sábado, 14 de janeiro de 2012

Moradores de ocupação no interior de São Paulo prometem "resistir até a morte"

Os 10 mil moradores da ocupação Pinheirinho, localizada em São José dos Campos, prometem resistir até a morte à reintegração de posse da área, expedida pela juíza Márcia Loureiro. A repórter Lúcia Rodrigues está no acampamento e conversou com o coordenador geral da ocupação, Valdir Martins, o Marrom. O dirigente sem-teto está apreensivo com a possibilidade de invasão da área pela PM. Ele considera que pode ocorrer um "banho de sangue". Representantes dos governos federal, estadual e municipal, dos sem-teto e da igreja se reúnem na sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) da cidade para discutir a crise. O terreno, de 1,3 milhão de metros quadrados, pertence à massa falida do megaespeculador Naji Nahas.

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sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Protestos em Teresina seguem intensos e prefeito promete abrir diálogo

publicada sexta-feira, 13/01/2012 às 14:05 e atualizada sexta-feira, 13/01/2012 às 14:05


Por Juliana Sada
A cidade de Teresina, capital do Piauí, é palco de mais de dez dias consecutivos de protestos contra o aumento da passagem de ônibus e uma proposta de sistema de integração. O reajuste de R$1,90 para R$ 2,10 havia sido anunciado em agosto, mas uma semana de manifestações fizeram com que o prefeito Elmano Ferrer (PTB) recuasse e instalasse um processo de auditoria para avaliar a necessidade de aumento na tarifa.
Entretanto, a auditoria “não correspondeu aos anseios do movimento”, de acordo com o estudante de direito da Universidade Federal do Piauí Álvaro Feitosa e o advogado Lucas Vieira “ pois a metodologia empregada foi aquela determinada pelo SETUT (Sindicato das Empresas de Transporte Público de Teresina)”.
Finalizado o processo de auditoria e já no primeiro dia de 2012 o valor da passagem de ônibus foi reajustado e os protestos foram retomados. As manifestações compostas principalmente por estudantes foram persistentes e a polícia militar intensificou a repressão, que chegou ao auge na última terça-feira. Na tarde de ontem, dia 12, o prefeito anunciou que iria abrir um espaço de diálogo com o manifestantes mas nenhuma data foi anunciada.
O estudante de direito Álvaro Feitosa e o advogado Lucas Vieira conversaram, por e-mail, com o Escrevinhador e contaram como está a situação em Teresina.

Há denúncias de que na terça-feira houve uma violenta repressão aos manifestantes. O que aconteceu?
No dia 10 a repressão foi a mais violenta já que, segundo os portais da cidade, foi destacado um efetivo de cerca de 500 policiais militares para desobstruir a via que estava ocupada por cerca de 400 estudantes.

As cenas da desobstrução são bestiais, os estudantes foram massacrados pela Tropa de Choque, muita gente foi atingida por bala de borracha, e um estudante ficou ferido no olho.
Além disso, foram detidas 17 pessoas, incluindo três adolescentes, sendo que algumas foram liberadas no decorrer da noite, e outros oito maiores foram encaminhados para presídios da capital.Como está a situação dos presos?
Houve 17 detenções somente na quarta-feira, embora já tivéssemos acompanhado a detenção de outras 14 pessoas durante os demais dias, sendo que algum deles eram adolescentes. Todas as detenções de adolescentes, ressalte-se, não se procederam segundo o previsto no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), que seria o encaminhamento para a Delegacia de Proteção da Criança  e Adolescente.

Os primeiros detidos foram liberados sem tantos esforços, através das intervenções de advogados do Fórum e particulares. Logo se viu a partir do terceiro dia de manifestação que o procedimento da Delegacia (Central de Flagrantes) estaria obedecendo a ordens superiores, pois as ilegalidades e abusos estavam maiores. Na segunda-feira, sete manifestantes foram detidos, sendo dois adolescentes, e para aqueles fora decretada prisão com fiança arbitrada no valor de 414 reais para cada um! A autuação fora de dano qualificado, porém informações não oficiais nos foram dadas no sentido que seriam autuados também em desacato, resistência e, pasme, formação de quadrilha.

Ontem [10], chegou-se ao ápice da arbitrariedade. Como mostra diversos vídeos, a manifestação estava ocorrendo pacificamente quando a Polícia Militar e o RONE agrediram, brutalmente, os manifestantes. Dessa operação, 17 pessoas foram detidas. Ao longo da madrugada, conseguiu-se liberar os menores e mais seis pessoas, restando oito na Central de Flagrantes.
[Nota: Os oito manifestantes que estavam detidos foram libertados na tarde desta quinta-feira, após pagamento de fiança]
Há acusações de que a polícia esteja usando policiais à paisana que estariam marcando os principais líderes com uma caneta invisível a olho nu. É isso mesmo? Foi possível identificar quem seria o infiltrado?
Sim, os policias estavam com um equipamento, que até agora não temos detalhes de como funciona, que emitiria uma marcação nos ditos líderes do movimento, e que tal marcação somente poderia ser vista através de um óculos especial. Ainda, os policiais militares estavam munidos de câmeras profissionais e fotografavam todos os que estavam presentes dos atos públicos.

Outro ponto que é importante é o fato de que o SETUT, sindicato patronal, contratou uma empresa de segurança privada CETSEG (cujo dono é um coronel da PM) para “proteger” os ônibus, contudo, a mesma estava nas ruas agredindo manifestantes! Ainda, membros dessa verdadeira milícia estavam disfarçados entre os manifestantes incitando a violência e agredindo menores.
Outro fato que chama atenção é aquele que o movimento intitulou de “o infiltrado”: um sobrinho de um proprietário da empresa de ônibus Santa Cruz que estava disfarçado no meio da multidão, e se aproveitava da confusão para agredir estudantes. Aconteceu que, flagrado agredindo uma criança de sete anos de idade quase foi linchado pelos manifestantes, contudo, a PM escoltou o criminoso e recusou a efetuar a prisão em flagrante, num claro conluio entre a polícia militar e  SETUT.
Quais as principais reivindicações do movimento?
A principal reivindicação, a curto prazo, é a revogação do decreto que aumenta o valor da tarifa – ressalte-se que a população não teve acesso ao referido decreto, fazendo com que o Ministério Público solicitasse, via ofício, uma cópia do decreto.

Tendo como mote o aumento do valor da tarifa, os manifestantes reivindicam também melhores condições de uso: replanejamento das linhas, aquisição de novos ônibus, climatização dos mesmos, e, claro, uma verdadeira integração: através de terminais, sem limite temporal e sem limite de linhas integradas.
Mas a principal reivindicação é o estabelecimento de outro sistema de transporte público. As empresas de ônibus de Teresina operam, em flagrante inconstitucionalidade, pois desde 1973 não ocorre licitação para tal serviço.
Ocorre que, não é nas licitações que a maioria do movimento enxerga uma saída, e sim na municipalização do transporte público: ou seja a Prefeitura operar  diretamente o serviço – possibilidade totalmente viável, como aponta estudo já feito pela Comissão Jurídica em Defesa do Transporte Público.
A bandeira da municipalização ganha cada vez mais apoio do movimento, uma vez que no regime de concessão a base é o lucro, e Teresina (como as demais capitais) já sabe quais são os efeitos de tal tipo de sistema.
É notório a cada ilegalidade, abuso ou silêncio das instituições públicas, de como o SETUT tem enorme influência sobre todos os poderes do município (especialmente, executivo e legislativo).

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Movimentos chamam para Churrascão de Gente Diferenciada no sábado


Quase quatro mil pessoas confirmaram presença no Churrascão de Gente Diferenciada, na região da Luz, conhecida como cracolândia, onde usuários de crack consomem crack nas ruas, no sábado (14), a partir das 16h, na esquina das ruas Helvétia e Dino Bueno. O evento, segundo movimentos que organizam, é para dizer não a Operação Sufoco da Polícia e mostrar que o local pode ser ocupado de maneiras diferentes.

Desde o dia 3, a Operação Sufoco da Polícia Militar (PM), com apoio da Guarda Civil Metropolitana (GCM), está retirando de maneira agressiva essa população do bairro.

"Higienismo, preconceito, segregação, violência, intolerância, tortura, abuso de autoridade e mesmo suspeitas de assassinato passaram a ser ainda mais constantes nos dias e principalmente nas madrugadas do bairro", diz a convocatória do evento na página de uma das entidades organizadoras, a Desentorpecendo a Razão (DAR).

Elas pedem o fim de métodos que levam à dor e ao sofrimento dos usuários como explicou Luiz Alberto Chaves de Oliveira, coordenador de Políticas sobre Drogas. Ele apoia a operação que tem o objetivo trazer “dor e sofrimento” para os dependentes, forçando-os a buscar tratamento. "Fica claro, no entanto, que os seres humanos que ali freqüentam ou vivem são a última preocupação de nossos governantes, que sabem muito bem que questões de saúde nunca poderão ser resolvidas por uma das polícias mais assassinas do mundo.

A expressão usada para o churrascão, “gente diferenciada”, foi adotada pela primeira vez por uma moradora de Higienópolis, no início de 2011, ao descrever os “mendigos e drogados”, quando estava em discussão que a construção de uma estação de metrô naquele bairro de classe alta atrairia. Na ocasião, os movimentos socais organizaram o primeiro Churrascão de Gente Diferenciada, naquela região.

Agora, o nome é adotado para destacar que as pessoas na rotulada cracolândia é "gente como a gente". Mais informações na página do
facebook.

Segundo os organizadores, cerca de mil churrasqueiras estarão à disposição de quem for até o local. Está sendo realizada uma "vaquinha" para a compra  de carne, mas, a organização pede que os participantes também levem seus espetinhos prontos para assar. "Pode faltar para todos os presentes. Por isso, quem puder contribuir é bem vindo", declarou Roberta Marcondes Costa durante reunião dos movimentos que aconteceu na noite de quinta-feira (12), no Centro.

O Movimento Nacional da População de Rua é uma das entidades contra a intervenção da polícia na região. "Queremos que a Luz seja olhada como um local que precisa de uma polítca pública, não como uma cracolândia, um nome adotado pelo poder público para criminalizar os usuários, que têma poio de parte da população. Mas há pessoas que moram há 40 anos naquele bairro que lutam pela reurbanização do local. Não adianta criar a sala São Paulo se não oferece uma estrutura, segurança e serviços", disse Anderson Lopes Miranda.

Para quem for vítima ou testemunhar algum ato discriminatório ou que atente contra os direitos humanos, as entidades orientam formalizar uma denúncia no Disque 100, um canal de comunicação da Secretaria de Direitos Humanos, ligada à Presidência da República, criado especialmente para receber esse tipo de denúncia.

Grupo pretende construir novo programa para usuários

Um dos resultados da reunião de quarta-feira (11), na Câmara Municipal de São Paulo, das comissões de direitos humanos da Casa e também da Assembleia Legislativa (Alesp), que discutiu o assunto, é que a Câmara se torne um agente articulador dos poderes municipal, estadual e federal, e suas secretarias de Saúde, Assistência Social e Segurança Pública, na busca para uma solução integrada entre os diversos níveis de governo. Operadores do Direito como Judiciário, Ministério Público Estadual e Defensoria Pública também participarão da construção de um programa, juntamente com a socidade civil.

"A ideia é que após consultas feitas nas secretarias, seja elaborado um programa integrado, tendo como suporte os recursos humanos e materiais já existentes. Além disso, esperamos contar com o apoio das entidades civis que já atuam na região da cracolândia", explicou o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, vereador Jamil Murad (PCdoB).

Para ele, é preciso um programa de saúde pública mais humano, que "leve em conta todas as nuances da problemática". Ele ressaltou que há uma rejeição muito grande ao programa atual adotado pelos governos.

"Eu e muitos vereadores defendemos a interrupção do programa atual, que se baseia na dor e no sofrimento. É preciso ter como lema recomeçar quando falamos na reabilitação de usuários de droga. Os resultados são sempre parciais. Há indivíduos que se recuperam, há outros que é preciso mais tempo. As recaídas são recorrentes", completou Jamil.

SindGuarda oficializa denúncia na Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal

O diretor do Sindicato dos Guardas Civis Metropolitanos de São Paulo (SindGuarda), Clóvis Roberto Pereira, revelou instantes antes da reunião da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de São Paulo, na quarta-feira (11), que um contrato de gestão firmado entre a Secretaria Municipal de Segurança Urbana e os chefes das unidades da GCM obrigam os guardas a utilizarem medidas violentas contra moradores de rua.

"Tem uma ordem de serviço na corporação de que a cracolândia não pode mais ser chamada de cracolândia é Nova Luz. Então, estamos dando suporte nessa operação específica. Mas no cotidiano, tem uma orientação da secretaria para aquilo que eles chamam de circuito das autoridades, onde há equipamentos públicos como Tribunal de Justiça,onde passam autoridades, não podem ficar pessoas em situação de rua", justificou o guarda, que teme represália por parte da administração.

Segundo ele, não há nada por escrito que confirme a obrigatoriedade de usar métodos violentes como gás de pimenta, cacetete ou jato d’água, mas confirmou que todo meio necessário para retirar a população de rua de determinado local é empregado.

A secretaria municipal rebate a acusação, afirmando que a GCM atua dentro da lei, seguindo normas de procedimento como integrante da Rede de Proteção Social e do Sistema de Segurança. Além disso, segue diretrizes de proteção espacial, com base em indicadores e referêcias territoriais.

Denúncias sobre a atuação da guarda e desvio de conduta podem ser feitas na Corregedoria, pelo telefone 3149-3804 ou pela Ouvidoria 0800 – 7700263.

De São Paulo,
Deborah Moreira

colaborou Carla Santos

Só o Afeto Cura

Ex-moradores da região da Luz, no centro de São Paulo, conhecida como "cracolândia", criticam as ações da prefeitura e do governo estadual contra usuários de drogas. Reunidos nesta terça-feira (10) na Casa de Oração do Povo de Rua, eles cobraram um tratamento humano para os adictos e afirmaram, baseados nas próprias experiências, que o caminho para superar o problema não passa pela violência, mas pelo afeto.
“Não é tratando a gente que nem lixo que resolve”, disse Marina, que deixou a cracolândia há 15 dias para começar um processo para se livrar do vício em crack. Ela conta que estava “muito louca” e não conseguia sair “daquele inferno”, mas pôde superar as dificuldades quando lhe ofereceram carinho. Ela reside agora em uma das casas de acolhida da Missão Belém, da Igreja Católica paulistana.
Os depoimentos, organizados pelo padre Júlio Lancelotti, da Pastoral do Povo de Rua, coincidiram em indicar que se trata de um equívoco a postura ofensiva desencadeada na primeira semana do ano pelo governador paulista, Geraldo Alckmin, e pelo prefeito da capital, Gilberto Kassab. Para os antigos moradores, a repressão comandada pela Polícia Militar fará a cracolândia simplesmente se deslocar de lugar, sem que seja verdadeiramente resolvido o problema de fundo.

“De onde chega a droga?”, indagou o padre Rogério Valadares, da Aliança de Misericórdia, que trabalha há dez anos na acolhida a usuários. “O que recupera não é remédio, não é clínica de recuperação. É o amor. É quando a pessoa redescobre o sentido da vida.”
Os ex-moradores da região acrescentaram que é um erro imaginar que um usuário de droga é uma pessoa “sem noção”, como dizem alguns agentes públicos, e indicaram que é preciso tratá-los com respeito e como pessoas conscientes. Padre Júlio apontou que existe necessidade de transmitir confiança para quem está em situação de adicção, e deixar de atuar como a Polícia Militar e a Guarda Civil Metropolitana. Ele acredita que os governos municipal e estadual cederam à tentação da solução imediata, que, na visão do líder religioso, não existe.
O padre vê sadismo no nome da intervenção, batizada pela prefeitura de Operação Sufoco, e cobra a abertura de centros de atendimento que funcionem durante todo o dia. “O problema não é matemático. O problema é humano. A solução não é de uma fórmula, é de uma postura”, cobra. “Não é mágica. Não temos solução para tudo, mas temos um caminho seguro”, afirmou padre Júlio.
A Polícia Militar argumenta que precisa usar táticas agressivas para “quebrar” o abastecimento da cracolândia. As ações dos últimos dias incluíram uso de disparos de balas de borracha, bombas de gás lacrimogêneo e cassetetes. A corporação fala em uma estratégia de “dor e sofrimento” para mudar a região, que responde pelo principal plano urbanístico da gestão Kassab, o Nova Luz, que promete poder transformar a região com a concessão a empresas privadas do setor de construção de prerrogativas de desapropriações e outras intervenções.
Em entrevista coletiva concedida nesta semana, os comandantes da ação da prefeitura e do governo estadual indicaram que, dentro de um mês, começam a ser abertos os centros de assistência social no bairro. Em  60 dias, os de saúde passarão a funcionar, ainda segundo as fontes oficiais.

Recuperação

“Em vez de dor e sofrimento, precisa de paz e alegria”, diz Gilson, hoje com 35 anos, que morou no local durante seis e está há doze longe das drogas. Ele cursa o terceiro ano da Faculdade de Teologia e trabalha nas missões que retiram os usuários das ruas. A história de Gilson começou a mudar após uma madrugada fria em que alguém lhe colocou a mão no ombro e disse que lhe amava. 
“É uma prática de exorcismo muito forte alguém te abraçar e dizer que te ama”, reconhece Paulinho, que começou a beber aos 12 e foi viciado em cocaína entre os 17 e os 23. “Era músico, tinha plano de ser famoso, mas me frustrei com aquela vida. Estava a um passo de me abandonar de uma vez.” 
Pitter, que passou de usuário a traficante, ficou preso durante pouco mais de um ano. “Quando saí, achei que precisava recuperar o tempo perdido. Voltei para o tráfico”. Passou mais seis meses perambulando, a ponto de a família dá-lo como morto. Um dia, enfim, decidiu que tinha de mudar. Arrumou emprego e avisou os parentes. “O que me ajudou foi o carinho que minha família teve por mim. Se não fosse por isso, hoje estaria morto, com certeza.”
Gumercindo, hoje com 43 anos, passou mais de uma década e meia na cadeia e como dependente químico e morou cinco anos na cracolândia. Ele saiu de casa aos 13, cansado da violência praticada pelo pai contra a mãe. Ele aceitou ir para a casa de acolhida em Jacareí, no interior paulista, só para “engordar”, ou seja, para ter condição física de voltar para a rua, mas acabou mudando de ideia no meio do caminho. “Um dia, me abraçaram do jeito que eu estava. Dias sem tomar banho, o cabelo comprido. Aquilo foi me tocando. Eu me senti sendo gerado novamente”, relata. “Senti que tinha de doar a minha vida”, diz. Hoje, retira usuários da cracolândia que queiram receber ajuda. 
“Ter de fazer alguma coisa não significa fazer qualquer coisa. E não significa fazer a pior coisa”, complementa Júlio Lancelotti. “Não estamos pregando o messianismo. Estamos testemunhando que essas pessoas têm de descobrir um valor que as preencha. A violência não é a solução.”

Amaury Jr.: CPI da Privataria mostrará 'roubalheira geral'



Autor de um dos livros brasileiros mais vendidos em dezembro de 2011 e janeiro deste ano, o jornalista mineiro Amaury Ribeiro Júnior afirmou que vê com naturalidade a reação do ex-governador José Serra (PSDB) ao conteúdo de A Privataria Tucana. Para ele, quando a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as privatizações promovidas durante a década de 1990 for instalada na Câmara Federal, o tucano terá revelado seu lado "autoritário" e blindado pela mídia.

A Privataria Tucana apresenta indícios claros, a partir de documentos públicos ou obtidos legalmente, de um esquema bilionário de fraudes no processo de privatização de estatais durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. Serra, que era o ministro do Planejamento, gestor do processo, tem parentes e pessoas próximas acusadas de envolvimento com movimentações de contas em paraísos fiscais, além de operações de lavagem de dinheiro.

O jornalista acusa ainda o ex-caixa de campanha do PSDB e ex-diretor da área internacional do Banco do Brasil Ricardo Sérgio de Oliveira de ter atuado como "artesão" da construção de consórcios de privatização em troca de propinas.

O pedido de CPI da Privataria foi protocolado pelo deputado federal Delegado Protógenes Queiroz (PCdoB-SP) em dezembro, com 185 assinaturas, 14 a mais do que o mínimo exigido para abertura da comissão na Câmara. Ele obteve o compromisso do presidente da Casa, deputado Marco Maia (PT-RS) de que haveria encaminhamento da demanda em fevereiro, após o recesso parlamentar de fim de ano.

Serra chegou a chamar o livro de "lixo" e, mais recentemente, disse também que a CPI para investigar as revelações presentes no documento não passava de uma "palhaçada". Ribeiro Júnior disse receber as manifestações sem surpresa, mas retrucou afirmando que o ex-governador é "um cara autoritário", e que isso se deve à misteriosa blindagem que a mídia mantém em torno dele.


"Ele (Serra) está tentando me desqualificar porque não tem como explicar as coisas que estão lá (no livro), porque são inexplicáveis. Ele tenta usar outros caminhos para se defender", avalia. "Embora utilize um discurso democrático, ele não sabe tratar as pessoas, não sabe lidar com (críticas feitas por) jornalista”, criticou Ribeiro Júnior.

Ribeiro ainda enxergou com bons olhos a investigação que será realizada pela CPI, que, segundo ele, "servirá para aprofundar os trabalhos, trazer fatos novos". O autor acredita que com uma apuração mais aprofundada, utilizando-se todos os instrumentos legais de uma CPI, muita novidade irá surgir.

"(A CPI) Vai mostrar que a coisa foi muito maior. Vai mostrar que foi uma roubalheira geral, que foi só para enriquecer pessoas mesmo, e que o patrimônio do Brasil foi dilapidado para enriquecer pessoas ligadas ao tucanato. Com certeza vai chegar a valores assustadores e nomes grandes", previu.

O jornalista também alertou para possíveis tentativas da velha mídia de tentar abafar os trabalhos da CPI. "Com certeza eles vão tentar esconder, como fizeram na época do Banestado. Eles não vão destacar porque muitos desses órgãos de comunicação se beneficiaram das privatizações."

Mais denúncias

Ribeiro relatou que está trabalhando em três outras grandes reportagens, que podem render material para novos livros. “Esse ano ainda vou soltar outro livro, mas vamos decidir qual será a prioridade”, falou. Sem revelar os conteúdos, o autor adiantou que um deles trata das artimanhas de uma mineradora para "fraudar o pagamento de royalties."

Fonte: Rede Brasil Atual

Folha e Estadão omitem explicações do ministro


Vou reiterar pela enésima vez: não boto a mão no fogo por nenhum político brasileiro. Não sou nenhum cínico, como Noblat, mas não quero ser um ingênuo. E até acho que é saudável, nas atuais circunstâncias, em que o governo possui esmagadora maioria no Congresso, termos uma imprensa visceralmente de oposição, porque isso permite a existência de um constante embate político. Atrapalha às vezes o andamento administrativo, visto que ministros são obrigados a interromper seu trabalho para responder questionamentos nem sempre pertinentes, mas oxigena a democracia.

 
No médio e longo prazo, como a história recente já provou, essa realidade permite à situação exercitar-se e desenvolver-se politicamente. Cada crise ministerial corresponde a uma mini-eleição, em virtude dos duros embates que promove. Com isso, a centro-esquerda se mantém esbelta, ativa e musculosa, enquanto os caciques da direita, mimados pela imprensa, que os blinda com ferocidade, permanecem obesos, preguiçosos e fracos.
O que me incomoda realmente é ver a imprensa omitir informações, uma das táticas de manipulação da notícia mais odientas. Por exemplo, ontem o ministro Fernando Bezerra foi ao Congresso se explicar. O presidente do Senado, José Sarney, deu a primeira palavra à oposição, e permitiu um revezamento entre governo e oposição durante as primeiras horas, mesmo esta última sendo absolutamente minoritária.

Bezerra falou sobre as acusações de nepotismo. Esse é o ponto onde quero chegar. Apenas o Globo reproduziu (no final da matéria, como que a contragosto) a explicação do ministro sobre o tema:

 
O líder tucano também questionou sobre nepotismo envolvendo o irmão Clementino Coelho, na Codevasf (estatal ligada à Integração Nacional), o sogro de seu filho, o deputado Fernando Coelho, e a nora, em Suape.

- Antonio de Pádua Kherle, sogro de meu filho, foi nomeado coordenador regional do Dnocs em 2010, e o casamento só aconteceu em julho de 2011. E quem fez a indicação foi o deputado Pedro Eugênio, do PT. Minha nora é outro absurdo! Quando foi contratada em 2007, nem conhecia meu filho – defendeu-se Bezerra, repetindo, sobre o caso do irmão, que foi o Planalto que demorou em efetivar o novo presidente da Codevasf.

Eu acho que a Folha, depois de publicar infográficos onde o ministro aparece rodeado de “parentes” (uso aspas porque pai ou tio de esposa de filho não é parente de verdade; se a lei do nepotismo fosse tão fundo, tornaria o político um pária social, do qual todos quereriam distância para não serem vetados no serviço público), deveria ter a decência de, no mínimo, reproduzir a explicação do ministro. Até para confirmar a informação posteriormente. Várias pessoas tiveram seus nomes enlameados injustamente. Não o faz. O Estadão, idem.

 
Isso é estranho, omitir a informação. Agindo assim, a chamada velha mídia apenas prejudica a si mesma, levando as pessoas a procurarem fontes de informação mais completas. Bom para nós, blogueiros. E aí chegamos a uma conclusão interessante, que revela o quanto a vida e a política são dialéticas. Quanto mais a imprensa se degrada, mais espaço ganham os blogs, de maneira que a decadência da mídia, no momento em que estimula a demanda por fontes alternativas, também faz bem à democracia. O mal engendra o bem, para lembrar o conhecido princípio mefistofélico…

Inscrições no ProUni começam neste sábado


Agência Brasil

As inscrições no Programa Universidade para Todos (ProUni) começam amanhã (14) e vão até o dia 19 de janeiro na página http://siteprouni.mec.gov.br.
O candidato deve ter feito o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2011 e obtido nota mínima de 400 pontos. Também é necessário que o estudante tenha cursado o ensino médio em escola pública.
Caso o candidato tenha passado tanto por instituições públicas quanto privadas, é necessário provar que teve bolsa integral para cursar o ensino particular.
Serão oferecidas 195 mil bolsas, sendo 98 mil integrais e 96 mil parciais, que custeiam 50% da mensalidade. As bolsas integrais contemplarão os candidatos que tenham renda inferior a um salário mínimo e meio (R$ 933). Para quem tem renda até três salários mínimos (R$ 1.866), podem ser concedidas bolsas de 25% a 50%.

Conselhos Estaduais de Comunicação: a Bahia inaugura uma nova etapa

O Conversa Afiada reproduz artigo do professor Venício Lima sobre o gesto pioneiro da Bahia: fundou a primeira Comissão Estadual de Comunicação, para garantir a liberdade de expressão aos baianos.

A Casa Grande começa a pegar fogo !


Conselhos Estaduais de Comunicação: a Bahia inaugura uma nova etapa

O setor de comunicações inicia 2012 fazendo história (com H maiúsculo). No dia 10 de janeiro, tomou posse o primeiro Conselho Estadual de Comunicação Social (CECS) brasileiro no estado da Bahia. Espera-se que a Bahia sirva de exemplo para os demais Estados. No Rio Grande do Sul, processo está em estágio avançado.

Venício Lima

O setor de comunicações inicia 2012 fazendo História (com H maiúsculo).

Criado pelo artigo 277 da Constituição Estadual (1989) e regulado pela Lei n. 12.212 de 4 de maio de 2011, tomou posse o primeiro Conselho Estadual de Comunicação Social (CECS) brasileiro no estado da Bahia, em solenidade no auditório do Ministério Público de Salvador, no último dia 10 de janeiro, [cf. “A Bahia sai na frente” e ver abaixo relação completa dos membros titulares e suplentes].

A instalação do primeiro CECS na Bahia, não deixa de conter certa ironia. O estado tem servido de exemplo histórico pelo acasalamento de oligarquias políticas tradicionais com grupos dominantes da mídia regional e nacional. Um dos maiores emblemas do “coronelismo eletrônico” continua sendo o ex-governador, ex-senador e ex-ministro das Comunicações, o já falecido baiano Antonio Carlos Magalhães.

Apesar disso – ou por causa disso – a Bahia foi pioneira na inclusão do CECS em sua Constituição Estadual (CE) em 1989. Dezenove anos depois, com ampla mobilização da sociedade civil, realizou sua 1ª. Conferência Estadual de Comunicação e definiu a regulamentação do artigo 227 como prioridade. Uma 2ª. Conferência Estadual foi realizada em 2009 e no início de 2012 o CECS-BA se torna realidade, quase 23 anos depois da promulgação da CE.

Abismo crescente

A tímida e enviesada repercussão do fato na mídia regional e nacional só confirma o abismo crescente entre a os grupos tradicionais da velha mídia e a imensa maioria da sociedade brasileira. Acostumados ao quase-monopólio de pautar a agenda pública e a influir decisivamente nas políticas nacionais e regionais do setor, resistem em perceber que o país mudou. E mais: fingem não compreender algumas das conseqüências do verdadeiro tsunami tecnológico expresso na internet, nos celulares e nas diferentes redes sociais virtuais que atinge as comunicações.

A inclusão da própria mídia entre os temas de debate público e a demanda por participação da sociedade organizada na formulação e acompanhamento das políticas do setor – como já ocorre em outros campos de direitos humanos fundamentais – é uma dessas conseqüências.

Exemplo a seguir

O funcionamento do CECS-BA, por óbvio, gera uma enorme expectativa.

Ele estará sendo rigorosamente observado pelos grupos de mídia dominantes que, apesar de parecer ignorá-lo, apostam no seu fracasso. Esperam confirmar a tese de que se trata de uma tentativa disfarçada de partidos e políticos “autoritários” para “controlar” a imprensa e institucionalizar a censura. Por outro lado, ele terá a oportunidade histórica de mostrar que a participação democrática da sociedade na gestão das políticas públicas de comunicações constitui, na verdade, uma garantia para a universalização da liberdade de expressão no caminho da positivação do direito à comunicação.


O funcionamento do CECS-BA também demonstrará que parte do empresariado do setor de comunicações da Bahia – aquela que participou de sua construção e que está nele representada – já se deu conta de que o diálogo e a negociação constituem instrumentos básicos para atender ao interesse público nas sociedades democráticas.
Ademais, espera-se, que o exemplo da Bahia seja finalmente seguido nas demais unidades da federação [cf. “CECS: Onde estamos e para onde vamos” ].
Primeiro naqueles estados – como a própria Bahia – governados por alianças lideradas pelo PT. O partido aprovou a recomendação de criação dos conselhos estaduais de comunicação em Congresso Nacional realizado em setembro de 2011. Agora é, portanto, a hora dos governos do Acre, do Distrito Federal, do Rio Grande do Sul e de Sergipe criarem as condições para a criação dos CECS [registre-se que este processo encontra-se avançado no Rio Grande do Sul].
Segundo, nos estados cujas Constituições já prevêem a criação e instalação dos CECS. Mais de duas décadas já se passaram desde a adaptação das Constituições Estaduais à Constituição Federal de 1988. Não há mais o que esperar.
Terceiro, naqueles estados que não incluíram os CECS em suas constituições. Basta uma iniciativa do legislativo para que as Assembléias estaduais tenham a oportunidade de corrigir a omissão.
Por fim, espera-se que a Bahia sirva também de exemplo ao Congresso Nacional que desde 2006 ignora a Constituição Federal e a Lei e boicota o funcionamento do Conselho de Comunicação Social previsto no artigo 224 [cf. “Cinco anos de ilegalidade”]


Tarefas e esperanças

Como todo avanço político, o processo de construção do CECS-BA teve que percorrer um longo caminho, repleto de dificuldades e desencontros. O seu funcionamento comprovará – ou não – o acerto de decisões tomadas e, claro, indicará as correções de rumo que se fizerem necessárias.


Por Lei o CECS-BA terá “caráter consultivo e deliberativo sobre sua finalidade de formular a Política Estadual de Comunicação Social, observados a competência que lhe confere o art. 277 da Constituição do Estado da Bahia e o disposto na Constituição Federal, reconhecida a comunicação social como um serviço público e um direito humano e fundamental”. Não é pouco.


O CECS-BA deverá, acima de tudo, comprovar que a participação institucionalizada de diferentes setores da sociedade, junto ao Estado, na formulação e acompanhamento das políticas públicas estaduais de comunicação social constitui um avanço fundamental para a consolidação democrática em nosso país.


MEMBROS DO CONSELHO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DA BAHIA

A. Representantes do Governo

Secretaria de Comunicação Social (2)

Secretaria de Cultura

Secretaria da Educação

Secretaria de Ciência e Tecnologia e Inovação

Secretaria da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos

Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia – IRDEB

B. Representantes da Sociedade Civil

B.1 Titulares:

Entidade profissional de classe: Associação Baiana de Imprensa

Universidades públicas com atuação no estado da Bahia: Faculdade de Comunicação – UFBA

Segmento de televisão aberta e por assinatura comercial: TV Aratu

Representante titular do segmento de radio comercial: Grupo Tucano de Comunicação Ltda.

Empresas de jornais e revistas: Empresa Editora A Tarde S.A

Agências de publicidade: Rocha Propaganda e Marketing LTDA

Empresas de telecomunicação: SINDITELEBRASIL

Empresas de mídia exterior: Sindicato das Empresas de Publicidade Exterior do Estado da Bahia/SEPEX – URANUS 2

Produtoras de audiovisual ou serviços de comunicação: RX 30 Produtora Ltda.

Movimento de radiodifusão comunitária: Radio Comunitária Santa Luz Ltda.

Entidades de classe dos trabalhadores do segmento de comunicação social: SINJORBA

Veículos comunitários ou alternativos: Associação Vermelho

Organizações Não-Governamentais ou entidades sociais vinculadas à comunicação (3): Cipó Comunicação Interativa, Intervozes Coletivo Brasil de Comunicação Social e Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé

Movimentos sociais de comunicação: Associação Renascer Mulher

Representante de entidades de movimentos sociais-organizados (3): União Brasileira da Mulher, Central dos Trabalhadores do Brasil–CTB, e o SINTERP

Entidades de jornalismo digital: A S2R Comunicação Ltda.– Bahia Notícias

B.2 Suplentes:

Entidade profissional de classe: OAB – Seção Bahia.

Universidades públicas com atuação no Estado da Bahia: Universidade do Estado da Bahia-UNEB.

Segmento de televisão aberta e por assinatura comercial: TV Itabuna.

Segmento de rádio comercial: Tudo FM Ltda.

Empresas de jornais e revistas: Jornal Folha do Estado.

Agências de publicidade: CCA Comunicação Propaganda.

Empresas de telecomunicação: SINDTELEBRASIL.

Empresas de mídia exterior: Central de Outdoor.

Produtoras de audiovisual ou serviços de comunicação: Malagueta Cinema e Vídeo.

Movimento de radiodifusão comunitária: Abraço.

Entidades de classe dos trabalhadores do segmento de comunicação social: SINTTEL.

Veículos comunitários ou alternativos: Instituto Cultural Nego D’Água.


Organizações Não-Governamentais ou entidades sociais vinculadas à comunicação: UNEGRO, IDESAB e a ARCCA.

Movimentos sociais de comunicação: FNDC.

Entidades de movimentos sociais organizados: CUT, UJS e FETAG-BA.

Entidades de jornalismo digital: Notícias do Sertão.

Venício A. de Lima é Professor Titular de Ciência Política e Comunicação da UnB (aposentado) e autor, dentre outros, de Regulação das Comunicações – História, poder e direitos, Editora Paulus, 2011.

Sobre a classe média e os intelectuais


Ontem, a presidenta Dilma Rousseff disse, na solenidade do lançamento de um programa de construção de 100 mil moradias em São Paulo – para pessoas com renda de até R$ 1,6 mil, com 75% de recursos da União e 25% do Estado – que “não queremos um país de milionários e de pobres e miseráveis, como existe em  muitas grandes nações. Queremos, sobretudo, um país de classe média”.
Também ontem, o principal assessor econômico de Barack Obama, Alan Krueger, afirmou que, nos EUA, a classe média “encolheu” e  que isso está “causando uma divisão negativa das oportunidades e é uma ameaça ao nosso crescimento econômico”.
Um pesquisa do Pew Research Center, reproduzida pela coluna Radar Econômico do Estadão, mostra que se acentuou ”o conflito entre ricos e pobres na sociedade” norte-americana, que seria percebido como “forte ou muito forte”. Na sociedade do “mérito e esforço pessoal”, cada vez mais pessoas acreditam que a riqueza é feita pela origem, não pelo trabalho.
“Segundo a pesquisa, 46% da população acredita que, nos EUA, a maior parte dos ricos o são “porque conhece as pessoas certas ou nasceu em família rica”; já 43% avaliam que as pessoas enriquecem “por causa de trabalho duro, ambição e educação”. O restante dos entrevistados acredita que a ascensão social ocorre pelos dois motivos ou por nenhum deles”.
Nós, brasileiros, sabemos quanto custa, depois de fixada, esta visão da “esperteza” como única alternativa para a “herança”. E como isso é um veneno para a formação intelectual de gerações que passam a ver nos “truques”, na exposição física-sensualidade-sexualidade a forma de reconhecimento, a enxergar na própria educação apenas um valor mercantil para sua capacidade de “vender-se” ao (ou no) mercado.
O grande processo de inclusão social vivido pelo Brasil a partir dos anos 30, com a urbanização da população, o reconhecimento do trabalho como fato gerador de direitos, a expansão dos meios de comunicação (o rádio, depois a TV e a massificação dos jornais impressos) .
Hoje, vivemos um momento parecido àquele, com a expansão de nossa classe média e, portanto, do contingente com padrões de sobrevivência minimamente necessários para a aquisição de bens não apenas materiais, mas também culturais.
Desafortunadamente, porém, não temos contado com uma elite cultural atenta a este processo de inclusão. E, ausente ela, não dá para esperar coisa alguma da mídia que não seja a mediocridade que assistimos.
Não se pode culpar o povo pelas novelas e pelos BBB. Consomem o que “o mercado” fornece, sob a complacência de uma intelectualidade preguiçosa e rendida à “realidade do mercado”, que considera “moderno” esquecer que é deste processo que pode emergir uma nova camada de pensamento humano, generosa e prolífica, como a que, flor brotada daquele processo de inclusão, emergiu no Brasil dos anos 50 aos 70. Tão forte, tão lúcida, tão generosa que uma ditadura não a venceu, senão depois de tanto tempo que a fez cansada e estéril  na democracia.

Lula libera PT para aliança com Kassab em São Paulo

Por Agência Estado
13 de Janeiro de 2012 às 20:30 Agência Estado
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva transferiu para o diretório municipal do PT paulista a responsabilidade sobre a discussão de um possível acordo com o PSD do prefeito Gilberto Kassab. Hoje, em reunião com vereadores e o presidente do diretório municipal, vereador Antonio Donato, Lula confirmou a proposta feita na última semana por Kassab e sugeriu que o PT discuta o assunto "com tranquilidade". "O Lula disse que é um assunto que temos de discutir com tranquilidade e deixou o PT confortável para tomar uma decisão", contou Donato.
Em meio à indefinição nas negociações com os tucanos, Kassab propôs ao ex-presidente na semana passada, durante visita no Hospital Sírio-Libanês, a indicação de um candidato a vice na chapa do pré-candidato petista Fernando Haddad em uma eventual dobradinha entre PT e PSD. Segundo Donato, Lula falou superficialmente sobre o tema, mas não escondeu a surpresa com a oferta de Kassab. O ex-presidente garantiu aos vereadores que, ao ouvir o prefeito, não se posicionou sobre a proposta.
Antes de receber nesta tarde os vereadores no Instituto Lula, na zona sul da capital paulista, o ex-presidente se submeteu à oitava sessão de radioterapia contra o câncer de laringe. Donato afirmou que Lula está "muito animado" com Haddad, mas que ainda não definiu como será sua participação na campanha de Haddad porque prefere aguardar o fim do tratamento. A expectativa é que ele mergulhe na pré-campanha após o Carnaval, quando será homenageado pela escola Gaviões da Fiel. "Queremos fazer a grande volta dele em março numa plenária com a militância", revelou.
A atual preocupação diretório municipal é com a saída de Haddad do Ministério da Educação. A expectativa era de que ele deixasse a Esplanada dos Ministérios na próxima segunda-feira (16), mas com a dificuldade da presidente Dilma Rousseff em definir mudanças amplas, Haddad terá de ficar até fevereiro, quando deverá ocorrer a reforma ministerial. "Vamos ter agenda forte em fevereiro. Se passar do começo do mês, aí complica", disse Donato. O dirigente, que também preside o Conselho Político da pré-campanha, lembrou que Haddad precisa concluir seu trabalho antes de passar a pasta para seu substituto, mas que sua cabeça, na realidade, já está na cidade de São Paulo. "Ele está ansioso" contou.

Globo aposta em Alckmin e "esquece" Aécio e Serra

Globo aposta em Alckmin e "esquece" Aécio e Serra
Alckmin no JN: salvação para a imagem de um governo envolvido em tropeços (©globo.com/Reprodução)
A semana não foi nada boa para o governador paulista, Geraldo Alckmin (PSDB), marcada por duas desastradas ações policiais, com ampla desaprovação popular – a continuação da ocupação policial da cracolândia e a agressão de um estudante negro da USP –, sem falar do desabamento de um laje de uma obra da secretaria estadual de cultura, em que um operário morreu. 
Mas no Jornal Nacional, da TV Globo, o tucano tem sido mostrado como se nada tivesse a ver com os problemas, pelo contrário, fosse o herói pronto para resolvê-los. O governador liberou a Polícia Militar para ocupar a USP (Universidade de São Paulo), inclusive com repressão. Quando a coisa desandou para a agressão ao estudante, o Jornal Nacional noticiou, com atraso de um dia, o que deu tempo de editar uma matéria ao gosto do Palácio dos Bandeirantes.  Alckmin foi mostrado dando declarações dignas de "justiceiro", dizendo que puniria os erros e não toleraria abusos.
No caso da cracolândia, o noticiário do Jornal Nacional foi tendenciosamente favorável à ação, colhendo só depoimentos favoráveis. O tratamento "vip" dispensado ao governador tucano paulista mostra que Alckmin é a atual aposta da TV Globo para "salvador da pátria" contra Dilma, Lula e o PT.
José Serra (PSDB-SP) é tratado pela  imprensa como carta fora do baralho. Desde seu "até breve" no dia da derrota na eleição presidencial de 2010, ele não dá as caras no Jornal Nacional. Aécio Neves (PSDB/MG), de promessa, virou decepção, e também está descartado. Não tem a língua afiada de um Carlos Lacerda. Seu suposto carisma não ultrapassa as fronteiras de Minas. O "conciliador" virou desagregador com o fato do livro "A Privataria Tucana" ter raízes no jornal Estado de Minas. O suposto "hábil articulador", em um ano de liderança da oposição, fez o DEM, PSDB e PPS minguarem, deixando a oposição mais frágil do que nunca esteve antes.
Cronologia de um telejornal "alckmista" 
3 de janeiro –  o Jornal Nacional dedicou dois minutos para ocupação policial da cracolândia paulistana. Só deu voz ao comandante da operação e a supostos populares que aprovaram a ação. Tratou a ação policial como se estivesse em curso o restabelecimento da ordem e solução do problema. Veja aqui
6 de janeiro – o que foi noticiado como solução virou problema. O JN dedidou 2m17s em socorro ao governador, no estilo laudo bolinha-de-papel. Arranjou uma pesquisa dizendo que 47% dos frequentadores da cracolândia aceitariam algum tratamento, se fosse oferecido. Também empurrou o problema apenas para a prefeitura de Kassab, poupando o governador. Veja aqui  
7 de janeiro – JN finge de morto. Nenhuma notícia sobre a cracolândia. O jornal O Estado de S.Paulo havia noticiado pela manhã que Alckmin, Kassab e cúpula da PM não sabiam de ação na cracolândia.
10 de janeiro – o JN dedicou apenas 32 segundos lacônicos, com a câmara fixa no locutor lendo a notícia, sem nenhuma imagem, para dizer que "o Ministério Público de São Paulo vai instaurar um inquérito civil para apurar a ação da PM e da prefeitura na Cracolândia". Nenhuma palavra, e muito menos imagens da guerra campal acontecida no final da noite anterior, com a PM abrindo fogo com balas de borracha e bombas de gás lacrimogênico contra usuários. 
11 de janeiro – o JN voltou a retratar a figura do "governador bom e justo", ao dizer que o governo proibiu a PM de usar bombas e balas de borracha. A matéria teve 1m55s. Mostrou queixas de comerciantes e moradores para onde migraram os "nóias". Engatou tendas de assistência social da prefeitura de Kassab. A voz crítica do promotor Eduardo Valério que abriu inquérito contra a ocupação desastrada só mereceu 11 segundos, e foi seguida dos 19 segundos da palavra final da Secretária de Justiça de Alckmin. (http://goo.gl/8lIma)
Episódio 2: Truculência e racismo
9 de janeiro – o Jornal da Record levou ao ar cenas de um Policial Militar paulista agredindo gratuitamente um estudante negro dentro da USP.
10 de janeiro – O Jornal Nacional esperou até a noite do dia seguinte para levar a notícia ao ar. Tempo suficiente para editar uma matéria ao gosto do Palácio dos Bandeirantes. A notícia abriu com o afastamento das ruas dos dois policiais envolvidos no episódio. Depois narrou os fatos corretamente, inclusive o problema racial, criou o enredo entre os "bons" e os "maus", para então "atucanar" a matéria. Ao aparecer o governador, em vez de perguntar se a Polícia deveria estar ali envolvida na remoção forçada de um diretório acadêmico, o governador entrou já dizendo, de forma genérica, que puniria os erros e não toleraria abusos.

Por que a Globo é tão odiada?

O que leva a Globo a ser tão detestada?
Vi o vídeo acima no Facebook, e ele é expressivo. Mesmo numa manifestação que não o dedo do PT e dos petistas, a Globo provoca repulsa. E isso quando o repórter que a representa tem a estatura e o relativo prestígio de Caco Barcellos.
O problema está no passado. Roberto Marinho, o homem que fez a Globo ser o que é, adquiriu uma imagem poderosa de aproveitador. Na percepção generalizada, o regime militar favoreceu Roberto Marinho – a começar pela concessão que permitiu a criação da TV Globo — e recebeu em troca um copioso apoio editorial.
A rejeição à Globo se origina nisso – e diversos esforços feitos sobretudo depois da morte de Roberto Marinho fracassaram no objetivo de melhorar a imagem da Globo.
É um paradoxo que, sendo tão odiada, a Globo seja tão vista – ainda que sua audiência, na Era Digital, venha minguando. (Uma reportagem da Folha mostrou que, desde o começo das medições, jamais foi tão baixo o público da Globo como em 2011.) O virtual monopólio da Globo como que forçou o espectador a sintonizar nela em muitas ocasiões, ainda que tapando o nariz. No futebol, por exemplo.
Que a audiência não se traduziu em prestígio fica claro quando se vê a influência da Globo sobre os eleitores. A má vontade da Globo em relação a Lula e a Dilma – o diretor do telejornalismo Ali Kamel, um dos “aloprados” da emissora, é fanaticamente antipetista, bem como comentaristas como Merval Pereira e Arnaldo Jabor, para não falar no âncora William Waack – não impediu que o PT vencesse as últimas eleições presidenciais.
A Globo, indiretamente, sempre se beneficiou da brutal inépcia dos concorrentes na televisão quer em conteúdo, quer em gestão. É uma aberração que a Record, movida pelo dinheiro fácil extraído dos crédulos, simplesmente copie a Globo em vez de fazer coisa nova e superior. Se inovasse, em vez de imitar, a Record atalharia a disputa pela liderança, ajudada pelo cansaço da programação da Globo, expressa em programas como o Fantástico. Mas os bispos parecem muito entretidos com seus sermões caçaníqueis para ver a programação de emissoras como a BBC, de onde poderia ver a inspiração para um salto de qualidade.
A falta de opções do telespectador ajudou a Globo a seguir adiante mesmo atraindo tanto ódio. Mas agora a festa tende a acabar por causa da internet. Se a concorrência não oferece alternativa, a internet dá às pessoas possibilidades infinitas de se livrar da Globo.
Para a Globo, ontem foi melhor que hoje e hoje vai ser melhor que amanhã. No futuro, as pessoas tentarão explicar como uma emissora tão antipatizada pôde ter a audiência que um dia teve.
Paulo Nogueira

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Carta Capital: Edição da semana - 12 de Janeiro de 2012

12 de Janeiro de 2012

CartaCapital

Edição da Semana

06.01.2012 13:34

Holmes, Sherlock Holmes

O diretor Guy Ritchie diz ter sido fiel a Conan Doyle ao vestir o detetive com o manto de James Bond
06.01.2012 13:29

Urbanização

Os retirantes das favelas

O encarecimento do custo de vida obriga famílias pobres a migrar para bairros cada vez mais distantes
06.01.2012 12:44

Editorial

Mas que império é este?

Os bárbaros invasores que tomaram Roma em 476 hoje já se encontram dentro dos Estados Unidos

Índice

Veja os destaques da edição impressa de CartaCapital

Nesta semana, CartaCapital mostra como o novo salário mínimo vai turbinar a economia brasileira em 2012. Ainda:...