Ontem, a presidenta Dilma Rousseff disse, na solenidade do lançamento de um programa de construção de 100 mil moradias em São Paulo – para pessoas com renda de até R$ 1,6 mil, com 75% de recursos da União e 25% do Estado – que “não queremos um país de milionários e de pobres e miseráveis, como existe em muitas grandes nações. Queremos, sobretudo, um país de classe média”.
Também ontem, o principal assessor econômico de Barack Obama, Alan Krueger, afirmou que, nos EUA, a classe média “encolheu” e que isso está “causando uma divisão negativa das oportunidades e é uma ameaça ao nosso crescimento econômico”.
Um pesquisa do Pew Research Center, reproduzida pela coluna Radar Econômico do Estadão, mostra que se acentuou ”o conflito entre ricos e pobres na sociedade” norte-americana, que seria percebido como “forte ou muito forte”. Na sociedade do “mérito e esforço pessoal”, cada vez mais pessoas acreditam que a riqueza é feita pela origem, não pelo trabalho.
“Segundo a pesquisa, 46% da população acredita que, nos EUA, a maior parte dos ricos o são “porque conhece as pessoas certas ou nasceu em família rica”; já 43% avaliam que as pessoas enriquecem “por causa de trabalho duro, ambição e educação”. O restante dos entrevistados acredita que a ascensão social ocorre pelos dois motivos ou por nenhum deles”.
Nós, brasileiros, sabemos quanto custa, depois de fixada, esta visão da “esperteza” como única alternativa para a “herança”. E como isso é um veneno para a formação intelectual de gerações que passam a ver nos “truques”, na exposição física-sensualidade-sexualidade a forma de reconhecimento, a enxergar na própria educação apenas um valor mercantil para sua capacidade de “vender-se” ao (ou no) mercado.
O grande processo de inclusão social vivido pelo Brasil a partir dos anos 30, com a urbanização da população, o reconhecimento do trabalho como fato gerador de direitos, a expansão dos meios de comunicação (o rádio, depois a TV e a massificação dos jornais impressos) .
Hoje, vivemos um momento parecido àquele, com a expansão de nossa classe média e, portanto, do contingente com padrões de sobrevivência minimamente necessários para a aquisição de bens não apenas materiais, mas também culturais.
Desafortunadamente, porém, não temos contado com uma elite cultural atenta a este processo de inclusão. E, ausente ela, não dá para esperar coisa alguma da mídia que não seja a mediocridade que assistimos.
Não se pode culpar o povo pelas novelas e pelos BBB. Consomem o que “o mercado” fornece, sob a complacência de uma intelectualidade preguiçosa e rendida à “realidade do mercado”, que considera “moderno” esquecer que é deste processo que pode emergir uma nova camada de pensamento humano, generosa e prolífica, como a que, flor brotada daquele processo de inclusão, emergiu no Brasil dos anos 50 aos 70. Tão forte, tão lúcida, tão generosa que uma ditadura não a venceu, senão depois de tanto tempo que a fez cansada e estéril na democracia.
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