sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Folha e Estadão omitem explicações do ministro


Vou reiterar pela enésima vez: não boto a mão no fogo por nenhum político brasileiro. Não sou nenhum cínico, como Noblat, mas não quero ser um ingênuo. E até acho que é saudável, nas atuais circunstâncias, em que o governo possui esmagadora maioria no Congresso, termos uma imprensa visceralmente de oposição, porque isso permite a existência de um constante embate político. Atrapalha às vezes o andamento administrativo, visto que ministros são obrigados a interromper seu trabalho para responder questionamentos nem sempre pertinentes, mas oxigena a democracia.

 
No médio e longo prazo, como a história recente já provou, essa realidade permite à situação exercitar-se e desenvolver-se politicamente. Cada crise ministerial corresponde a uma mini-eleição, em virtude dos duros embates que promove. Com isso, a centro-esquerda se mantém esbelta, ativa e musculosa, enquanto os caciques da direita, mimados pela imprensa, que os blinda com ferocidade, permanecem obesos, preguiçosos e fracos.
O que me incomoda realmente é ver a imprensa omitir informações, uma das táticas de manipulação da notícia mais odientas. Por exemplo, ontem o ministro Fernando Bezerra foi ao Congresso se explicar. O presidente do Senado, José Sarney, deu a primeira palavra à oposição, e permitiu um revezamento entre governo e oposição durante as primeiras horas, mesmo esta última sendo absolutamente minoritária.

Bezerra falou sobre as acusações de nepotismo. Esse é o ponto onde quero chegar. Apenas o Globo reproduziu (no final da matéria, como que a contragosto) a explicação do ministro sobre o tema:

 
O líder tucano também questionou sobre nepotismo envolvendo o irmão Clementino Coelho, na Codevasf (estatal ligada à Integração Nacional), o sogro de seu filho, o deputado Fernando Coelho, e a nora, em Suape.

- Antonio de Pádua Kherle, sogro de meu filho, foi nomeado coordenador regional do Dnocs em 2010, e o casamento só aconteceu em julho de 2011. E quem fez a indicação foi o deputado Pedro Eugênio, do PT. Minha nora é outro absurdo! Quando foi contratada em 2007, nem conhecia meu filho – defendeu-se Bezerra, repetindo, sobre o caso do irmão, que foi o Planalto que demorou em efetivar o novo presidente da Codevasf.

Eu acho que a Folha, depois de publicar infográficos onde o ministro aparece rodeado de “parentes” (uso aspas porque pai ou tio de esposa de filho não é parente de verdade; se a lei do nepotismo fosse tão fundo, tornaria o político um pária social, do qual todos quereriam distância para não serem vetados no serviço público), deveria ter a decência de, no mínimo, reproduzir a explicação do ministro. Até para confirmar a informação posteriormente. Várias pessoas tiveram seus nomes enlameados injustamente. Não o faz. O Estadão, idem.

 
Isso é estranho, omitir a informação. Agindo assim, a chamada velha mídia apenas prejudica a si mesma, levando as pessoas a procurarem fontes de informação mais completas. Bom para nós, blogueiros. E aí chegamos a uma conclusão interessante, que revela o quanto a vida e a política são dialéticas. Quanto mais a imprensa se degrada, mais espaço ganham os blogs, de maneira que a decadência da mídia, no momento em que estimula a demanda por fontes alternativas, também faz bem à democracia. O mal engendra o bem, para lembrar o conhecido princípio mefistofélico…

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