sexta-feira, 8 de março de 2013

Os que festejam a morte de Chávez

Por Altamiro Borges
Logo após o anúncio da morte de Hugo Chávez, um grupo de venezuelanos residentes nos EUA saiu às ruas de Doral, subúrbio de Miami, para festejar. No ato macabro, que evidencia todo o reacionarismo das elites, eles aplaudiram e esbravejaram contra o líder bolivariano. Segundo a agência Associated Press, eram poucas pessoas, mas com forte sentimento anti-Chávez. “Estamos festejando a abertura de uma nova porta, de esperança e transformações”, justificou Ana San Jorge, uma das manifestantes histéricas.
Miami possui a maior concentração de venezuelanos residentes nos EUA – cerca de 190 mil. Parte deles migrou para a cidade após as primeiras medidas de Hugo Chávez favoráveis aos setores mais excluídos do país e contra os privilégios dos ricaços. O próprio prefeito de Doral, Luigi Boria, é um venezuelano radicado nos EUA, filiado ao Partido Republicano e famoso por suas posições reacionárias. Ele participou da festa e afirmou que a morte de Hugo Chávez possibilitará que oposição oligárquica retome ao poder na Venezuela.
A festança da direita em Miami é a expressão do ódio de classe. Ela gerou indignação inclusive no escritor brasileiro Paulo Coelho, que enviou mensagem na sua conta no twitter: “¿Murió Hugo Chávez y hay gente que se alegra? La burla al dolor ajeno, sólo demuestra la pobreza y miseria humana”. Fora de Miami, nas redes sociais e nas redações de alguns veículos midiáticos do Brasil, outras figuras patéticas e elitistas também devem estar festejado a morte do líder bolivariano, que tanto medo causava aos ricaços.

FHC X FHC

Fernando Henrique Cardoso tem que tomar cuidado para não repetir a trajetória de Carlos Lacerda.
Paulo Nogueira - Diário do Centro do Mundo
FHC_TL_AEFernando Henrique Cardoso está diminuindo com o correr dos anos. Não na mesma velocidade de  José Serra, é certo, mas com constância.
Dona Rute faz falta? É possível. Talvez ela mitigasse a dificuldade com que a vaidade de FHC enfrenta a vantagem que Lula vai levando no combate pelo tamanho na história do Brasil diante da posteridade.
A despeito da mídia em seu ultraconservadorismo, forma-se um consenso segundo o qual entre FHC e Lula foi este último quem realmente inovou no combate ao que é claramente o maior mal do Brasil: a miséria, decorrente da abjeta distribuição de renda.
FHC acabou com a inflação, e isso é uma conquista gigantesca. Mas em políticas  sociais suas realizações foram pequenas, até porque ele estava cercado de economistas que as desprezavam.
Eram economistas profundamente influenciados pela Universidade de Chicago,  dominada pelas ideias do Nobel Milton Friedman, um economista de grande influência mundial nos anos entre os anos 1970 e 2000.
Friedman demonizava as políticas sociais como esmolas, e defendia um Estado mínimo e desregulamentado. Reagan, nos Estados Unidos, e Thatcher, na Inglaterra, foram os maiores propagandistas do ideário de Friedman.
Vista na época de FHC como uma receita infalível para fortalecer economias, a doutrina friedmaniana se revelaria, com os anos, um fracasso colossal. Ela está na origem da crise econômica mundial que castiga a humanidade desde 2007.
Um pequeno grupo se beneficiou do friedmanismo, o chamado 1% para usar a memorável expressão do Ocupe Wall St. E os 99% restantes, como dizia meu Tio Lau, se estreparam.
FHC é filho de seu tempo. Ele estava engaiolado, como era tão comum nos dias em que foi presidente, dentro da crença de que o friedmanismo era infalível. Nem os trabalhistas britânicos sob Tony Blair ousaram contestá-lo, e consequentemente se movimentaram para a direita.
Lula chegou em outro momento. No início da década de 2 000 o modelo de Friedman começava já a estertorar. A iniquidade social se revelou insustentável.  A maioria pilhada começou a protestar de forma cada vez mais intensa.
FHC não pecou lá para trás, porque o cenário era muito diferente.
Mas peca agora, ao não entender – ou ao fingir não entender – o mundo que está aí. E então ele parece querer ser maior que Lula no grito. Alinha-se ao conservadorismo nacional para tentar recriar o cínico  “Mar de Lama”  que tanto contribuiu para o suicídio de Getúlio Vargas, em 1954.
FHC fala agora em “crise moral”, como se não tivesse feito coisas como se outorgar por meios obscuros um segundo mandato não previsto na Constituição.
A direita gosta, naturalmente. Mas isso não impede que FHC vá se aproximando de Carlos Lacerda, o mentor celerado do “Mar de Lama”, e mais tarde um personagem central no golpe militar de 1964.
Lacerda foi para a lata de lixo da história, merecidamente. Faça uma estátua para ele e ela será prontamente esculachada.
FHC ainda tem chance de não repetir a trajetória de Lacerda. Mas tem que se mexer.