sábado, 24 de março de 2012

Os “cães de guarda” da Folha. E as caminhonetes da tortura

Publicado em 24/03/2012 por PHA

    Este ansioso blog já tinha dito que A Folha (*) editou um livro para se blindar contra as caminhonetes que  participavam da tortura” A blindagem dá certo. Nada mais parecido com um Luzia do que um Saquarema – a a Folha com o Estadão. Na pág. S3 do caderno “Sabático”, deste sábado, Eugenio Bucci dá guarida à versão da blindagem: as caminhonetes da Folha, sim, se prestavam a conduzir torturados e torturadores para “pontos” e “sessões de tortura” … mas Papai não sabia. Papai é o “seu” Frias, o dono da Folha, um empresário meticuloso, obstinado, que, porém, não sabia o que acontecia com suas caminhonetes. Quem diz que Papai não sabia é o filho, o Otavinho, “publisher” da Folha. Este ansioso blog já se perguntou, uma vez, quantos Bucci cabem num Eugênio ? Bucci trabalhou para o Governo Lula, ao lado do PT, não foi aproveitado para o segundo mandato, e se fez um dos expoentes do colonismo (**) pátrio, especialista em “Comunicação Pigal”. A tal ponto que dirige um think tank sobre aperfeiçoamento das técnicas de jornalismo, associado à revista Veja ! O detrito de maré baixa, aquele que odeia o Brasil, porque o dono é um perdedor. Mas, o Bucci não se sente constrange com a proximidade da Veja e seus detritos. Otavinho deu entrevista ao autor do livro que editou. Ele e o pai, porém, se recusaram a dar entrevista a uma pesquisadora, Beatriz Kushnir, que escreveu importante trabalho sobre os “cães de guarda”- como a Folha, que protegeu o regime militar, aquele que chamou, em editorial, de “ditabranda”. O Mauricio, editor do Conversa Afiada, releu o livro de Beatriz e fez uma didática ficha sobre o PiG (***) e o regime militar. Para ajudar os estudantes de jornalismo a “desblindar” a versão do Otavinho. A blindagem corrente pode ser interpretada como uma tentativa de sufocar a verdeira história dos “cães de guarda”: Cães de Guarda – Jornalistas e Censores, do AI5 à Constituição de 1988 Kushnir, Beatriz – Editora Boitempo, março de 2004 - Beatriz Kushnir é mestre em História Social pela Universidade Federal Fluminense e doutora pela UNICAMP Kushnir trata da correlação que havia entre os jornalistas e os censores. Uma relação tortuosa, onde, ora, jornalistas iam para aparato estatal, e censores iam para as redações. Resumi ponto a ponto. Segue a analise com comentários meus. (Em itálico, citação do original).

1.) Pág 42 – Sobre a tese de Mino Carta de que não havia censura aos grandes jornais.  A autora cita o censor do Estadão, uma de suas inúmeras entrevistas, e derruba o argumento utilizado principalmente pelo Estadão para sustentar que o jornal lutou pela democracia: “Para o censor Coriolano Loyola Cabral Fagundes , que atuou no Estadão na época, a tática de utilizar as receitas de bolo e os poemas era, na visão da censura, uma permissão ao jornal.”

2.) Pág 44 – A autora defende que a autocensura adotada pelos jornais, se não simpáticos ao regime, se tornaram historicamente ligados ao processo que nele resultou, foi o  recurso  predominante na época.  Ela cita Bernardo Kucinski: “A autocensura determinou o padrão de controle de informação durante quinze anos de ditadura militar [...] A autocensura é a supressão intencional da verdade ou de parte pelo jornalista ou pela empresa jornalística, de forma a iludir o leitor ou privá-lo de dados relevantes. Trata-se de uma importante fraude [..] um crime intelectual.
3.) Pág 49 – A autora reproduz trechos de uma circular de Sette Câmara para aplicar a autocensura no JB:  “Em teoria há plana liberdade de expressão. Mas na prática o exercício dessa liberdade tem que ser pautado pelo bom senso e pela prudência [...] O JB teve uma parte importante na Revolução de 1964 e continua fiel ao ideário, que então pregou. Se alguém mudou foram os líderes da Revolução. [Nesse sentido] deverão sempre optar pela supressão de qualquer notícia  que possa representar um risco para o jornal.”

4.) Pág 51 – A autora cita texto incrível de Jânio de Freitas na Folha, na semana em que se lembrava dos 30 anos do AI5. Ele diz:  “Não seria possível ser contra o AI-5 sem ser contra o regime. E a imprensa , embora uma ou outra discordância eventual, mais do que aceitou o regime: foi uma arma essencial da ditadura.

5.) Pág 189 – Walter Clark aparece como herói da autocensura na Globo. O Padrão Globo de Qualidade, assim como o memorando do JB que tinha o mesmo nome, veio para blindar a emissora de problemas com o Governo, da qual era aliada.  Ele diz sem corar que contratou um censor profissional para revisar toda a programação. “Não iria oferecer meu pescoço em holocausto, para ele [Dias Gomes] posar de campeão da liberdade. Contratei um ex-diretor do Departamento de Censura da Guanabara, Ottati, e o coloquei ali com a missão de ler tudo que ia para o ar, fazendo a censura mais rigorosa que era possível.”

6.) Pág 203 – Boris Casoy, editor-responsável pela Folha entre 77 e 84, revela a Kushnir que tinha uma relação “cordial” com seu censor, Richard Bloch. A relação se tornou quase de amizade: “Após deixar o Serviço de Censura, Bloch um dia ligou para Casoy, queria conhece-lo, saíram para almoçar”.

7.) Pag 214 – Kushnir cita a “Regra do Jogo”, livro de Claudio Abramo, onde o jornalista explica que é um equívoco da esquerda achar que é o Estado quem censura. Segundo  Abramo, quem censura são os donos de jornal.
(A proposito, não deixe de ler editorial do Mino Carta desta semana: trata de Claudio Abramo)

8.) Pág 221 – A autora volta a citar  “Regra do Jogo”, onde Abramo lamenta o dia em que foi parar na Folha: “ Às vezes, acho que ter ido para Folha foi um dos maiores erros que cometi na vida, pois ajudei muito o jornal e hoje sou marginalizado”.

9.)Pág 222 – Para fazer um contraponto a Abramo, Kushnir cita outro autor recorrente no livro, B. Kucinski, para quem Abramo se tornou um homem amargo, quase infeliz:  “Abramo desperdiçou energia tentando inutilmente reeducar os donos da imprensa brasileira, fazer deles uma elite educada para um espaço público republicano e o compromisso social”.  

10.) Pág 225 – Kushnir reproduz pensamento de Mino Carta sobre a demissão de Abramo, no episódio que envolveu artigo de Lourenço Diaféria. Abramo teria saído por exigência do Ministro da Guerra, Silvio Frota. Porém, dias depois, Frota caiu, como Mino havia previsto, em conversa com Otávio Frias. Mesmo depois da queda de Frota, Abramo não retornou à redação. Abramo diz em seu “A Regra do Jogo” que saiu porque ficou forte, e se ficou forte, eles, os donos, eliminam.

11.) Pág 229 – Kushnir explica em nota que Otávio Frias pai e filho, não quiseram dar entrevista.

12.) Pág 233 – A autora traz entrevista com o jornalista Carlos Brickmann que fala da fase sinistra da Folha da Tarde de 1967 a 1969. Ele explicita o caráter comercial da empreitada que servia para competir com o Jornal da Tarde, de Mino Carta.  Brickmann deixa clara uma característica marcante de Frias, pai: “Naquela época, ele [Frias] disse na minha frente que, em primeiro lugar,  ele era criador de pintos, em segundo, comerciante, em terceiro, industrial, em quarto, nada, em quinto, nada, em sexto, jornalista [...] O Jorge Miranda Jordão me contou numa conversa de bar que Frias o chamou para fazer um jornal de esquerda. Ele gostou da ideia e fez [...] Não era nada, exceto oportunismo mercadológico”.

13.) Pag 273. Kushnir cita o jornalista Antônio Carlos Fon, de “Tortura: a histórica da repressão política no Brasil”, onde o autor acusa a Folha da Tarde de usar suas caminhonetes para transportar presos do DOI-CODI. A autora mostra que carros da  Folha foram queimados por militantes de esquerda entre 21/9/1971 à 25/10/1971, em represália. Fon ainda acusa a Folha de entregar a direção da Folha da Tarde aos agentes da repressão, que fizeram dele instrumento de propaganda e colaboração com os militares ligados à tortura.

14.) Pág 300. Sobre o justiçamento do empresário Henning Boilesen, da Ultra Gás, notório colaborador do regime. A autora traz entrevista com Ivan Seixas, militante do MRT, preso no dia 17 de abril de 1971, então com 17 anos, com seu pai, também militante. Ivan foi acusado de participar do assassinato do empresário. E conta que às 12h do dia 17, se encontrava dentro de uma viatura policial quando leu na Folha da Tarde a notícia da solução do caso Boilesen e do assassinato de seu pai. Ao retornar à OBAN ainda encontrou o pai vivo. Dias depois a profecia do jornal se cumpriria.

15.) Pág 318. O “Jornal de Maior Tiragem”, como ficou conhecida A Folha da Tarde. Sobre a trinca que passou a comandar o jornal em julho de 1969, o editor chefe Antônio Aggio Jr, Secretário Geral Horley Antônio Destro e o Chefe de Reportagem Carlos Dias Torres. A autora usa entrevista que fez com Ítalo Tronca, jornalista remanescente da redação progressista da Folha da Tarde: “Ele [Aggio] trazia para dentro da redação um estojo que parecia um violão. Não sabíamos o que era. Mas ele gostava de exibi-lo na sua sala: uma carabina turca.
Nós não sabíamos de onde vinha essa gente [Aggio, Horley e Torres]. O Horley vinha armado de uma automática. Torres era relações-públicas do IV Comar e fazia um gênero amigo. Os outros dois eram acintosamente policiais
”.

16.) Pág 320. Kushnir lembra que nos aniversários do jornal, comemorados sempre no dia 1º de julho com um almoço na sede, os donos do jornal se reuniam com expoentes da ditadura. Como o coronel Lepiane que o jornal considerava “um dos mais respeitados e estimados oficias do Estado Maior [...] um dos principais integrantes das Forças Armadas que acorreram ao chamado do povo , em 1964[...]”. É o que disse texto do jornal sobre a    posse do militar na superintendência da PF de São Paulo, isso já em 1974.

17.) Pág 322. Boris revela textualmente em entrevista que “o jornal (Folha) decidiu não enfrentar o regime. Fez autocensura”.

18.) Pág 323. Tonico Ferreira conta em entrevista que havia ameaças de bomba na redação. E que os funcionários jamais eram avisados, nunca foram retirados do local. Diz ainda, assim como Ítalo Tronca, que  era normal ver armas na mesa dos diretores.

19.) Pág 324. O decálogo de nove pontos. Além de tudo eram geniais os diretores da Folha da Tarde. Seguiam nove normas que formavam o decálogo do jornal:
I- Desarticular as agressões alienígenas e suas alianças.
II- Conter a corrupção em todas as suas formas.
III- Combater a desordem econômica.
IV- Incentivar o desenvolvimento.
V-Apoiar a livre iniciativa.
VI- Manter a paz social.
VII- Valorizar o homem brasileiro.
VIII- Fortalecer a segurança nacional.
IX- Assegurar o prestígio internacional do país, como um jornal a serviço do povo

20.) Pág 327. Com base em entrevista de Carlos Antônio Guimarães Sequeira, ex-agente do DOPS e  editor de internacional da Folha da Tarde, Kushnir relaciona os policiais que ocupavam altos postos na redação. Aggio tinha um cargo administrativo na Polícia; o coronel da PM Edson Correia era repórter de geral; o delegado Antônio Bim esteve por algum tempo no jornal. O chefe de reportagem Carlos Dias Torres era investigador de polícia.

21.) Pág 332. Otávio Frias assina o único editorial de sua vida para repudiar a ação contra as caminhonetes da empresa. Nesse texto ele reafirma cada linha do que diziam seus jornais: o alinhamento com a ideologia do regime militar.

22.) Pág 337.  Mino Carta explica o verdadeiro motivo do afastamento de Abramo já que Frota, seu suposto carrasco, caiu dias depois de seu afastamento. Para Carta, Abramo tinha convicções fortes, e ocupava um posto que pertencia ao “herdeiro natural”. Mino é enfático:  “Otavinho talvez sofra, em um silêncio que não concede sorrisos de Gioconda, a sua condição de diretor por direito divino.  Sempre lhe faltará a certeza de que foi para o trono por mérito próprio, e não por ser filho do patrão. O Projeto Folha valeria, assim, para demonstrar que ele está no lugar certo – quer dizer, serviria para minorar a culpa”.

23.) Pág 339. Sobre o “”Projeto Folha”, o jornalista Carlos Carlos Eduardo Lins e Silva diz: “O projeto é uma ‘ideologia jornalística’ criada para dar legitimidade a um grupo jovem, inexperiente e sem o carisma que muitos chefes de redação tinham na imprensa brasileira.” Para Mino, o Projeto é a submissão do jornal ao marketing, um jornal feito para vender.

24) Pag 349. Por fim a autora cita Francisco Weffort, que: “A tradição liberal gosta de definir os partidos como partidos de opinião. E que dizer da tradição da imprensa moderna senão enraizada, também no prestigio da opinião? Se os partidos são de opinião e os jornais também são de opinião, nada surpreendente se estes ás vezes se comportarem como aqueles.”

Ou, como diria a Judith Brito, da ANJ: o PiG (*) é a verdadeira oposição.

Clique aqui para ler “Folha se avoca o direito de julgar o mensalão (do PT)
Paulo Henrique Amorim
(*) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que matou o Tuma e depois o ressuscitou; e que é o que é (http://www.conversaafiada.com.br/antigo/?p=23300),  porque o dono é o que é; nos anos militares, a  Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.
(**) Não tem nada a ver com cólon. São os colonistas do PiG que combateram na milícia para derrubar o presidente Lula e, depois, a presidenta Dilma. E assim se comportarão sempre que um presidente no Brasil, no mundo e na Galáxia tiver origem no trabalho e, não, no capital. O Mino Carta  costuma dizer que o Brasil é o único lugar do mundo em que jornalista chama patrão de colega. É esse  pessoal aí.
(***) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

Como funcionava a parceria Veja-Cachoeira


A matéria foi bombástica e ajudou a deflagrar a crise do “mensalão”. Uma reportagem de 18 de maio de 2005, de Policarpo Jr., da sucursal da Veja em Brasília, mostrava o flagrante de um funcionário dos Correios – Mauricio Marinho – recebendo R$ 3 mil de propina (clique aqui)


A abertura seguia o estilo didático-indagativo da revista:
(…) Por quê? Por que os políticos fazem tanta questão de ter cargos no governo? Para uns, o cargo é uma forma de ganhar visibilidade diante do eleitor e, assim, facilitar o caminho para as urnas. Para outros, é um instrumento eficaz para tirar do papel uma idéia, um projeto, uma determinada política pública. Esses são os políticos bem-intencionados. Há, porém, uma terceira categoria formada por políticos desonestos que querem cargos apenas para fazer negócios escusos – cobrar comissões, beneficiar amigos, embolsar propinas, fazer caixa dois, enriquecer ilicitamente.
A revista informava que tinha conseguido dar um flagrante em um desses casos na semana anterior:
Raro, mesmo, é flagrar um deles em pleno vôo. Foi o que VEJA conseguiu na semana passada.
Anotem a data que a revista menciona que recebeu a gravação: semana passada. Será importante para entender os lances que serão mostrados no decorrer deste capítulo.
A matéria, como um todo, não se limitava a descrever uma cena de pequena corrupção explícita, embora só esta pudesse ser comprovada pelo grampo. Tinha um alvo claro, que eram as pessoas indicadas pelo esquema PTB, especialmente na Eletronorte e na BR Distribuidora. O alvo era o esquema; Marinho, apenas o álibi.
O que a matéria não mostrava eram as intenções efetivas por trás do dossiê e do grampo. Os R$ 3 mil eram um álibi para desmontar o esquema do PTB no governo, decisão louvável, se em nome do interesse público; jogo de lobby, se para beneficiar outros grupos.
Antes de voltar à capa, uma pequena digressão sobre as alianças espúrias do jornalismo.
Os dossiês e os chantagistas
A partir da campanha do “impeachment” de Fernando Collor, jornalistas, grampeadores e chantagistas passaram a conviver intimamente em Brasília. Até então, havia uma espécie de barreira, que fazia com que chantagistas recorressem a publicações menores, a colunistas da periferia, para montar seus lobbies ou chantagens. Não à grande mídia.
Com o tempo, a necessidade de fabricar escândalo a qualquer preço provocou a aproximação, mais que isso, a cumplicidade entre alguns jornalistas, grampeadores e chantagistas. Paralelamente, houve o desmonte dos filtros de qualidade das redações, especialmente nas revistas semanais e em alguns diários.
Foi uma associação para o crime. Com um jornalista à sua disposição, o grampeador tem seu passe valorizado no mercado. A chantagem torna-se muito mais valiosa, eficiente, proporcional ao impacto que a notícia teria, se publicada. Isso na hipótese benigna.
É uma aliança espúria, porque o leitor toma contato com os grampos e dossiês divulgados. Mas, na outra ponta, a publicação fortalece o achacador em suas investidas futuras. Não se trata de melhorar o país, mas de desalojar esquemas barra-pesadas em benefício de outros esquemas, igualmente barra-pesadas, mas aliados ao repórter. E fica-se sem saber sobre as chantagens bem sucedidas, as que não precisaram chegar às páginas de jornais.
Por ser um terreno minado, publicações sérias precisam definir regras claras de convivência com esse mundo do crime. A principal é o jornalista assegurar que material recebido será publicado – e não utilizado como elemento de chantagem.
Nos anos 90 esses preceitos foram abandonados pelo chamado jornalismo de opinião. No caso da Veja a deterioração foi maior que nos demais veículos. O uso de matérias em benefício pessoal (caso dos livros de Mario Sabino), o envolvimento claro em disputas comerciais (a “guerra das cervejas” de Eurípedes Alcântara), o lobby escancarado (Diogo Mainardi com Daniel Dantas), a falta de escrúpulos em relação à reputação alheia, tudo contribuiu para que se perdessem os mecanismos de controle.
Submetida a um processo de deterioração corporativa poucas vezes visto, a Abril deixou de exercer seus controles internos. E a direção da revista abriu mão dos controles externos, ao abolir um dos pilares do moderno jornalismo – o direito de resposta – e ao intimidar jornalistas de outros veículos com seus ataques desqualificadores.
É nesse cenário de deterioração editorial que ocorre o episódio Maurício Marinho.
A parceria com o araponga
Nas alianças políticas do governo Lula, os Correios foram entregues ao esquema do deputado Roberto Jefferson. Marinho era figura menor, homem de propina de R$ 3 mil.
Em determinado momento, o esquema Jefferson passou a incomodar lobistas que atuavam em várias empresas. Dentre eles, o lobista Arthur Wascheck
Este recorreu a dois laranjas – Joel dos Santos Filhos e João Carlos Mancuso Villela – para armar uma operação que permitisse desestabilizar o esquema Jefferson não apenas nos Correios. como na Eletrobrás e na BR Distribuidora. É importante saber desses objetivos para entender a razão da reportagem da propina dos R$ 3 mil ter derivado - sem nenhuma informação adicional - para os esquemas ultra-pesados em outras empresas. Fazia parte da estratégia da reportagem e de quem contratou o araponga.
A idéia seria Joel se apresentar a Marinho como representante de uma multinacional, negociar uma propina e filmar o flagrante. Como não tinham experiência com gravações mais sofisticadas, teriam decidido contratar o araponga Jairo Martins.
E, aí, tem-se um dos episódios mais polêmicos da história do jornalismo contemporâneo, um escândalo amplo, do qual Veja acabou se safando graças à entrevista de Roberto Jefferson à repórter Renata Lo Prete, da Folha, que acabou desviando o foco da atenção para o “mensalão”.
Havia um antecedente nesse episódio, que foi o caso Valdomiro Diniz, a primeira trinca grave na imagem do governo Lula. Naquele episódio consolidaram-se relações e alianças entre um conjunto de personagens suspeitos: o bicheiro Carlinhos Cachoeira (que bancou a operação de grampo de Valdomiro), o araponga Jairo Martins (autor do grampo) e o jornalista Policarpo Jr (autor da reportagem).
No caso Valdomiro, era um contraventor – Carlinhos Cachoeira – sendo achacado por um dos operadores do PT, enviado pelo partido ao Rio de Janeiro, assim como Rogério Buratti, despachado para assessorar Antonio Palocci quando prefeito de Ribeirão.
Jairo era um ex-funcionário da ABIN (Agência Brasileira de Inteligência), contratado pelo bicheiro para filmar o pagamento de propina a Valdomiro Diniz.
Tempos depois, Jairo foi convidado para um almoço pelo genro de Carlinhos Cachoeira, Casser Bittar.
Lá, foi apresentado a Wascheck, que o contratou para duas tarefas, segundo o próprio Jairo admitiu à CPI: providenciar material e treinamento para que dois laranjas grampeassem Marinho; e a possibilidade do material ser publicado em órgão de circulação nacional.
Imediatamente Jairo entrou em contato com Policarpo e acertou a operação. O jornalista não só aceitou a parceria, antes mesmo de conhecer a gravação, como avançou muito além de suas funções de repórter.
O grampo em Marinho foi gravado em um DVD. Jairo marcou, então, um encontro com Policarpo. Foi um encontro reservado - eles jamais se falavam por telefone, segundo o araponga -, no próprio carro de Policarpo, no Parque da Cidade. Policarpo levou um mini-DVD, analisou o material e atuou como conselheiro: considerou que a gravação ainda não estava no ponto, que havia a necessidade de mais. Recebeu a segunda, constatou que estava no ponto. E guardou o material na gaveta, aguardando a autorização do araponga, mesmo sabendo que estava se colocando como peça passiva de um ato de chantagem e achaque. 
Wascheck tinha, agora, dois trunfos nas mãos: a gravação da propina de R$ 3 mil e um repórter, da maior revista do país, apenas aguardando a liberação para publicar a reportagem.
Quando saiu a reportagem, a versão do repórter de que havia recebido o material na semana anterior era falsa e foi desmentida pelos depoimentos dados por ele e por Jairo à Policia Federal e à CPI do Mensalão.
Pressionado pelo eficiente relator Osmar Serraglio, na CPI do Mensalão, Jairo negou ter recebido qualquer pagamento de Wascheck. Disse ter se contentado em ficar com o equipamento, provocando reações de zombaria em vários membros da CPI.
Depois, revelou outros trabalhos feitos em parceria com a Veja. Mencionou série de trabalhos que teria feito e garantiu que sua função não era de araponga, mas de jornalista. O único órgão onde seus trabalhos eram publicados era a Veja. Indagado pelos parlamentares se recebia alguma coisa da revista disse que não, que seu objetivo era apenas o de "melhorar o pais".
Segundo o depoimento de Jairo:
‘Aí fiquei esperando o OK do Artur Washeck pra divulgação do material na imprensa. Encontrei com ele pela última vez no restaurante, em Brasília, no setor hoteleiro sul, quando ele disse: ‘Eu vou divulgar o fato. Quero divulgar’. E decorreu um período que essa divulgação não saía. Aí foi quando eu fiz um contato com o jornalista e falei: ‘Pode divulgar a matéria’’.

Reações na mídia

A revelação do episódio provocou reações acerbas de analistas de mídia.
No Observatório da Imprensa, Alberto Dines publicou o artigo “A Chance da Grande Catarse do Jornalismo”
O atual ciclo de denúncias não chega a ser uma antologia de jornalismo mas é uma preocupante coleção de mazelas jornalísticas. Busca-se a credibilidade mas poucos oferecem transparência, pretende-se a moralização da vida pública mas os bastidores da imprensa continuam imersos na sombra:
Tudo começou com uma matéria de capa da Veja sobre as propinas nos Correios, clássico do jornalismo fiteiro.
(...) Carece de (...) transparência a ouverture desta triste e ruidosa temporada através da Veja. Dois meses depois, a divulgação do vídeo da propina nos Correios continua envolta em sombras, rodeada de dúvidas e desconfianças. E, como não poderia deixar de acontecer com fatos mantidos no lusco-fusco da dubiedade, cada vez que a matéria é examinada ou discutida sob o ponto de vista estritamente profissional, mais interrogações levanta.
Caso da entrevista ao Jornal Nacional (Rede Globo, quinta-feira, 30/6) do ex-agente da ABIN, Jairo Martins de Souza, autor da gravação. O araponga — que, aliás, se diz jornalista [veja abaixo comentários de Ricardo Noblat] e faz negócios com jornalistas — revelou que ofereceu o vídeo ao repórter Policarpo Júnior, da sucursal da Veja em Brasília, e que este aceitou-o antes mesmo de examinar o seu teor [abaixo, a transcrição da matéria do JN].
Na hora da entrega, o jornalista teria usado um reprodutor portátil de DVD para avaliar a qualidade das imagens. De que maneira chegou ao jornalista e por que este aceitou o vídeo são questões que até hoje não foram esclarecidas.
Tanto o repórter como a revista recusam-se terminantemente a oferecer qualquer tipo satisfação ou esclarecimento aos leitores. Não se trata de proteger as fontes: elas seriam inevitavelmente nomeadas quando o funcionário flagrado, Maurício Marinho, começasse a depor. Foi exatamente o que aconteceu e hoje Veja carrega o ônus de ter se beneficiado de uma operação escusa – chantagem de um corrupto preterido ou ação formal da Abin para desmoralizar um aliado incômodo (o PTB, de Roberto Jefferson).
(...) Araponga não é jornalista, vídeo secreto ainda não é reconhecido como gênero de jornalismo. Talvez o seja num futuro próximo.
O episódio mereceu comentários do blogueiro Ricardo Noblat:
Ao ser contratado para filmar Marinho e grampear André Luiz, a primeira coisa que ele disse que fez foi procurar a Veja e oferecer o material. ‘Foi um trabalho puramente jornalístico’, garantiu.
A amigos, nas duas últimas semanas, Jairo confessou mais de uma vez que espera ganhar o próximo Prêmio Esso de Jornalismo. Ele se considera um sério candidato ao prêmio.
Não é brincadeira não, é serio! Porque ele está convencido de que filmou e grampeou como free-lancer da Veja – embora jamais tenha recebido um tostão dela por isso. Recebeu dos que encomendaram as gravações.
Jairo ganhava como araponga e pensava em brilhar como jornalista.
É, de certa forma faz sentido." 
Tempos depois, a aliança com o araponga renderia a Policarpo a promoção para chefe de sucursal da Veja em Brasília. A revista já caíra de cabeça, sem nenhum escrúpulo, no mundo nebuloso dos dossiês e dos pactos com lobistas. E o grande pacto do silêncio que se seguiu na mídia, permitiu varrer para baixo do tapete as aventuras de Veja com o araponga repórter.
O final da história
Parte da história terminou em agosto de 2007. Sob o titulo “PF desmonta nova máfia nos Correios”, o Correio Braziliense noticiava o desbaratamento de uma nova quadrilha que tinha assumido o controle dos Correios (clique aqui).
No comando, Arthur Wascheck, que assumiu o comando da operação de corrupção dos Correios graças ao serviço encomendado a Jairo - grampo mais publicação do resultado na Veja.
Durante a Operação Selo, foram presas cinco pessoas, em dois estados mais o Distrito Federal.
Segundo o jornal:
Entre os presos estão Sérgio Dias e Luiz Carlos de Oliveira Garritano, funcionários dos Correios, além dos empresários Antônio Félix Teixeira, Marco Antônio Bulhões e Arthur Wascheck, considerado pela PF como líder do grupo e acusado de ter sido o responsável pela gravação feita no dia em que Marinho recebia a propina. Os investigadores não quantificaram o volume de recursos envolvidos nas fraudes, mas calculam que seja de dezenas de milhões de reais.
De acordo com os investigadores, “o grupo agia como traficantes nos morros".
“Havia uma quadrilha na ECT (Empresa de Correios e Telégrafos), que foi desbaratada e afastada. A outra organização tomou o lugar dela. Assim como os traficantes fazem, quando saem, morrem ou são presos, acontece a mesma coisa no serviço público. Quando uma quadrilha sai do local, entra outra e começa a praticar atos ilícitos no lugar da que saiu”, explica o delegado Daniel França, um dos integrantes do grupo de investigação.
A corrupção tinha apenas trocado de mãos:
Para o Ministério Público Federal, o entendimento era o mesmo.
“Não se pode dizer que a corrupção terminou ou se atenuou. O que houve foi uma substituição de pessoas, alijadas do esquema”, afirma o procurador da República Bruno Acioli.
Segundo ele, há pelo menos 20 empresas, muitas delas ligadas a Wascheck, estão envolvidas nas fraudes que podem atingir outros órgãos públicos, conforme investigações da PF.
A ficha de Wascheck era ampla e anterior ao episódio do qual Veja aceitou participar:
O empresário, conforme os investigadores, atuava na área de licitações desde 1994, sendo que um ano depois ele fora condenado por irregularidades em licitação para aquisição de bicicletas pelo Ministério da Saúde.
O valor das fraudes chegava a milhões de reais:
Segundo a polícia, o grupo de Wascheck vendia todo tipo de material para os Correios. De sapato a cofres, sendo que muitos integrantes do esquema eram também procuradores de outras empresas envolvidas nas concorrências. Com a análise dos documentos, que começou a ser feita ontem, os investigadores devem chegar aos valores das fraudes. “O que posso dizer é que esse prejuízo é de milhões de reais. Dezenas de milhões de reais”, diz o procurador da República, ressaltando que seu cálculo se baseia em alguns casos específicos. “Existem licitações na casa de bilhões de reais”, afirma o procurador.
No sistema de buscas da revista, as pesquisas indicam o seguinte:
Operação Selo Wascheck: 0 ocorrências
Operação Selo (frase exata) Período 2007: 0 ocorrências
Revista de 8 de agosto de 2007: nenhuma menção
Na edição de 15 de agosto, nenhuma menção. Mas uma das materias especiais atende pelo sugestivo título de “Porque os corruptos não vão presos”
"Frágil como papel
A Justiça brasileira é incapaz de manter presos assassinos
confessos e corruptos pegos em flagrante. Na origem da
impunidade está a própria lei".

A reportagem fala do mensalão, insinua que os implicados até melhoraram de vida, menciona símbolos midiáticos de corrupção (Quércia, Maluf, Collor etc). Nenhuma palavra sobre a Operação Selo e sobre o papel desempenhado pelas reportagens de escândalo da própria revista no jogo das quadrilhas dos Correios.
Seus aliados foram protegidos.

'Isso sim' é que é participação política e respeito aos militantes 'orgânicos'

UM EXEMPLO DE RELACIONAMENTO COM 'AS BASES'

o choro do senador 30%


O senador 30% está desesperado.Vendo sua imagem afundar cada vez mais na cachoeira da corrupção, escreveu, em tom de lamento, no  Twitter:

1. De todos os absurdos publicados contra mim, os mais absurdos estão no site da CartaCapital. Os informantes da revista estão enganados.

2. Não faço parte nem compactuo com qualquer esquema ilícito, não integro organização ilegal nem componho algo do gênero.

3. Desminto essas inverdades em respeito a minha família, aos meus amigos, às minhas colegas e meus colegas senadores, a Goiás e ao Brasil.

4. O sofrimento provocado pelos seguidos ataques a minha honra são difíceis de suportar, mas me amparo em Deus e na certeza de minha inocência.

5. As injúrias, as calúnias e as difamações minam a resistência até de quem nada teme, mas permaneço firme na fé de que a verdade triunfará.

6. Dói enfrentar o olhar sofrido de familiares torcendo para o tormento passar logo. Mas as inverdades chegam açodadas; a reparação, lentamente.

7. Para tripudiar sobre mim e o mandato que o povo me confiou, desrespeitam os mais elementares princípios constitucionais.

8. A tudo suporto porque nada fiz para envergonhar meu partido, o Senado, Goiás e o Brasil. Essa é a verdade, que, ao final, triunfará.

Dessa relação de lamento de Demóstenes 30%, me chamou a atenção o número 7, diz o demo:

"Para tripudiar sobre mim e o mandato que o povo me confiou, desrespeitam os mais elementares princípios constitucionais".
Mas veja só. Um  sujeito que passou 8 anos acusando Lula, que só faltou linchar Palocci, Pimentel, Zé Dirceu, Genuíno, Delúbio Soares, Dilma Rouseff, Erenice e outros petistas, sem ter nenhuma prova da acusação, agora, desesperado, invoca os príncipios da presunção da inocência, do devido processo legal, da ampla defesa e do contraditório para se defender de um esquema delituoso que ele fez parte juntamente com Carlinhos Cachoeira.E tudo devidamente provado.Pois é, cumpadi, quem tem telhado de vidro não atira pedra no do vizinho.

Para entender o caso:

Demóstenes Torres fez favores ilegais e teve contas pagas por bandido

PF: Demóstenes Torres pediu dinheiro a Carlinhos Cachoeira
Gravações revelam que senador do DEM solicitou ajuda para despesa de táxi-aéreo
O Globo

Gravações da Polícia Federal revelam que o senador Demóstenes Torres (GO), líder do DEM no Senado, pediu dinheiro e vazou informações de reuniões oficiais a Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, acusado de chefiar a exploração ilegal de jogos em Goiás. Relatório com as gravações e outros graves indícios foi enviado à Procuradoria Geral da República em 2009, mas o chefe da instituição, Roberto Gurgel, não tomou qualquer providência para esclarecer o caso. O documento aponta ainda ligações comprometedoras entre os deputados Carlos Leréia (PSDB-GO) e João Sandes Júnior (PP-GO) com Cachoeira.

O relatório, produzido três anos antes da deflagração da Operação Monte Carlo, escancara os vínculos entre Demóstenes e Cachoeira. Numa das gravações, feitas com autorização judicial, Demóstenes pede para Cachoeira “pagar uma despesa dele com táxi-aéreo no valor de R$ 3 mil”. Em outro trecho do relatório, elaborado com base nas gravações, os investigadores informam que o senador fez “confidências” a Cachoeira sobre reuniões reservadas que teve no Executivo, no Legislativo e no Judiciário. Parlamentar influente, Demóstenes costuma participar de importantes discussões, sobretudo aquelas relacionadas a assuntos de segurança pública.

O relatório revela ainda que desde 2009 Demóstenes usava um rádio Nextel (tipo de telefone) “habilitado nos Estados Unidos” para manter conversas secretas com Cachoeira. Segundo a polícia, os contatos entre os dois eram “frequentes”. A informação reapareceu nas investigações da Monte Carlo. Para autoridades que acompanham o caso de perto, esse é mais um indicativo de que as relações do senador com Cachoeira foram mantidas, mesmo depois da primeira investigação criminal sobre o assunto. O documento expõe também a proximidade entre Cachoeira e os deputados Leréia e Sandes Júnior.

Leréia também usava um Nextel para conversas secretas com Cachoeira. A polícia produziu o relatório com base em inquérito aberto em Anápolis para investigar a exploração de bingos e caça-níqueis na cidade e arredores. Como não pode investigar parlamentares sem autorização prévia do Supremo Tribunal Federal (STF), a PF enviou o material à Procuradoria Geral em 15 de setembro de 2009. O relatório foi recebido pela subprocuradora-geral Cláudia Sampaio Marques. Caberia ao procurador-geral, Roberto Gurgel, decidir se pediria ou não ao STF abertura de inquérito contra os parlamentares. Mas, desde então, nenhuma providência foi tomada.

No segundo semestre de 2010, a PF abriu inquérito para apurar exploração ilegal de jogos em Luziânia e se deparou com as mesmas irregularidades da investigação concluída há três anos. Procurado pelo GLOBO, Gurgel disse, por meio da assessoria de imprensa, que estava aguardando o resultado da Operação Monte Carlo para decidir o que fazer em relação aos parlamentares. O advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, confirmou o uso do Nextel por Demóstenes.

Segundo ele, o senador usou o telefone, mas não se lembra desde quando. O advogado não fez comentários sobre o suposto pedido de pagamento de despesas e o vazamento de informações oficiais.


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Pra quem não acredita que existe o PIG: Imaginem se o elemento fosse petista...

Ainda assim temos que parabenizar O Globo. Na Folha, Estadão e cia ilimitada ninguém ouviu falar na dupla Demóstenes/Cachoeira.


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O grampo falso de Demóstenes com Gilmar Mendes e o verdadeiro com Carlinhos Cachoeira

Leia nos links abaixo, a repercussão do caso pela mídia pelo Brasil e as performances moralistas do semador Demóstenes Cachoeira 30% Torres
Os dois grampos do senador

Vamos combinar que o senador Demóstenes Torres (DEM), de Goiás, não deve ser uma conversa boa ao telefone.

Demóstenes foi o interlocutor de Gilmar Mendes, ministro do Supremo, naquele célebre grampo que se transformou num dos grandes escândalos do governo Lula – até que, no finzinho de 2010, quando ninguém prestava atenção nos jornais, a Polícia Federal divulgou o resultado de um inquérito dizendo textualmente que não encontrara um fiapo de prova sequer sobre a realização do grampo.

Ninguém pediu desculpas nem maiores esclarecimentos, embora a confusão tenha produzido a queda de Paulo Lacerda, o diretor geral da ABIN. Numa reação que parecia o prenúncio de uma crise institucional, no auge da denúncia Gilmar Mendes prometeu chamar o presidente Lula “às falas.”.

A novidade está nos grampos que reproduzem diálogos entre Demóstenes e o bicheiro Carlinhos Cachoeira.

Com a tranquilidade de quem conversa com um celular vendido em Miami com a garantia de que era à prova de escutas, os diálogos acabaram complicando a situação do senador. Demóstenes é ouvido quando pede para Cachoeira “pagar uma despesa com taxi-aéreo no valor de R$ 3.000.” Também é ouvido transmitindo informações de caráter confidencial sobre reuniões no governo, no Congresso e mesmo no Judiciário.

Considerando o acesso do senador à cúpula dos poderes, pode-se imaginar que eram informações bem valiosas, não é mesmo?

Carlinhos Cachoeira é um personagem eclético das finanças políticas do país. Não custa lembrar que foi gravado quando negociava propinas com Valdomiro Diniz, ligado ao esquema financeiro do PT. Também tem ligações com tucanos e políticos do DEM e do PP.

Não sou moralista e não acho que episódios dessa natureza digam respeito ao caráter das pessoas. (Só acho que os falsos moralistas, que denunciam nos outros aquilo que fazem, deveriam deixar os eleitores mais atentos). O problema não é o bicheiro. É o sistema que está bichado.

A circulação de dinheiro clandestino na política brasileira é uma consequência de um sistema de finanças destinado a alugar os poderes públicos e transformar os políticos em servidores do poder econômico. Pode ser um empresário com todos os papéis em ordem, ou um bicheiro. Enquanto não se mudar esse sistema, teremos episódios desse tipo. O próprio sistema gera suas leis e suas regras de competição.

Não custa aguardar, porém, pelo desfecho deste caso. Há duas semanas os dados sobre Demóstenes foram enviados à Procuradoria Geral da República que ainda não decidiu abrir inquérito. É estranho, quando se recorda da rapidez com que outros casos foram apurados. O grampo falso de Demóstenes com Gilmar Mendes produziu uma crise política, abriu demissões na cúpula do Estado e colocou o governo Lula numa posição defensiva até que tudo fosse esclarecido.

O grampo verdadeiro ainda não levou a nada. Curioso, não

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http://esquerdopata.blogspot.com.br/2012/03/veja-cobertura-completa-do-escandalo_1880.html

http://esquerdopata.blogspot.com.br/2012/03/veja-cobertura-completa-do-escandalo_24.html

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http://esquerdopata.blogspot.com.br/2012/03/demostenes-anuncia-que-dem-pedira.html

http://esquerdopata.blogspot.com.br/2012/03/demostenes-pede-cassacao-de-bezerra.html

http://esquerdopata.blogspot.com.br/2012/03/para-demostenes-torres-fernando.html

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Mar de lama soterra Goiás

Os 30% de Demóstenes 

A Polícia Federal tem conhecimento, desde 2006, das ligações no bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com o senador Demóstenes Torres, do DEM de Goiás.

Três relatórios assinados pelo delegado Deuselino Valadares dos Santos, então chefe da Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros (DRCOR), da Superintendência da PF em Goiânia, revelam que Demóstenes tinha direito a 30% da arrecadação geral do esquema de jogo clandestino, calculada em, aproximadamente, 170 milhões de reais nos últimos seis anos.

Na época, o império do bicheiro incluía 8 mil máquinas ilegais de caça-níqueis e 1,5 mil pontos de bingos. Como somente no mês passado a jogatina foi desbaratada, na Operação Monte Carlo, as contas apresentadas pela PF demonstram que a parte do parlamentar deve ter ficado em torno de 50 milhões de reais. O dinheiro, segundo a PF, estava sendo direcionado para a futura candidatura de Demóstenes ao governo de Goiás, via caixa dois.

A informação, obtida por CartaCapital, consta de um Relatório Sigiloso de Análise da Operação Monte Carlo, sob os cuidados do Núcleo de Inteligência Policial da Superintendência da PF em Brasília. Dessa forma, sabe-se agora que Demóstenes Torres, ex-procurador, ex-delegado, ex-secretário de Segurança Pública de Goiás, mantinha uma relação direta com o bando de Cachoeira, ao mesmo tempo em que ocupava a tribuna do Senado Federal para vociferar contra a corrupção e o crime organizado no País.
Segundo relatório da Polícia Federal, 30% é o percentual que o senador
do DEM  recebia do bicheiro Carlinhos Cachoeira. Foto:Renato Araújo/ABr
O senador conseguiu manter a investigação tanto tempo em segredo por conta de um expediente tipicamente mafioso: ao invés de se defender, comprou o delegado da PF.

Deuselino Valadares foi um dos 35 presos pela Operação Monte Carlo, em 29 de fevereiro. Nas intercepções telefônicas feitas pela PF, com autorização da Justiça, ele é chamado de “Neguinho” pelo bicheiro. Por estar lotado na DRCOR, era responsável pelas operações policiais da Superintendência da PF em todo o estado de Goiás. Ao que tudo indica, foi cooptado para a quadrilha logo depois de descobrir os esquemas de Cachoeira, Demóstenes e mais três políticos goianos também citados por ele, na investigação: os deputados federais Carlos Alberto Leréia (PSDB), Jovair Arantes (PTB) e Rubens Otoni (PT).

Ao longo da investigação, a PF descobriu que, nos últimos cinco anos, o delegado passava informações sigilosas para o bando e enriquecia a olhos vistos. Tornou-se dono de uma empresa, a Ideal Segurança Ltda, registrada em nome da mulher, Luanna Bastos Pires Valadares. A firma foi montada em sociedade com Carlinhos Cachoeira para lavar dinheiro. Também comprou fazendas em Tocantins, o que acabou por levantar suspeitas e resultar no afastamento dele da PF, em 2011.

O primeiro relatório do delegado Deuselino Valadares data de 7 de abril de 2006, encaminhado à Delegacia de Repressão a Crimes Contra o Patrimônio (Delepat) da PF em Goiânia. Valadares investigava o escândalo da Avestruz Master, uma empresa que fraudou milhares de investidores em Goiás, quando conheceu o advogado Ruy Cruvinel. Cruvinel chamou Valadares para formar uma parceria a fim de criar “uma organização paralela” à de Carlinhos Cachoeira. O suborno, segundo o delegado, seria uma quantia inicial de 200 mil reais. Ele, ao que parece, não aceitou e decidiu denunciar o crime.

Em 26 de abril de 2006, o relatório circunstanciado parcial 001/06, assinado por Deuselino Valadares, revelou uma ação da PF para estourar o cassino de Ruy Cruvinel, no Setor Oeste de Goiânia. Preso, Cruvinel confessou que, dos 200 mil reais semanais auferidos pelo esquema (Goiás e entorno de Brasília), 50%, ou seja, 100 mil reais, iam diretamente para os cofres de Carlinhos Cachoeira.

Outros 30% eram destinados ao senador Demóstenes Torres, cuja responsabilidade era a de remunerar também o então superintende de Loterias da Agência Goiânia de Administração (Aganp), Marcelo Siqueira. Ex-procurador, Siqueira foi indicação de Demóstenes e do deputado Leréia para o cargo. Curiosamente, ao assumir a função, um ano antes, ele havia anunciado que iria “jogar duro” contra o jogo ilegal em Goiás.

Em 31 de maio de 2006, de acordo com os documentos da Operação Monte Carlo, Deuselino Valadares fez o relatório derradeiro sobre o esquema, de forma bem detalhada, aí incluído um infográfico do “propinoduto” onde o bicheiro é colocado ao centro de uma série de ramificações criminosas, ao lado do senador do DEM e do ex-procurador Marcelo Siqueira. Em seguida, misteriosamente, o delegado parou de investigar o caso.

“Verificado todo o arquivo físico do NIP/SR/DPF/GO não foi localizado nenhum relatório, informação ou documentos de lavra do DPF DEUSELINO dando conta de eventual continuidade de seus contatos com pessoas ligadas à exploração de jogos de azar no Estado de Goiás”, registrou o delegado Raul Alexandre Marques de Souza, em 13 de outubro de 2011, quando as investigações da Monte Carlo estavam em andamento.

A participação do senador Demóstenes Torres só foi novamente levantada pela PF em 2008, quando uma operação também voltada à repressão de jogo ilegal, batizada de “Las Vegas”, o flagrou em grampos telefônicos em tratativas com Carlinhos Cachoeira. Novamente, o parlamentar conseguiu se safar graças a uma estranha posição da Procuradoria Geral da República, que recebeu o inquérito da PF, em 2009, mas jamais deu andamento ao caso.
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Ministério Público e a rádio de Aécio



Folha e Estadão têm alardeado à decisão do Ministério Público Estadual (MPE) de Minas Gerais de instaurar inquérito civil para investigar os repasses de recursos do governo mineiro para a rádio Arco-Íris, de propriedade da família de Aécio Neves. Não se sabe ainda a razão dos dois jornalões paulistas darem destaque para o assunto. Houve dedo de José Serra contra o “óbvio” presidenciável tucano?
Segundo o noticiário, a investigação devera apurar os repasses ocorridos entre 2003 e 2010, época em que o Aécio foi governador. Além dele, também consta no inquérito civil MPMG-0024.12.001113-5, o nome de sua irmã, Andrea Neves, coordenadora do Núcleo Gestor de Comunicação Social, responsável pela distribuição da publicidade oficial durante a gestão do irmão.
O escândalo do bafômetro
O Estadão apimenta o noticiário ao informar que “a propriedade da rádio por parte de Aécio e Andrea veio a público em abril do ano passado, quando o senador teve a sua carteira de habilitação – vencida – apreendida e foi multado em R$ 1.149,24 após se recusar a fazer o teste do bafômetro ao ser parado em uma blitz da Lei Seca no Rio de Janeiro”.
No escândalo do bafômetro, logo abafado pela mídia, Aécio dirigia o Land Rover placas HMA-1003, comprado em novembro de 2010 em nome da emissora, que detém uma franquia da Rádio Jovem Pan FM em Belo Horizonte. O Land Rover é um dos 12 veículos registrados em nome da emissora, que está registrada com capital social de R$ 200 mil e faturou R$ 5 milhões em 2010.
Estranhas liberações de recursos
Na época, a oposição chegou a propor instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Assembléia Legislativa, mas foi derrotada – já que os tucanos mandam no parlamento local. Agora, porém, a Promotoria de Defesa do Patrimônio Público do MPE decidiu apurar as estranhas liberações de recursos oficiais para a rádio do ex-governador.
No período em que comandou o estado, as despesas com “divulgação governamental” chegaram a R$ 489,6 milhões, segundo o Sistema Integrado de Administração Financeira de Minas Gerais (Siafi-MG), valor que ultrapassa R$ 815 milhões quando incluídos gastos de empresas, fundações e autarquias controladas pelo Executivo em vários veículos de comunicação.
Além da Rádio Arco Íris, o MPE também investigará se as empresas Editora Gazeta de São João del Rei Ltda. e a Rádio São João del Rei S/A, que têm Andrea como sócia, receberam recursos do governo durante a gestão do irmão. A irmã de Aécio Neves chegou a ser cotada entre lideranças tucanas de Minas Gerais para disputar o governo do Estado em 2014 pelo PSDB.
Altamiro Borges
No Blog do Miro

Convenção tucana em SP: vence a desagregação?


Demóstenes Torres, o líder dos demos no Senado, amigo do peito do contraventor Carlinhos Cachoeira --e, segundo a revista Carta Capital, que está nas bancas, 'sócio' nos lucros do bicheiro-- opina sobre o melhor candidato para a Prefeitura de SP: "O importante é a causa, e a causa é o Serra ganhar a eleição contra esse ideário maluco do PT'
CONVENÇÃO TUCANA EM SP: VENCE A DESAGREGAÇÃO?

"Caso Serra seja o escolhido nas prévias do PSDB ( de domingo) para concorrer à Prefeitura de São Paulo, será também escolhido o mais novo lema do partido: em time que está perdendo não se mexe. A pior forma de solidão é a companhia de José Serra. É por isso que o PSDB está na iminência de cometer mais um erro político: escolhê-lo como candidato a prefeito de São Paulo. O candidato derrotado por Dilma Rousseff de maneira acachapante não prima por ser um homem partidário. Não custa lembrar o que ele fez na última eleição para prefeito de São Paulo: apoiou um candidato de outro partido, Gilberto Kassab, fazendo tudo para que Geraldo Alckmin, o candidato do PSDB, fosse derrotado. (...) diante da eleição para governador de Estado em 2014, caso Kassab seja candidato enfrentando Alckmin, o prefeito da capital vai apoiar Kassab. Ele já fez isso uma vez (...) É impressionante que haja tucanos dispostos a apoiar um político que fez isso" (Alberto Carlos Almeida, sociólogo do grupo aecista; em artigo publicado no jornal Valor. LEIA MAIS AQUI)

Demóstenes Torres, o líder dos demos no Senado, amigo do peito do contraventor Carlinhos Cachoeira --e, segundo a revista Carta Capital, que está nas bancas, 'sócio' nos lucros do bicheiro-- opina sobre o melhor candidato para a Prefeitura de SP: "O importante é a causa, e a causa é o Serra ganhar a eleição contra esse ideário maluco do PT'
CONVENÇÃO TUCANA EM SP: VENCE A DESAGREGAÇÃO?

"Caso Serra seja o escolhido nas prévias do PSDB ( de domingo) para concorrer à Prefeitura de São Paulo, será também escolhido o mais novo lema do partido: em time que está perdendo não se mexe. A pior forma de solidão é a companhia de José Serra. É por isso que o PSDB está na iminência de cometer mais um erro político: escolhê-lo como candidato a prefeito de São Paulo. O candidato derrotado por Dilma Rousseff de maneira acachapante não prima por ser um homem partidário. Não custa lembrar o que ele fez na última eleição para prefeito de São Paulo: apoiou um candidato de outro partido, Gilberto Kassab, fazendo tudo para que Geraldo Alckmin, o candidato do PSDB, fosse derrotado. (...) diante da eleição para governador de Estado em 2014, caso Kassab seja candidato enfrentando Alckmin, o prefeito da capital vai apoiar Kassab. Ele já fez isso uma vez (...) É impressionante que haja tucanos dispostos a apoiar um político que fez isso" (Alberto Carlos Almeida, sociólogo do grupo aecista; em artigo publicado no jornal Valor. LEIA MAIS AQUI)
(Carta Maior; Sábado/24/03/ 2012)
23/03/2012
O sociólogo Alberto Carlos Almeida não esconde preferências políticas e ideológicas. Membro do corpo de analistas do Instituto Millenium, ao lado dos não menos explícitos Merval Pereira e Demetrio Magnoli, entre outros, Almeida nomeou, em sua coluna no Valor, de 09-03, quem, no seu entender, deveria liderar o embate da oposição contra o PT, em 2014. E explicitou como fazê-lo. "Não existe nada mais correto do que o que Aécio está fazendo. Ele sabe que aqueles que hoje são oposição a Dilma vão votar nele de qualquer maneira em 2014. O que o ex-governador de Minas quer é o voto daqueles que atualmente votariam em Dilma. O líder dos tucanos não deseja que o atual eleitorado de Dilma se afaste dele. A melhor maneira de evitar isso é não bater muito forte no governo da presidente", recomenda.

Depois de elogiar Margareth Tatcher pelos seus 12 anos no poder, 'de sucesso absoluto', o sociólogo aecista volta as baterias contra o que considera a principal ameaça ao êxito tucano em 2014: José Serra. O tema retornaria à coluna desta 6ª feira, antevéspera da convenção municipal em que o PSDB de SP escolhe o candidato à Prefeitura, sendo Serra o favorito.

Não há trégua e o título vai direto ao ponto: 'Com Serra, o PSDB só tem a perder'. No que se segue, fica claro que, mesmo vitorioso domingo, ninguém acredita que o candidato da derrota conservadora ficará circunscrito aos limites municipais. Todos admitem que a prefeitura de SP é só a cortina de fumaça de um objetivo que o coloca em rota de colisão frontal com Aécio. O texto do sociólogo aecista ilustra o que vem por aí: uma guerra de extermínio, da qual a disputa de domingo é só um aquecimento .

Trechos: "Caso Serra seja o escolhido nas prévias do PSDB para concorrer à Prefeitura de São Paulo, será também escolhido o mais novo lema do partido: em time que está perdendo não se mexe. A pior forma de solidão é a companhia de José Serra. É por isso que o PSDB está na iminência de cometer mais um erro político: escolhê-lo como candidato a prefeito de São Paulo. O candidato derrotado por Dilma Rousseff de maneira acachapante não prima por ser um homem partidário. Não custa lembrar o que ele fez na última eleição para prefeito de São Paulo: apoiou um candidato de outro partido, Gilberto Kassab, fazendo tudo para que Geraldo Alckmin, o candidato do PSDB, fosse derrotado.É impressionante que haja tucanos dispostos a apoiar um político que fez isso. (...) Serra jamais defendeu o que foi realizado por Fernando Henrique Cardoso

(...) O ponto culminante desse comportamento antipartidário foi quando Serra colocou em sua propaganda eleitoral de 2010 ninguém menos do que Lula (...) Serra é tão desagregador que a simples colocação de seu nome como pré-candidato já resulta em uma importante cizânia interna. No último fim de semana foi amplamente noticiada pela mídia uma discussão pública entre o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, e o senador Aloysio Nunes. O motivo do conflito público, obviamente, gravitava em torno de Serra. (...) Assim, caso o PSDB o escolha candidato a prefeito em 2012, estará optando por perder a eleição qualquer que seja o resultado dela. É uma obviedade que, se o candidato Serra perder, se tratará de mais uma derrota para os tucanos. Porém, se Serra for eleito, também será uma derrota. Uma vez na prefeitura e diante da eleição para governador de Estado em 2014, caso Kassab seja candidato enfrentando Alckmin, o prefeito da capital vai apoiar Kassab. Ele já fez isso uma vez, o que torna mais fácil ainda fazer uma segunda vez. (...)

Serra prefeito será uma pedra no sapato de Aécio Neves. (...)Quanto a uma eventual vitória de Serra nas prévias, Lula e o PT agradecem. Afinal, o PSDB terá consagrado seu mais novo lema: "Em time que está perdendo não se mexe".
Postado por Saul Leblon às 15:19

Medíocres e perigosos: Perfil de um reacionário

 Matheus Pichonelli  Perfil do cidadão comum  23.03.2012 10:40 da Carta Capital



O reacionário é, antes de tudo, um fraco. Um fraco que conserva ideias como quem coleciona tampinhas de refrigerante ou maços de cigarro – tudo o que consegue juntar mas só têm utilidade para ele. Nasce e cresce em extremos: ou da falta de atenção ou do excesso de cuidados. E vive com a certeza de que o mundo fora da bolha onde lacrou seu refúgio é um mundo de perigos, pronto para tirar dele o que acumulou em suposta dignidade.

Para ele, tudo o que é diferente tem potencial de destruição
Como tem medo de tudo, vive amargurado, lamentando que jamais estenderam um tapete à sua passagem. Conserva uma vida medíocre, ele e suas concepções e nojos do mundo que o cerca. Como tem medo, não anda na rua com receio de alguém levar muito do pouco que tem (nem sempre o reacionário é um quatrocentão). Por isso, só frequenta lugares em que se sente seguro, onde ninguém vai ameaçar, desobedecer ou contradizer suas verdades. Nem dizer que precisa relaxar, levar as coisas menos a sério ou ver graça na leveza das coisas. O reacionário leva a sério a ideia de que é um vencedor.
A maioria passou a vida toda tendo tudo aos alcance – da empregada que esquentava o leite no copo favorito aos pais que viam uma obra de arte em cada rabisco em folha de sulfite que ele fazia – e cultivou uma dificuldade doentia em se ver num mundo de aptidões diversas. Outros cresceram em meios menos abastados – e bastou angariar postos na escala social para cuspir nos hábitos de colegas de velhos andares. Quem não chegou aonde chegaram – sozinho, frise-se – não merece respeito.
Rico, ex-pobre ou falidos, não importa: o reacionário clássico enxerga em tudo o que é diferente um potencial de destruição. Por isso se tranca e pede para não ser perturbado no próprio mundo. Porque tudo perturba: o presidente da República quer seu voto e seus impostos; os parlamentares querem fazê-lo de otário; os juízes estão doidos para tirar seus direitos acumulados; a universidade é financiada (por ele, lógico) para propagar ideias absurdas sobre ideais que despreza; o vizinho está sempre de olho na sua esposa, em seu carro, em sua piscina. Mesmo os cadeados, portões de aço, sistemas de monitoramento, paredes e vidros anti-bala não angariam de todo a sua confiança. O mundo está cheio de presidiários com indulto debaixo do braço para visitar familiares e ameaçar os seus (porque os seus nunca vão presos, mesmo quando botam fogo em índios, mendigos, prostitutas e ciclistas; índios, mendigos, prostitutas e ciclistas estão aí para isso).
Como não conhece o mundo afora, a não ser pelas viagens programadas em pacotes que garantem o translado até o hotel, e despreza as ideias que não são suas (aquelas que recebeu de pronto dos pais e o ensinaram a trabalhar, vencer e selecionar o que é útil e o que é supérfluo), tudo o que é novo soa ameaçador. O mundo muda, mas ele não: ele não sabe que é infeliz porque para ele só o que não é ele, e os seus, são lamentáveis.
Muitas vezes o reacionário se torna pai e aprende, na marra, o conceito de família. Às vezes vai à igreja e pede paz, amor, saúde aos seus. Aos seus. Vê nos filhos a extensão das próprias virtudes, e por isso os protege: não permite que brinquem com os meninos da rua nem que tenham contato com ideias que os retirem da sua órbita. O índice de infarto entre os reacionários é maior quando o filho traz uma camisa do Che Guevara para casa ou a filha começa a ouvir axé e namorar o vocalista da banda (se ele for negro o infarto é fulminante).
Mas a vida é repleta de frestas, e o tempo todo estamos testando as mais firmes das convicções. Mas ele não quer testá-las: quer mantê-las. Por isso as mudanças lhe causam urticárias.
Nos anos 70, vivia com medo dos hippies que ousavam dizer que o amor não precisava de amarras. Eram vagabundos e irresponsáveis, pensava ele, em sua sobriedade.
Depois vieram os punks, os excluídos de aglomerações urbanas desajeitadas, os militantes a pedir o alargamento das liberdades civis e sociais. Para o reacionário, nada daquilo fazia sentido, porque ninguém estudou como ele, ninguém acumulou bens e verdades como ele e, portanto, seria muito injusto que ele e o garçom (que ele adora chamar de incompetente) tivessem o mesmo peso numa urna, o mesmo direito num guichê de aeroporto, o mesmo lugar na fila do fast food.
O reacionário vive com medo. Mas não é inofensivo. Foto: Galeria de GorillaSushi/Flickr
Para não dividir espaços cativos, frutos de séculos de exclusão que ele não reconhece, eleva o tom sobre tudo o que está errado. Sabendo de seus medos e planos de papel, revistas, rádios, televisão, padres, pastores e professores fazem a festa: basta colocar uma chamada alarmista (“Por que você trabalha tanto e o País cresce tão pouco?”) ou música de suspense nas cenas de violência (“descontrolada!”) na tevê para que ele se trema todo e se prepare para o Armagedoon. Como bicho assustado, volta para a caixinha e fica mirabolando planos para garantir mais segurança aos seus. Tudo o que vê, lê e ouve o convence de que tudo é um perigo, tudo é decadente, tudo é importante, tudo é indigno. Por isso não se deve medir esforços para defender suas conquistas morais e materiais.
E ele só se sente seguro quando imagina que pode eliminar o outro.
Primeiro, pelo discurso. No começo, diz que não gosta desse povinho que veio ao seu estado rico tirar espaço dos seus. Vive lembrando que trabalha mais e paga mais impostos que a massa que agora agora quer construir casas em seu bairro, frequentar os clubes e shoppings antes só repletos de suas réplicas. Para ele, qualquer barberagem no trânsito é coisa da maldita inclusão, aqueles bárbaros que hoje tiram carta de habilitação e ainda penduram diplomas universitários nas paredes. No tempo dele, sim, é que era bom: a escola pública funcionava (para ele), o policial não se corrompia (sobre ele), o político não loteava a administração (não com pessoas que não eram ele).
Há que se entender a dor do sujeito. Ele recebeu um mundo pronto, mas que não estava acabado. E as coisas mudaram, apesar de seu esforço e sua indignação.
Ele não sabe, mas basta ter dois neurônios para rebater com um sopro qualquer ideia que ele tenha sobre os problemas e soluções para o mundo – que está, mas ele não vê, muito além de um simples umbigo. Mas o reacionário não ouve: os ignorantes são os outros: os gays que colocam em risco a continuidade da espécie, as vagabundas que já não respeitam a ordem dos pais e maridos, os estudantes que pedem a extensão de direitos (e não sabem como é duro pegar na enxada), os maconheiros que não estão necessariamente a fim de contribuir para o progresso da nação, os sem-terra que não querem trabalhar, o governante que agora vem com esse papo de distribuir esmola e combater preconceitos inexistentes (“nada contra, mas eles que se livrem da própria herança”), os países vizinhos que mandam rebas para emporcalhar suas ruas.
Muitas vezes o reacionário se torna pai e aprende o conceito de família. Vê nos filhos a extensão das próprias virtudes, e por isso os protege: não permite que brinquem com os meninos da rua nem que tenham contato com ideias que os retirem da sua órbita
O mundo ideal, para o reacionário, é um mundo estático: no fundo, ele não se importa em pagar impostos, desde que não o incomodem.
Como muitos não o levam a sério, os reacionários se agrupam. Lotam restaurantes, condomínios e associações de bairro com seus pares, e passam a praguejar contra tudo.
Quando as queixas não são mais suficientes, eles juntam as suas solidões e ódio à coletividade (ironia) e passam a se interessar por política. Juntos, eles identificam e escolhem os porta-vozes de suas paúras em debates nacionais. Seus representantes, sabendo como agradar à plateia, são eleitos como guardiões da moralidade. Sobem a tribunas para condenar a devassidão, o aborto, a bebida alcoolica, a vida ao ar livre, as roupas nas escolas. Às vezes são hilários, às vezes incomodam.
Mas, quando o reacionário se vê como uma voz inexpressiva entre os grupos que deveriam representá-lo, bota para fora sua paranóia e pragueja contra o sistema democrático (às vezes com o argumento de que o sistema é antidemocrático). E se arma. Como o caldo cultural legitima seu discurso e sua paranoia, ele passa a defender crimes para evitar outros crimes – nos Estados Unidos, alvejam imigrantes na fronteira, na Europa, arrebentam árabes e latinos, na Candelária, encomendam chacinas e, em QGs anônimos, planejam ataques contra universitários de Brasília que propagam imoralidades (leia mais AQUI).
O reacionário, no fim, não é patrimônio nacional: é um cidadão do mundo. Seu nome é legião porque são muitos. Pode até ser fraco e viver com medo de tudo. Mas nunca foi inofensivo.
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Autor: 
Por José Carlos Lima
De um lado um senador, do outro um cidadão do mundo do crime que se movia com mestria    na formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, quebra do sigilo profissional, exploração de jogo de azar, dentre outros crimes. Os dois combinaram criar uma CPI para dar "um tiro direto" no PT.
No ano de 2008, a Veja deu na capa que uma conversa entre Gilmar Mendes, à época presidente do STF, e o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) teria sido grampeada por agentes da ABIN. O tal grampo (sem áudio) provocou séria crise no governo, levando o presidente da Suprema Corte a chamar Lula "às falas", o que resultou na demissão de Paulo Lacerda, diretor da ABIN e à anulação, pelo STJ, da Operação Sarthiagraha contra Daniel Dantas. Deu na Veja:

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