”.
“RESPOSTA CONTUNDENTE AOS GOLPISTAS”
Estudante de comunicação social na Universidade Bolivariana, Reni Marrero, pegou seu megafone e convocou amigos e simpatizantes para ir às ruas “defender o resultado apurado pelo Conselho Nacional Eleitoral”. “Esse é um ato de civismo e uma resposta contundente aos que querem desacatar a decisão das urnas divulgada pelo CNE, num processo eleitoral reconhecido internacionalmente, inclusive pelo Centro Carter, de referência para o mundo”.
Coordenadora de Políticas Especiais da Universidade Bolivariana da Venezuela (UBV), Jaqueline Romero, contesta os “monopólios privados de comunicação, que repetem há 14 anos a mesma ladainha em defesa dos milionários e de seus bens”. “Estou mobilizada em favor de Maduro porque este processo é das grandes maiorias contra a oligarquia e precisamos defendê-lo até com nossas vidas, se preciso for. Este foi o legado que nos deixou Chávez”, frisou.
Professora do programa de Formação Social da UBV, Yajaira Machado lembra que a revolução bolivariana utilizou os recursos do petróleo para fomentar o crescimento econômico com justiça social. “Na saúde, tudo era privatizado. Os trabalhadores não tinham direitos, o salário era muito baixo e muitas pessoas não tinham sequer o que comer. Hoje estamos caminhando rumo ao futuro. Infelizmente, o candidato da oposição não reconhece esses avanços e usa a mídia privada para nos enfraquecer. Mas a revolução segue ainda mais fortalecida”, sublinhou Yajaira.
Para o articulista Clodovaldo Hernandéz, ao escolher Nicolás Maduro para sua sucessão o presidente recém-falecido acertou, “inclusive na hora terrível de ditar as instruções a seguir logo após sua morte”. “Até desde esse presumível nada que significa a morte, ele é capaz de construir algo. Chávez soube ver o povo aonde outros viam um espaço vazio”.
Leia também:
Breno Altman: Os obstáculos diante do chavismo
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