domingo, 27 de janeiro de 2013
Nota de falecimento
 Leandro Fortes 
A reação formal do PSDB ao pronunciamento da presidenta Dilma Rousseff 
sobre a redução nos preços das tarifas de energia elétrica, em todo o 
país, é o momento mais lamentável do processo de ruptura histórica dos 
tucanos desde a fundação do partido, em junho de 1988.
A nota, assinada pelo presidente da sigla, deputado Sérgio Guerra, de 
Pernambuco, não vale sequer ser considerada pelo que contém, mas pelo 
que significa. Trata-se de um amontoado de ilações primárias baseadas 
quase que exclusivamente no ressentimento político e no desespero 
antecipado pelos danos eleitorais inevitáveis por conta da inacreditável
 opção por combater uma medida que vai aliviar o orçamento da população e
 estimular o setor produtivo nacional.
Neste aspecto, o deputado Guerra, despachante contumaz dessas virulentas
 notas oficiais do PSDB, apenas personaliza o ambiente de decadência 
instalado na oposição, para o qual contribuem lideranças do quilate do 
senador Agripino Maia, presidente do DEM, e o deputado Roberto Freire, 
do PPS. Sobre Maia, expoente de uma das mais tristes oligarquias 
políticas nordestinas, não é preciso dizer muito. É uma dessas tristes 
figuras gestadas na ditadura militar que sobreviveram às mudanças de 
ventos pulando de conchavo em conchavo, no melhor estilo sarneysista. 
Freire, ex-PCB, tansformou a si mesmo e ao PPS num simulacro cuja 
fachada política serve apenas de linha auxiliar ao pior da direita 
brasileira.
O PSDB surgiu como dissidência do PMDB que já na Assembleia Constituinte
 de 1986 caminhava para se tornar nisto que aí está, um conglomerado de 
políticos paroquiais vinculados a interesses difusos cujo protagonismo 
reside no volume, a despeito da qualidade de muitos que lá estão. A 
revoada dos tucanos parecia ser uma lufada de ar puro na prematuramente 
intoxicada Nova República de José Sarney. À frente do processo, um 
grande político brasileiro, Mário Covas, que não deixou herdeiros no 
partido. De certa forma, aquele PSDB nascido sob o signo da social 
democracia europeia, morreu junto com Covas, em 2001. Restaram espectros
 do nível de José Serra, Geraldo Alckmin e Álvaro Dias.
Aliás, o sonho tucano só não morreu próximo ao nascedouro, em 1992, 
porque Covas impediu, sabiamente, que o PSDB se agregasse ao moribundo 
governo de Fernando Collor de Mello, às vésperas do processo de 
impeachment. A mídia, em geral, nunca toca nesse assunto, mas foi o bom 
senso de Covas que barrou o movimento desastrado liderado por Fernando 
Henrique Cardoso, que pretendia jogar o PSDB na fossa sanitária do 
governo Collor em troca de assumir o cargo de ministro das Relações 
Exteriores. FHC, mais tarde chanceler e ministro da Fazenda de Itamar 
Franco, e presidente da República por dois mandatos, nunca teria chegado
 a subprefeito de Higienópolis se Covas não o tivesse impedido de aderir
 a Collor.
Fala-se muito da extinção do DEM, apesar do suspiro do carlismo em 
Salvador, mas essa agremiação dita “democrata” é um cadáver insepulto há
 muito tempo, sobre o qual se debruçam uns poucos reacionários leais. É 
no PSDB que as forças de direita e os conservadores em geral apostam 
suas fichas: há quadros melhores e, apesar de ser uma força política 
decadente, ainda se mantém firme em dois dos mais importantes estados da
 federação, São Paulo e Minas Gerais.
E é justamente por isso que a nota de Sérgio Guerra, um texto que parece
 ter sido escrito por um adolescente do ensino médio em pleno ataque 
hormonal de rebeldia, é, antes de tudo, um documento emblemático sobre o
 desespero político do PSDB e, por extensão, das forças de oposição.
Essas mesmas forças que acreditam na fantasia pura e simples do 
antipetismo, do antilulismo e em outros venenos que a mídia lhes dá como
 antídoto ao obsoletismo em que vivem, sem perceber que o mundo se 
estende muito além das vontades dos jornalões e da opinião de penas de 
aluguel que, na ânsia de reproduzir os humores do patrão, revelam apenas
 o inacreditável grau de descolamento da realidade em que vivem.
Leia mais em: Blog Sujo
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Globo elogia apagão de FHC e leitores da Folha pedem luz cara
* Originalmente publicado no Blog da Cidadania
O primeiro e o segundo maiores jornais do país, entre outros, continuam 
enveredando por um processo kamikaze em que se recusam a aceitar a 
derrota da tentativa que fizeram de criar, antes para Lula e agora para 
Dilma, um problema energético como o que se abateu sobre o Brasil 
durante o governo Fernando Henrique Cardoso, de triste memória.
Entre sexta e sábado, esses dois veículos publicaram textos literalmente
 surreais sobre o tal “racionamento” que depois reduziram para “apagão” e
 depois para “apaguinhos”, mas que terminou em desconto maior nas contas
 de luz. O Globo, em editorial, e a Folha de São Paulo, na sua seção de 
cartas de leitores, mostram uma direita à beira da histeria.
Comecemos por O Globo. Em editorial em que diz que Dilma “erra ao 
explorar energia como tema político” – veja só, leitor: quem explora 
politicamente o tema é… “Dilma”! – o jornal não se limita a tomar 
partido da oposição, como faz em qualquer assunto há pelo menos uma 
década. O Globo, acredite quem quiser, elogiou o racionamento de energia
 de 2001/2002.
Segundo a Wikipedia, porém, “A crise do apagão foi uma crise nacional ocorrida no Brasil que afetou o fornecimento e distribuição de energia elétrica” e que foi causada por “Falta
 de chuvas, que deixaram várias represas vazias, impossibilitando a 
geração de energia, e por falta de planejamento e investimentos em 
geração de energia”.
No tópico “causas” (do apagão), a Wikipedia elenca fatores que ninguém, 
absolutamente ninguém tem condições de negar, razão pela qual a tese 
explicativa sobre por que o país teve que racionar energia sobreviveu 
aos filtros políticos da “enciclopédia” eletrônica, que extirpam dela 
qualquer referência que não possa ser comprovada.
Conheça, abaixo, as causas, segundo a Wikipedia, para o Brasil ter tido 
que racionar energia elétrica durante cerca de oito meses.
—–
A crise ocorreu por uma soma de fatores: as poucas chuvas e a
 falta de planejamento e ausência de investimentos em geração e 
distribuição de energia.
Com a escassez de chuva, o nível de água dos reservatórios 
das hidroelétricas baixou e os brasileiros foram obrigados a racionar 
energia.
Após toda uma década sem investimentos na geração e 
distribuição de energia elétrica no Brasil, um racionamento de energia 
foi elaborado às pressas, na passagem de 2000 para 2001.
O governo FHC foi surpreendido pela necessidade urgente de 
cortar em 20% o consumo de eletricidade em quase todo o País (a região 
sul não participou do racionamento, tendo em vista que suas represas 
estavam cheias e houve retomada de investimentos no setor).
[FHC] Estipulou benefícios aos consumidores que cumprissem a
 meta e punições para quem não conseguisse reduzir seu consumo de luz.
No dia 7 de dezembro de 2001, felizmente choveu às catadupas e o racionamento pôde ser suspenso em 19 de fevereiro de 2002.
Não obstante, segundo os cálculos do ex-ministro Delfim 
Netto cada brasileiro perdeu R$ 320 com o apagão ocorrido no final do 
governo FHC.
Auditoria do 
Tribunal de Contas da União (TCU) publicada em 15 de julho de 2009 
mostrou que o apagão elétrico gerou um prejuízo ao Tesouro de R$ 45,2 
bilhões.
—–
Qualquer pessoa minimamente sensata concluirá que o Brasil passou por um
 problema terrível que torturou a população por absoluta falta de 
capacidade administrativa do governo de turno. Contudo, para o diário 
carioca O Globo, o autor do apagão merece elogios.
Leia, abaixo, trecho do editorial “Dilma erra ao explorar energia como tema político”.
“Desde as eleições gerais de 2002, ocorre esse tipo de 
exploração, pois o PT fez do racionamento um dos seus principais cavalos
 de batalha [sic], atribuindo à administração 
Fernando Henrique Cardoso inteira responsabilidade pelo que tinha 
acontecido (embora a mobilização da sociedade para evitar consequências 
mais drásticas de uma eventual escassez de energia elétrica possa ser 
apontada como uma das iniciativas mais positivas do governo FH ao fim de
 seu mandato)”
Só para refrescar sua memória, leitor, lembro que o racionamento tucano 
de energia previa pesadas multas para quem não reduzisse em 20% o 
consumo de energia em casa ou nas empresas e ameaçava com desligamento 
do fornecimento quem reincidisse no “crime” de “gastar” mais luz do que o
 permitido.
A despeito disso, o jornal diz que a “mobilização da sociedade” que, em 
verdade, foi fruto do medo de ficar nos escuro, constituiu-se em “uma 
das iniciativas mais positivas do governo FHC”. Ou seja: a falta de 
investimentos que causou tantos prejuízos à sociedade não foi negativa, 
foi positiva porque o ex-presidente teria feito toda uma nação, alegre e
 de mãos dadas, enveredar por um esforço cívico.
Enquanto isso, o mesmo jornal critica o desempenho energético dos 
sucessores de FHC, que, segundo o presidente da Empresa de Planejamento 
Energético (EPE), Maurício Tomalsquim, fizeram o país chegar, em fins de
 2011, com o Sistema Interligado Nacional (SIN) superando 105 mil MW, 
instalados em hidrelétricas (77%), termelétricas e fontes alternativas.
O número acima, isolado, não quer dizer muito sem a informação de que a 
demanda por energia, naquele ano, foi de 56.000 MW médios. Ou seja: os 
investimentos dos governos Lula e Dilma nos tiraram de uma situação em 
que só produzíamos 80% da energia de que precisávamos para uma situação 
em que produzimos quase o dobro de nossas necessidades.
Registre-se que O Globo faz cortesia para FHC com o chapéu alheio, ou 
seja, do povo, pois a economia compulsória que este teve que fazer não 
se deveu a FHC, mas às ameaças de represálias do governo tucano a quem 
não economizasse.
Todavia, mais engraçadas são as seções de cartas de leitores dos jornais
 oposicionistas. Na Folha de São Paulo, por exemplo, esses leitores, na 
contramão do sentimento nacional de júbilo com o forte alívio nas contas
 de luz, praticamente pedem que elas continuem caras, demonstrando amplo
 desconhecimento sobre a real situação energética do país.
Vale a pena ler e rir, já que chorar não adianta.
—–
Folha de São Paulo
26 de janeiro de 2013
Painel do Leitor
Energia
Atenção, presidenta Dilma, eu não quero desconto na conta de
 luz. Quero é ter luz todos os dias, o que já não acontece e só vai 
piorar se o seu governo sucatear as hidrelétricas para obter essa 
redução de tarifa. Já fico sem luz com demasiada frequência. Como será 
agora? Não sou pessimista nem do contra, só quero pagar para ter o que 
eu preciso.
FERNANDA MADUENO (São Paulo, SP)
*
Ao garantir energia elétrica a todos e com desconto, sem 
mostrar claramente como efetivar essa promessa, o governo parece estar 
fazendo “gambiarras” financeiras e “gatos” técnicos.
CARLOS GASPAR (São Paulo, SP)
—–
Não deve ter sido fácil a Folha encontrar essas duas peças raras que 
querem pagar mais caro pela energia elétrica. Uma delas, fica sem luz 
com freqüência. A tal senhora Fernanda por certo desconhece que quedas 
de energia que sofre devem ser cobradas do governo do Estado, que não 
fiscaliza o cabeamento pela cidade, que se rompe toda vez que chove.
Agora, o impressionante é que as únicas duas manifestações de leitores 
que a Folha publicou vêm de um microcosmo da sociedade que, ao contrário
 da quase totalidade dela, não deve ter onde enfiar seu rico dinheirinho
 e, portanto, quer doá-lo a concessionárias que cobram preços entre os 
mais altos do mundo justo no país com maior potencial de geração de 
energia.
Essa é a realidade paralela em que vive uma elitezinha minúscula, 
egoísta, pervertida, sonegadora, racista e, acima de tudo, golpista que 
infecta o Brasil. Eis por que insisto com a presidente Dilma que faculte
 às empresas geradoras e distribuidoras de energia elétrica poderem 
oferecer aos seus clientes a opção de pagarem mais caro pela energia.
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Sem racionamento
Em 2013 o setor elétrico deverá quebrar dois recordes: o da maior capacidade de geração e a maior extensão de redes instaladas em um ano no Brasil
Não há razão para se temer o desabastecimento de energia elétrica no 
país. Afinal, a atual situação de equilíbrio estrutural do sistema 
elétrico foi conquistada com a retomada do planejamento, a partir da 
instituição do Novo Modelo, em 2004. Vamos aos fatos.
Em fins de 2011, o Sistema Interligado Nacional (SIN) superou 105 mil 
MW, instalados em hidrelétricas (77%), termelétricas e fontes 
alternativas. Nesse ano, a carga atendida foi de 56.000 MW médios. Isto 
significa capacidade de geração suficiente para atender às necessidades 
do mercado.
Durante a maior parte do ano produzimos energia a partir da água, sem 
consumir combustível. Esta é uma excelente vantagem que temos em relação
 a outros países. Em tempos de pouca água, acionamos as termelétricas, 
de operação mais custosa porque funcionam à base de combustível fóssil.
No entanto, não existe almoço grátis. Não se pode querer ao mesmo tempo 
segurança de abastecimento, hidrelétricas sem reservatórios e, além 
disto, não pagar pelo despacho de termelétricas quando necessário.
De 2001 até 2011 foram instalados no SIN mais de 11.200 MW de 
termelétricas convencionais (não contando aí nuclear e biomassa). Um 
aumento de 223%!
No passado, a falta de planejamento levou ao racionamento em 2001 
justamente pela inexistência de termelétricas (e de outras fontes) em 
quantidade para atender à demanda quando não houve água suficiente.
Da capacidade instalada em 2001, as termelétricas convencionais 
representavam 7%; em 2011, este percentual superou 15%. A “correria” de 
2001 levou ao aluguel intempestivo, por pouco tempo, de termelétricas 
emergenciais, a diesel e óleo combustível, caras e poluidoras.
A partir do novo modelo, as termelétricas passaram a ser licitadas via leilão e com contratos de longo prazo e custos menores.
Na transmissão, a capacidade instalada cresceu 55% entre 2001 e 2011. 
Foram construídos, em média, 4.000 km de linhas por ano, contra a média 
anual de apenas 1.000 km antes de 2001.
Além disso, em 2001 sobrava energia na Região Sul do país. Por falta de 
planejamento e de investimentos em transmissão, essa energia não pôde 
ser enviada ao Sudeste. De lá para cá, a capacidade de intercâmbio de 
energia entre o Sul e o Sudeste aumentou 80% e os limites de 
transferência para o Nordeste ampliaram-se em 2,5 vezes.
Em 2013 o setor deverá quebrar dois recordes: o da maior capacidade de 
geração e a maior extensão de redes instaladas em um ano no Brasil. Até o
 final de dezembro está prevista a incorporação de 9.000 MW de 
capacidade nova de geração e de mais de 8.000 km de linhas de 
transmissão.
De 2004 para cá, o planejamento do setor elétrico é, sim, o responsável 
pelo crescimento da capacidade de geração, pelo aumento da potência 
termelétrica, pela forte inserção da biomassa e da energia eólica na 
matriz energética brasileira, pela expansão da transmissão e pelo 
atendimento adequado do consumo adicional. Enfim, pelo equilíbrio 
estrutural do mercado e pela sustentabilidade da matriz elétrica.
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