quarta-feira, 4 de junho de 2014

As manifestações na mídia e nos comitês pelo 'volta FMI'

ELEIÇÕES 2014

Oposição precisa explicar com transparência as medidas amargas que deseja tomar e que ministérios pretende fechar, para que a campanha eleitoral não vire propaganda enganosa

por Helena Sthephanowitz publicado 04/06/2014 14:03, última modificação 04/06/2014 17:17
SICNOTÍCIAS.PT / REPRODUÇÃO
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Mural em Portugal pede para país deixar o FMI para diminuir recessão e desemprego. Por aqui, adesão pode ser repetida
Quem viveu a política do final do século passado e início deste se lembra que não havia manifestação, não havia protesto, sem faixas e gritos "Fora FMI". Desde 2004, o Fundo Monetário Internacional está fora do Brasil, e as pautas de reivindicações dos movimentos sociais passaram a ser outras.
O "Fora FMI" significava o fora às políticas de arrocho impostas pelo órgão em obediência ao chamado Consenso de Washington. Era a versão da época de pedir mais emprego, mais verbas para o desenvolvimento econômico e social, mais verbas para educação e saúde, só que havia consciência de nome e endereço: as medidas amargas impostas pelo FMI.
Aqueles protestos eram semelhantes aos na Europa de hoje contra o arrocho imposto pela Troika (a trinca formada pelo próprio FMI, o Banco Central Europeu e a Comissão Europeia).
Países como a Ucrânia experimentaram recentemente uma onda de protestos, com apoio velado dos Estados Unidos e Europa para derrubar governos eleitos que mantinham boas relações com a Rússia e instalar governos antirrussos e cooperativos com as potências imperialistas ocidentais.
Os protestos contaram com setores da sociedade que iam de neonazistas, paramilitares, ONGs que recebiam verbas ocidentais para conspirar, e gente do povo desavisada, sobretudo jovens, que acreditavam em uma revolução de seu tempo, sem enxergar ao lado de quem estavam lutando e servindo de bucha de canhão para uma elite política e econômica imporem seus interesses alienígenas aos do povo.
Resultado: o FMI está de volta à Ucrânia com suas medidas amargas. Muitos ucranianos agiram como se carregassem faixas "volta FMI" sem saber que faziam isso, por falta de desenvolver uma consciência política crítica abrangente, que tenha uma visão mais ampla do todo.
As grandes manifestações de junho de 2013 no Brasil repetiram um pouco isto, em menor escala e sem o desfecho dramático de lá. Com pautas difusas, e com forte tentativa das oligarquias econômicas junto dos meios de comunicação de massa, tentaram dar um golpe midiático para capturarem para seus interesses neoliberais aquela movimentação popular.
Os movimentos sociais organizados perceberam o golpe, que levaria ao retrocesso, e reorientaram sua tática. Estes movimentos passaram a fazer manifestações com assinatura e pauta definida, para não serem usados pela agenda neoliberal do "volta FMI".
A própria população de boa fé, mesmo sem engajamento em movimentos sociais, que foi às ruas, sentiu que seus interesses legítimos por mais educação, saúde, transporte público e reforma política contra a corrupção com participação popular, estava descambando para desestabilização de suas próprias conquistas, como empregos, elevação da renda, conquista da casa própria, elevação da escolaridade, mais médicos.
Com isso, houve um esvaziamento das manifestações difusas, sem uma pauta. Ninguém queria servir de bucha de canhão para o "volta FMI" oferecido pelos donos de TV e jornais e pelos banqueiros do mercado financeiro.
Se o povo acordou para esta realidade de querer melhorias e não o retrocesso, a agenda do "volta FMI" instalou-se nos comitês de pré-campanha presidencial da oposição. Não por acaso, nos salões fechados, tanto o senador Aécio Neves, pré-candidato do PSDB, como Eduardo Campos, pré-candidato do PSB, acenam para o mercado financeiro, prometendo o arrocho com cortes nas verbas sociais, nos serviços públicos, na previdência e nos investimentos por parte do estado.
O Brasil está em situação econômica privilegiada no cenário internacional, e com uma economia robusta e resistente. Não há a menor possibilidade de precisar ser socorrido por órgãos internacionais. Pelo contrário, hoje o Brasil tem reservas monetárias de sobra e é até credor do FMI. Por isso é até difícil entender porque os dois principais candidatos de oposição se submetem voluntariamente, sem necessidade nenhuma, à agenda do "volta FMI".
Convenhamos que um saldo de US$ 378 bilhões de reservas internacionais que o Brasil dispõe, operado pelo Banco Central, deve despertar a cobiça de muitos banqueiros brasileiros e internacionais. Imagine a farra na forma de lucros privados exorbitantes que a nomeação de um "amigo do mercado" operando no Banco Central poderia produzir? E o risco deste patrimônio ser dilapidado, como ocorreu no governo de Fernando Henrique Cardoso?
Isso sem falar na obsessão privatista das oposições, que pode retirar o dinheiro do petróleo no pré-sal conquistado para a educação e saúde pública, e transferi-lo para lucros privados. E na volta da política do mau negócio, de vender patrimônio público já lucrativo, gerando demissões, em vez de atrair investimentos privados para novos empreendimentos que criam empregos.
Definitivamente, a oposição precisa explicar com transparência quais são as medidas amargas que deseja tomar, quais ministérios pretende fechar, para que a campanha eleitoral não vire propaganda enganosa.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Propinoduto: Quando denunciado em manchete, tucano é apenas “político”

publicado em 21 de novembro de 2013 às 11:28

Qui , 21/11/2013 às 07:14 | Atualizado em: 21/11/2013 às 09:16
Ex-diretor da Siemens envolve seis políticos com cartel
Fernando Gallo, Ricardo Chapola, Fausto Macedo | Agência Estado
do A Tarde, da Bahia
[Nota do Viomundo: Notem que no título eles são apenas "políticos"]

Em relatório entregue no dia 17 de abril ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), o ex-diretor da Siemens Everton Rheinheimer afirma que o hoje secretário da Casa Civil do governo Geraldo Alckmin (PSDB), deputado licenciado Edson Aparecido (PSDB), foi apontado pelo lobista Arthur Gomes Teixeira como um dos recebedores de propina das multinacionais suspeitas de participar do cartel dos trens em São Paulo.
O ex-executivo, que é um dos seis lenientes que assinaram um acordo um mês depois com o Cade em que a empresa alemã revela as ações do cartel de trens, também cita o deputado Arnaldo Jardim (PPS-SP), aliado dos tucanos, como possível beneficiário.
Trata-se do primeiro documento oficial que vem a público que faz referência a supostas propinas pagas a políticos ligados a governos tucanos. Até agora, o Ministério Público e a Polícia Federal apontavam suspeitas de corrupção que envolviam apenas ex-diretores de estatais como a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM).
As acusações do ex-diretor da Siemens foram enviadas pelo Cade à Polícia Federal e anexadas ao inquérito que investiga o cartel de trens no Estado de São Paulo e no Distrito Federal.
No texto, Rheinheimer afirma ainda ter em seu poder “uma série documentos que provam a existência de um forte esquema de corrupção no Estado de São Paulo durante os governos (Mário) Covas, Alckmin e (José) Serra, e que tinha como objetivo principal o abastecimento do caixa 2 do PSDB e do DEM”.
“Trata-se de um esquema de corrupção de grandes proporções, porque envolve as maiores empresas multinacionais do ramo ferroviário como Alstom, Bombardier, Siemens e Caterpillar e os governos do Estado de São Paulo e do Distrito Federal”, escreveu.
Outros quatro políticos são citados pelo ex-diretor da Siemens como “envolvidos com a Procint”. A Procint Projetos e Consultoria Internacional, do lobista Athur Teixeira, segundo o Ministério Público e a Polícia Federal, é suspeita de intermediar propina a agentes públicos.
O documento faz menção ao senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), os secretários estaduais José Aníbal (Energia), deputado (PSDB-SP); Jurandir Fernandes (Transportes Metropolitanos) e Rodrigo Garcia (Desenvolvimento Econômico).
Rheinheimer foi diretor da divisão de Transportes da Siemens, onde trabalhou por 22 anos, até março de 2007.
Ele e outro leniente prestaram depoimento à Polícia Federal em regime de colaboração premiada – em troca de eventual redução de pena ou até mesmo perdão judicial, eles decidiram contar o que sabem do cartel. Esses depoimentos estão sob sigilo.
Menções
Sobre Aparecido e Jardim, Rheinheimer sustenta em seu texto que “seus nomes foram mencionados pelo diretor-presidente da Procint, Arthur Teixeira, como sendo os destinatários de parte da comissão paga pelas empresas de sistemas (Alstom, Bombardier, Siemens, CAF, MGE, T’Trans, Temoinsa e Tejofran) à Procint”.
De Aloysio, Jurandir e Garcia, diz ter tido “a oportunidade de presenciar o estreito relacionamento do diretor-presidente da Procint, Arthur Teixeira, com estes políticos”. Sobre Aníbal, anotou: “Tratava diretamente com seu assessor, vice-prefeito de Mairiporã, Silvio Ranciaro.”
Ele ainda apontou o vice-governador do Distrito Federal, Tadeu Filipelli (PMDB), e o ex-governador do DF José Roberto Arruda como “políticos envolvidos com a MGE Transportes (Caterpillar)”. A MGE é apontada pelo Ministério Público e pela Polícia Federal como a outra rota da propina, via subcontratações – a empresa era fornecedora da Siemens e de outras companhias do cartel.
Rheinheimer diz ser o autor da carta anônima que deflagrou a investigação do cartel dos trens, enviada em 2008 ao ombudsman da Siemens. Ele relata ter feito as denúncias para se “defender de rumores sobre seu envolvimento neste escândalo”. O executivo assevera que, apesar de suas denúncias, a Siemens optou por “abafar o caso”.
Ameaça
No texto, ele se diz disposto a contar o que sabe, mas sugere receber em contrapartida sua nomeação para um alto cargo na mineradora Vale.
Rheinheimer afirma que queria induzir a Siemens a fazer uma autodenúncia ao Cade para facilitar a obtenção de autorização judicial para execução dos mandados de busca e apreensão nas outras empresas. Segundo ele, isso resolveria “o maior problema do Ministério Público de São Paulo, que é o acesso às provas para poder levar adiante suas investigações sobre corrupção ativa”.
“Além de envolver muitos projetos e dezenas de pessoas, o esquema de corrupção se estende por um longo período (1998-2012).” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Leia também:
Gerson Carneiro: Fujam para as montanhas!

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

O caso do Metrô em SP


Propinoduto tucano: O trem pagador

29/09/2013
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Operador: Indiciado pela Polícia Federal, acusado de intermediar pagamento de propina, Fagali Neto matinha frequentes contatos com agentes públicos sobre obras do Metrô e da CPTM.
E-mails, agenda e depoimento de secretária ao Ministério Público revelam como operava Jorge Fagali, o homem da propina no escândalo do Metrô de São Paulo
Alan Rodrigues, Pedro Marcondes de Moura e Sérgio Pardellas, via IstoÉ
Uma disputa travada na Justiça do Trabalho revelou como opera um dos principais agentes do propinoduto montado por empresas da área de transporte sobre trilhos em São Paulo para drenar dinheiro público dos cofres da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e do Metrô paulista. Trata-se do consultor Jorge Fagali Neto, indiciado pela Polícia Federal sob a acusação de receber e intermediar o pagamento de propinas da multinacional francesa Alstom a autoridades do PSDB paulista. IstoÉ teve acesso ao depoimento e a uma série de e-mails comprometedores entregues ao Ministério Público, em junho de 2010, por sua ex-secretária Edna da Silva Flores. A documentação deixa clara a proximidade de Fagali Neto com agentes públicos e o seu interesse em contratos do Metrô paulista e da CPTM. Nas mensagens, o consultor revela, por exemplo, preocupações com a obtenção de empréstimos e financiamentos junto ao Banco Mundial (Bird), BNDES e JBIC que viabilizem investimentos nas linhas 2 e 4 do Metrô paulista.
O material entregue por Edna ao Ministério Público demonstra pela primeira vez a ligação direta de Fagali Neto com os irmãos Teixeira, Arthur e Sérgio, apontados como lobistas do esquema Siemens e responsáveis por pagar propina a políticos por intermédio de offshores no Uruguai, conforme revelou reportagem de IstoÉ em julho. Em um trecho de seu depoimento ao MP, Edna diz que os três mantinham “relacionamentos empresariais” e “atuavam antes da assinatura de contratos” com o governo de São Paulo. Copiados por Fagali em uma série de e-mails envolvendo contratos com as estatais paulistas de transporte sobre trilhos, os irmãos Teixeira também têm seus nomes citados na agenda pessoal de Fagali Neto. Em uma das páginas da agenda, está registrado um encontro com Sérgio Teixeira, hoje falecido, às 11 horas na alameda Santos, no Jardim Paulista, região nobre de São Paulo. Em outra, constam o telefone, o e-mail e o nome da secretária de Arthur Teixeira.
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Elo entre os esquemas: Segundo depoimento de ex-secretária de Fagali Neto ao MP, ele atuava em parceria com Arthur Teixeira (em destaque), apontado como lobista do esquema Siemens.
A ex-funcionária narra também os cuidados do antigo chefe com eventuais investigações. No período de 2006 a 2009, em que trabalhou para Jorge Fagali Neto organizando o seu escritório, ele a mandava se ausentar do seu gabinete quando precisava se reunir com clientes. Também a pedido de Fagali Neto, ela comprou quatro celulares para que os aparelhos fossem usados por ele apenas para tratar de negócios. O consultor acreditava que assim dificultaria interceptações policiais. A espécie de “faz tudo” da empresa era proibida até de mencionar ao telefone os nomes de representantes de companhias às quais Fagali prestava consultoria. Ela ainda recebeu orientação para se referir a personagens do círculo de negócios do consultor por apelidos. José Geraldo Villas Boas – também indiciado pela PF por ter participado do esquema de corrupção – era chamado de “Geólogo”. O temor do consultor em não deixar rastros era tão grande que ele fazia questão de pagar tudo em espécie. “Ele sempre mantinha algumas quantias em local desconhecido em sua casa”, disse. A ex-secretária afirma no depoimento que ele costumava emitir, por meio da empresa BJG Consultoria e Planejamento Ltda., notas de R$260 mil e R$180 mil, mesmo tendo apenas ela como funcionária. Pelo jeito, dinheiro não faltava para o operador do esquema do propinoduto tucano. Em 2009, o ex-secretário de Transportes Metropolitanos de São Paulo (1994) e ex-diretor dos Correios (1997) na gestão Fernando Henrique Cardoso teve uma conta atribuída a ele com mais de R$10 milhões bloqueada por procuradores suíços. Procurado, o advogado de Fagali Neto, Belisário dos Santos Jr., diz que os e-mails foram obtidos pela ex-funcionária por meio de fraude junto ao provedor. Ele, no entanto, não quis se pronunciar sobre o teor das mensagens.
Apesar das tentativas de Fagali de manter a discrição, segundo sua ex-secretária, o elo do homem da propina no escândalo do Metrô com agentes públicos ligados ao PSDB é irrefutável. Em 2006, Fagali trocou mensagens e recebeu planilhas por e-mail de Pedro Benvenuto, então coordenador de gestão e planejamento da Secretaria de Transportes Metropolitanos, órgão responsável pelas estatais. Entre o material compartilhado, como revelou o jornal “Folha de S.Paulo” na última semana, estavam as discussões sobre o Programa Integrado de Transportes Urbanos do governo até 2012, que ainda não estava definido. Até a quarta-feira 25, Pedro Benvenuto ocupava o cargo de secretário-executivo do Conselho Gestor do Programa de PPPs (Parcerias Público-Privadas) do governo de São Paulo, quando pediu demissão na esteira das denúncias.
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quarta-feira, 17 de abril de 2013

Maduro exige peso de la ley contra agresores del pueblo

Maduro exige peso de la ley contra agresores del pueblo

Professor demonstra manipulação de O Globo sobre Venezuela

17 de Abril de 2013 - 15h19  do Vermelho

Diante da manipulação da informação nos jornais da Rede Globo, como O Globo, sobre a situação econômica da Venezuela, depois da confirmação de que o candidato Nicolás Maduro,  Partido Socialista Unido da Venezuela (Psuv) venceu a eleição no domingo (14), o professor de economia Victor Leonardo enviou carta ao impresso manifestando sua indignação. No domingo, uma onda de violência foi iniciada pela oposição.


Globo ataca governo venezuelano com dados manipulados

Prezada Senhora Sandra Cohen

Editora de Mundo de O Globo

Já é sabido que o jornal O Globo não nutre qualquer simpatia pelo governo do presidente venezuelano Hugo Chávez, e tem se esforçado a formar entre os seus leitores opinião contrária ao chavismo – por exemplo, entrevistando o candidato Henrique Caprilles sem oferecer ao leitor entrevista com o candidato Nicolás Maduro em igual espaço. Isto por si já é algo temerário, mas como eu não tenho a capacidade de modificar a linha editorial do jornal, resigno-me. O problema é que o jornal tem utilizado sistematicamente dados um tanto quanto estranhos na sua tarefa de formar a opinião do leitor. Sou professor de Economia da Universidade Federal Fluminense e, embora não seja “especialista” em América Latina, conheço alguns dados sobre a Venezuela e não poderia deixar de alertá-la quanto aos erros que têm sido sistematicamente cometidos.

Como parte do esforço de mostrar que o governo Chávez deixou a economia “em frangalhos”, o jornalista José Casado, em matéria publicada em 15/04/2013 (“Economia em frangalhos no caminho do vencedor”) informa que o déficit público em 2012 foi de 15% do PIB. Infelizmente, as fontes desta informação não aparecem na reportagem (apenas uma genérica referência a “dados oficiais e entidades privadas”!!!), uma falha primária que nem meus alunos não cometem mais em seus trabalhos. Segundo estimativas apresentadas para o ano de 2012 no “Balanço Preliminar das Economias da América Latina e Caribe”, da conceituada Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), o déficit foi de 3,8% do PIB, ligeiramente menor do que no ano anterior, mas muito inferior ao apresentado pelo jornal. Caso o jornalista queira construir a série histórica para os resultados fiscais para a Venezuela (e qualquer outro país do continente), pode consultar também as várias edições do “Estudio Económico” também da Cepal. Para poupar o seu trabalho: a Venezuela registrou superávit primário de 2002 a 2008: 1% do PIB; 2003: 0,3; 2004: 1,8; 2005: 4,6; 2006: 2,1; 2007: 4,5; 2008: 0,1; e déficit nos anos seguintes: 2009: -3,7% do PIB; 2010: -2,1; 2011: -1,8; 2012: -1,3. O déficit é decrescente, mas bem distante dos 15% do PIB publicados na matéria. Afirmar que o déficit público na Venezuela corresponde a 15% do PIB tem sido um erro recorrente, e também aparece na matéria intitulada “Onipresente Chávez”, publicada na véspera, também no caderno “Mundo” do jornal O Globo em 13/04/2013. A este propósito, tenho uma péssima informação a lhe dar: diante de um quadro fiscal tão saudével, o presidente Nicolás Maduro não precisará realizar ajuste fiscal recessivo, e terá condições de seguir com as políticas de seu antecessor.

A matéria do dia 15/04/2013 possui ainda outros erros graves. O primeiro é afirmar que existe hiperinflação na Venezuela, e crescente. Não há como negar que a inflação é um problema grave na Venezuela, mas O Globo não tem dispensado o tratamento adequado para informar os seus leitores. A inflação na Venezuela tem desacelerado: foi de 20% em 2012, contra 32% em 2008 (novamente utilizo os dados da Cepal). Tudo indica que o jornalista não possui conhecimento em Economia, pois a Venezuela não se enquadra em qualquer definição existente para hiperinflação – a mais comumente utilizada é de 50% ao mês; outras, mais qualitativas, definem hiperinflação a partir da perda da função de meio de troca da moeda doméstica, situações bem distantes do que ocorre na Venezuela.

Outro equívoco é afirmar que “não há divisas suficientes para pagar pelas importações”. A Venezuela acumula superávits comerciais e em transações correntes (recomendo que procure os dados - os encontrará facilmente na página da Cepal). Esta condição é algo estrutural, e a Venezuela é a única economia latino-americana que pode dar-se ao luxo de não precisar atrair fluxos de capitais na conta financeira para financiar suas importações de bens e serviços. Isto decorre exatamente das exportações de petróleo.

O problema, Senhora Sandra Cohen, é que os erros cometidos ao expor a situação econômica venezuelana não se limitam à edição do dia 15/04, mas tem sido sistemáticos e corriqueiros. Como parte do esforço de mostrar que o governo Chávez deixou uma “herança pesada”, a jornalista Janaína Figueiredo divulgou no dia 14/04 (“Chavismo joga seu futuro”) que em 1998 a indústria respondia por 63% da economia venezuelana, e caiu para 35% em 2012. Infelizmente, a reportagem comete o erro primário que o seu colega José Casado cometeu: não cita suas fontes. Em primeiro lugar, a informação dada pelo jornal é que a Venezuela era a economia mais industrializada do globo terrestre no ano de 1998. Veja bem: uma economia em que a indústria representa 63% do PIB é super-hiper-mega-industrializada, algo que sequer nos países desenvolvidos foi observado naquele ano, nem em qualquer outro. E a magnitude da queda seria digna de algo realmente patológico. Como trata-se de um caso de desindustrialização bastante severo, procurei satisfazer a minha curiosidade, fazendo algo bastante corriqueiro e básico em minha profissão (e, ao que tudo indica, o jornalista não fez): consultei os dados. Na página do Banco Central da Venezuela encontrei a desagregação do PIB por setor econômico e lá os dados eram diferentes: a indústria respondia por 17,3% do PIB em 1998, e passa a representar 14% em 2012. Uma queda importante, sem dúvida, mas algo muito distante da queda relatada por sua jornalista. Caso a senhora, por qualquer juízo de valor que faça dos dados oficiais venezuelanos, quiser procurar em outras fontes, sugiro novamente a Cepal, (Comissão Econômica para América Latina e Caribe). As proporções mudam um pouco (21% em 1998 contra 18% em 2007 – os dados por lá estão desatualizados), mas sem adquirir a mesma conotação trágica que a reportagem exibe. Em suma: os dados publicados na matéria estão totalmente errados.

O erro cometido é gravíssimo, mas não é o único. A reportagem ainda sugere que a Venezuela é fortemente dependente do petróleo, respondendo por 45% do PIB. Novamente, a jornalista não cita suas fontes. Na que eu consultei (o Banco Central da Venezuela), o setor petróleo respondia por 19% do PIB em 1998, contra pouco mais de 10% em 2012. Como a Senhora pode perceber, a economia venezuelana se diversificou. Não foi rumo à indústria, pois, como eu mesmo lhe mostrei no parágrafo acima, a participação desta última no PIB caiu. Mas, insisto, a dependência do petróleo DIMINUIU, e não aumentou como o jornal tem sistematicamente afirmado.

A edição de 13/04/2012, traz outros erros graves. Eu já falei anteriormente sobre os dados sobre déficit público apresentados pela matéria assinada pelo jornalista José Casado (“Onipresente Chávez”). A mesma matéria afirma que a participação do Estado venezuelano representa 44,3% do PIB. O conceito de “participação do Estado na economia” é algo bastante vago, e por isso era importante o jornalista utilizar alguma definição e citar a fonte – mas isto é algo, ao que tudo indica, O Globo não faz. Algumas aproximações para “participação do Estado na economia” podem ser utilizadas, e as mais usuais apresentam números distantes daqueles exibidos pelo jornalista: os gastos do governo equivaliam a 17,4% do PIB em 2010 (contra 13,5% em 1997) e a carga tributária em 2011 era de 23% (contra 21% em 2000), nada absurdamente fora dos padrões latino-americanos.

Enfim, no afã de mostrar uma economia em frangalhos, O Globo exibe números que simplesmente não correspondem à realidade da economia venezuelana. Veja bem: eu nem estou falando de interpretação dos dados, mas sim de dados equivocados!

Seria importante oferecer ao leitor de O Globo uma correção dessas informações – mas não na forma de errata ao pé de página, mas em uma reportagem que apresente ao leitor a economia venezuelana como ela é, e não o caos que O Globo gostaria que fosse.

E, por favor, nos próximos infográficos, exibam suas fontes.

Atenciosamente,

Victor Leonardo de Araujo

Fonte: Rede Democratica

Leonardo Severo: Mídia privada faz “guerra psicológica” na Venezuela

publicado em 16 de abril de 2013 às 10:48 no Blog VIOMUNDO do Azenha


Venezuela com Maduro: Crianças jogam futebol, o vendedor de sapatos Guerman Varela e a estudante de Odontologia Débora Antequera felizes com a vitória. Fotos: Joka Madruga
por Leonardo Wexell Severo, de Caracas, no ComunicaSul
“Há uma guerra psicológica para a oposição apátrida, que serve aos interesses dos Estados Unidos. Eles escondem a comida para especular e falam em escassez de alimentos; eram os que entregavam o petróleo aos estrangeiros e agora falam em uso indevido dos recursos para as missões sociais. Nas urnas, elegendo Nicolás Maduro, o povo venezuelano reafirmou o caminho de Chávez pelos pobres e disse não aos bandidos e ladrões”.
A análise de German Varela sobre a vitória eleitoral de Nicolás Maduro para a presidência da República mais parece a de um sociólogo ou “politólogo”, como atualmente são chamados alguns analistas. Mas German, vendedor de sapatos na Feira Popular localizada próximo à estação Belas Artes do metrô, em Caracas, é um “filho da revolução bolivariana”. Um processo que, para ser vitorioso, apostou na formação política e ideológica de milhões de homens e mulheres.
Pelas ruas da capital venezuelana, em meio à estridente convocação do candidato oposicionista Henrique Capriles – com a sua parafernália midiática – para que a população não reconhecesse a derrota eleitoral, presenciamos nesta segunda-feira (15) de ressaca pós-eleitoral, a maior das naturalidades, com meninos jogando futebol, a simpatia dos habitantes e o trânsito caótico de sempre.
“OPOSIÇÃO SERVIL AO IMPERIALISMO”
Ao comparecer ao Conselho Nacional Eleitoral, onde foi declarado presidente eleito, Nicolás Maduro disse confiar na sabedoria popular ao não cair no jogo de uma “oposição servil ao imperialismo”.
Maduro avalia que o delírio golpista é próprio dos que são vítimas de uma “overdose de ódio e de vingança, dos que querem acabar com uma revolução que é símbolo de amor”.
Mas o ódio de Henrique Capriles à revolução bolivariana é proporcional à sua submissão aos EUA que, carente de petróleo, busca novamente tomar de assalto as maiores reservas provadas do “ouro negro” do mundo.
Assim como usou bombas contra o povo líbio e iraquiano, o império se utiliza do bombardeio midiático para se apropriar das imensas riquezas da Petróleos de Venezuela (PDVSA), colocada por Chávez em função dos interesses da nação. Os ativos da estatal alcançaram cerca de US$ 115,9 bilhões no final de 2012, com um incremento de 18% sobre 2011.
No total, os ativos mundiais da empresa somaram mais de US$ 218,42 bilhões, e cresceram cerca de US$ 36,27 bilhões em relação a 2011. Os rendimentos de 2012 foram de US$ 124,4 bilhões, o lucro bruto ficou em torno de US$ 28,8 bilhões e o lucro líquido atingiu US$ 4,2 bilhões. Projetando o futuro, os investimentos realizados pela PDVSA alcançaram mais de US$ 24,5 bilhões, com um aumento de 36% em relação a 2011.
É justamente esta injeção de recursos que vem possibilitando que o país trilhe o caminho do desenvolvimento ampliando conquistas e direitos. Conforme o coordenador Internacional da Central Bolivariana Socialista dos Trabalhadores da Cidade, do Campo e da Pesca da Venezuela (CBST), Jacobo Torres, em maio entrará em vigor a nova Lei Orgânica do Trabalho, que melhorará as condições de vida dos trabalhadores.
Entre outros avanços, o texto reduz a jornada para 40 horas semanais (a atual é de 44 horas), elimina a demissão sem justa causa, estabelece licenças de seis semanas prévias ao parto para as mulheres grávidas e outras 20 semanas depois de dar a luz.
PENSAR COM A PRÓPRIA CABEÇA
Ostentando um boné chavista do Partido Socialista Unificado da Venezuela (PSUV), German acredita que a revolução estimulou as pessoas a pensarem com a própria cabeça e que chegou a hora de, mais do que caminhar com os próprios pés, “acelerar na construção de uma nova sociedade”.
Cursando o segundo ano de odontologia, Débora Antequera considera que o principal legado de Chávez foi a “grande atenção que deu aos mais pobres, particularmente com as missões sociais”, por meio de investimentos na saúde e na educação públicas. Caminhando sorridente pelas ruas de Caracas, Débora explica porque a cidade foi eleita “capital da alegria”: “temos confiança e esperança num futuro melhor”.
Com 78 anos “bem vividos”, Henry Avendaño León, aposentado que começou a trabalhar no dia 27 de julho de 1954, lembra que “um dia depois, nasceu Chávez”. “Desde que o presidente assumiu, nunca deixou de nos assistir e isso é muito importante, porque prometer é diferente de cumprir. Chávez sempre cumpriu. Eu fiquei de 1995 a 1998 lutando sem nada e foi só com o triunfo da revolução que comecei a receber minha aposentadoria”, declarou.
Vendedor de camisetas e militante do Partido Comunista da Venezuela (PCV), Luiz Alvares avalia que o resultado eleitoral “reafirma a democracia, a participação e o protagonismo dos venezuelanos neste processo de mudanças rumo ao socialismo”.
Para Alvares, a vantagem de cerca de 2% dos votos de Maduro sobre o direitista Henrique Capriles se deveu a “uma espécie de triunfalismo”, uma “confiança” que acabou desmobilizando parte da militância. Agora, defende, “é o momento de radicalizar mais o processo e investir no fortalecimento político-ideológico da nossa condução para aumentar o nível de consciência do nosso povo”.
Ao mesmo tempo em que alguns países desenvolvidos estão promovendo a redução dos direitos sociais e trabalhistas, em maio entrará em vigor na Venezuela a nova Lei Orgânica do Trabalho, buscando melhorar as condições de vida dos trabalhadores. Empresas e estabelecimentos comerciais tiveram um ano de prazo para adaptar-se à nova norma, que substituirá a legislação vigente desde 1936.
Entre outros avanços, o texto estabelece uma jornada de 40 horas semanais (a atual é de 44 horas), elimina-se a demissão sem justificativa, constitui-se um Fundo Nacional de Prestações, se estabelecem licenças de seis semanas prévias ao parto para as mulheres grávidas e outras 20 semanas depois de dar a luz
Comerciante, Doris Alvarez disse que votou para “seguir adiante um processo que defendeu e continuará ampliando o direito das mulheres”.
“RESPOSTA CONTUNDENTE AOS GOLPISTAS”
Estudante de comunicação social na Universidade Bolivariana, Reni Marrero, pegou seu megafone e convocou amigos e simpatizantes para ir às ruas “defender o resultado apurado pelo Conselho Nacional Eleitoral”. “Esse é um ato de civismo e uma resposta contundente aos que querem desacatar a decisão das urnas divulgada pelo CNE, num processo eleitoral reconhecido internacionalmente, inclusive pelo Centro Carter, de referência para o mundo”.
Coordenadora de Políticas Especiais da Universidade Bolivariana da Venezuela (UBV), Jaqueline Romero, contesta os “monopólios privados de comunicação, que repetem há 14 anos a mesma ladainha em defesa dos milionários e de seus bens”. “Estou mobilizada em favor de Maduro porque este processo é das grandes maiorias contra a oligarquia e precisamos defendê-lo até com nossas vidas, se preciso for. Este foi o legado que nos deixou Chávez”, frisou.
Professora do programa de Formação Social da UBV, Yajaira Machado lembra que a revolução bolivariana utilizou os recursos do petróleo para fomentar o crescimento econômico com justiça social. “Na saúde, tudo era privatizado. Os trabalhadores não tinham direitos, o salário era muito baixo e muitas pessoas não tinham sequer o que comer. Hoje estamos caminhando rumo ao futuro. Infelizmente, o candidato da oposição não reconhece esses avanços e usa a mídia privada para nos enfraquecer. Mas a revolução segue ainda mais fortalecida”, sublinhou Yajaira.
Para o articulista Clodovaldo Hernandéz, ao escolher Nicolás Maduro para sua sucessão o presidente recém-falecido acertou, “inclusive na hora terrível de ditar as instruções a seguir logo após sua morte”. “Até desde esse presumível nada que significa a morte, ele é capaz de construir algo. Chávez soube ver o povo aonde outros viam um espaço vazio”.
Leia também:
Breno Altman: Os obstáculos diante do chavismo

quinta-feira, 28 de março de 2013

A entrevista com Telhada e a demissão de jornalista; coordenador nega ligação

publicado em 23 de março de 2013 às 15:59


Lúcia Rodrigues recebendo o prêmio Direitos Humanos de Jornalismo, em Porto Alegre

por Conceição Lemes
A jornalista Lúcia Rodrigues tem 19 anos de profissão. De 31 de janeiro de 2011 a 5 de março de 2013, trabalhou na Rádio Brasil Atual. Primeiro, como pauteira. Depois, repórter.
Nesse período, foi agraciada com dois prêmios por reportagens sobre a desocupação do Pinheirinho, em São José dos Campos (SP). O 1º Prêmio Beth Lobo de Direitos Humanos das Mulheres, outorgado pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de São Paulo. E o 29º Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo, concedido pelo Movimento de Justiça e Direitos Humanos e Ordem dos Advogados do Brasil – seção Rio Grande do Sul (OAB-RS).
No último dia 4, Lúcia entrevistou por mais de uma hora o coronel Paulo Adriano Telhada, ex-comandante da Rota, atualmente vereador do PSDB na Câmara Municipal de São Paulo.
O foco da matéria era principalmente a contratação de dois doadores de campanha para trabalhar como assessor no gabinete. Os nomes aparecem na lista do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de São Paulo. Um doou quase R$ 40 mil e o outro, cerca de R$ 19 mil. Segundo o site da Câmara dos Vereadores, o primeiro assessor recebeu, em janeiro, mais de R$ 21 mil de salário; o segundo, quase R$ 18 mil. O coronel contratou, ainda, um primo para a assessoria de imprensa do gabinete.
O clima esquentou quando a repórter, ao abordar a contratação de parentes, perguntou se era legal contratar primos. Embora não seja moral nem ético, a lei permite. Lúcia não tinha certeza e disse que iria consultar advogados. O coronel reage com uma ameaça:
Eu aconselho você a tomar cuidado com o que você vai publicar, porque a paulada vem depois do mesmo jeito, no mesmo ritmo.
Ouça aqui todo o diálogo:

Ao coronel são imputadas 36 mortes durante o período em que atuou no Tático Móvel e depois como policial da Rota:
Você quer que eu conte quantos eu matei, eu não sei. Filha, eu sou um policial de 34 anos de serviço. Você sabia quantas vezes eu fui baleado? Você nunca perguntou… Vocês querem saber quantos eu matei, mas nunca perguntaram quantas vezes eu fui baleado. Você sabe quantas alças de caixão de policial eu já carreguei? Nunca perguntaram. Isso não interessa. Isso não interessa para vocês… O que interessa é que o coronel é um assassino, o coronel matou 48, 50 alguns falam 36, não sei onde arrumaram esse número… Eu não sei, eu nunca contei.
Questionado sobre o paradoxo entre matar e frequentar igreja, Telhada afirma:
Eu estou em paz. Todos os caras que eu matei eram bandido. Não foi nenhum inocente. Essas mãos, aqui, filha, estão suja…de lama e sangue…Não tem nenhum sangue de inocente aqui.
Ouça aqui todo o diálogo:

A reportagem foi ao ar na manhã do dia seguinte, 5 de março. Dos dois áudios postados até aqui, apenas o primeiro entra de passagem.
Ouça aqui o que foi ao ar na Rádio Brasil Atual. Lúcia ouviu também o juiz José Henrique Rodrigues Torres, presidente da Associação Juízes para a Democracia (AJD).

DEMISSÃO POUCAS HORAS DEPOIS DE A ENTREVISTA COM TELHADA IR AO AR
À tarde, nesse dia, a jornalista foi demitida pelo próprio coordenador da Rede Brasil Atual, Paulo Salvador. Habitualmente ele não trabalha no mesmo espaço da Rádio; foi até o local apenas para exonerar Lúcia:
Ele me demitiu no estacionamento do prédio. Perguntei várias vezes o motivo. Ele disse que não iria falar. A única coisa que chegou a dizer é que não havia mais espaço para mim na firma com a mudança para a Paulista [a nova sede será na rua Carlos Sampaio]. Perguntei de quem era a decisão. Disse que era dele.
Em 18 de março, portanto 13 dias após a demissão de Lúcia, Paulo Salvador publicou no seu blog, uma nota de esclarecimento (na íntegra, tal como foi postada, aqui). Sobre o local e a forma como isso ocorreu, diz:
Como o estúdio é improvisado, sem salas, onde todos trabalham em um salão, sem o famigerado “aquário” de diretoria. Propus que fôssemos a um local isolado, o espaço entre a escada e o estacionamento.… Como se vê, o comunicado não foi truculento, ao contrário, transcorreu dentro de um diálogo embora tenso, mas educado…
….
Disse-lhe que havia iniciado uma reestruturação da equipe tendo em vista a mudança para o novo estúdio, na rua Carlos Sampaio, levando em consideração a sinergia das equipes produtoras de conteúdo.
….
No Facebook ela escreveu que não sabe o motivo, que não foi informada. Mais uma falsificação, pois foi informada sim que o desligamento seria por reestruturação e que ficariam os que trabalham em equipe.
Em resposta ao Viomundo, Paulo Salvador bate na mesma tecla:
A Lúcia foi demitida dentro de um processo de reestruturação da rádio para transferência para um novo estúdio na paulista. Há um ano avaliamos que ela falha no trabalho em equipe, não discute com os coordenadores, envia áudio pronto para a técnica. E, ainda, que na reestruturação ficariam os que priorizam esse trabalho em equipe.
Na nota de esclarecimento, Paulo informa também que a “decisão pelo desligamento [de Lúcia] foi protelada por um ano”:
Desde janeiro de 2012, após o episódio do Pinheirinho e da publicação de uma matéria sobre acordos especiais de trabalho, a coordenação da rádio discutiu com a jornalista mudanças de postura, atitude e enfoque em seu trabalho por considerá-los individualistas, exagerados, provocadores e desrespeitosos, que tais formatos de entrevistas e matérias prejudicavam a imagem da Rede, criavam embaraços para outros jornalistas que viam seus pedidos de entrevistas negados com o argumento de que a rádio mandava repórteres provocadores.
A coordenação direta da rádio propôs-lhe mudança de editoria, mudanças de trabalho, alertou que o estilo era de blogueira e não de reportagem da rede. A própria jornalista sentia que sua situação era precária por, ao ser abordada sobre o trabalho, sempre perguntava se estava demitida.
Os dois primeiros meses de 2013 foram de agravo da postura onde em vários eventos a jornalista acentuava sua predileção por esculhambar entrevistas e entrevistados, sem que a redação e chefias tivessem discutido linhas de abordagens.
Perguntei à Lúcia se tinha sido advertida antes:
Nunca recebi nenhuma advertência. Como poderia ser advertida pelas reportagens sobre o Pinheirinho, se elas renderam dois prêmios à Rádio e a mim?
Mas ao citar a matéria sobre acordos especiais de trabalho, me fez lembrar de uma coisa. Realmente fiquei sabendo que financiadores da Rede haviam ficado furiosos com a matéria sobre o ACE, Acordo Coletivo Especial.Os metalúrgicos do ABC queriam liberdade para negociar acordos com os patrões. Mas dois renomados especialistas na área do trabalho criticaram muito o projeto, que alguns sindicatos queriam ver aprovado em Brasília. Eu fiz a matéria que me pediram. Mostrei os dois lados.
Mas, a partir desse episódio, meu chefe me pediu para fazer menos matérias sobre direitos humanos, porque alguém teria comentado que estava entrando muitas matérias sobre temas ligados à ditadura militar e à Comissão da Verdade. Nunca foi proposto mudança de editoria, porque simplesmente não existe essa divisão na Rádio Brasil Atual. A equipe é pequena e se desdobra para dar conta das pautas.
Eu quero que o Paulo Salvador aponte um único entrevistado que eu tenha destratado. Sei preservar os limites do profissionalismo. O que houve, isto, sim, foi censura a duas matérias.
Em dezembro do ano passado, fui à USP para a coletiva de imprensa que o governador Geraldo Alckmin deu na reitoria da Universidade. A minha pauta era sobre os processos do reitor João Grandino Rodas contra os estudantes que ocuparam a reitoria em 2011. Fiz a pergunta, o governador respondeu.
Esperei os demais colegas perguntarem e fiz mais uma segunda pergunta. Foi sobre o caso do jornalista André Caramante, da Folha de S. Paulo. Alckmin optou por ficar em silêncio.
A matéria foi postada no site da Rádio. No dia seguinte, deveria ir ao ar no jornal da manhã. Mas não foi. Paulo Salvador telefonou, proibindo que fosse veiculada. Mas o Portal Imprensa repercutiu a matéria.
A outra matéria que ele proibiu fosse postada no site e fosse ao ar no dia seguinte na Rádio foi a entrevista com Alckmin e Rodas sobre os processos contra os estudantes que ocuparam a reitoria. Tenho uma cópia da matéria comigo.
Diante disso, questionei Paulo: você proibiu alguma matéria da Lúcia de ir ao ar? Resposta:
Essa matéria do Alckmin não entregou no programa, ficou só nas redes. Essa decisão foi tomada em consulta com os editores da rádio, revista e site. Eu não cuido das matérias. Sugiro assuntos, pautas, entrevistas e comento o publicado.
O “essa matéria do Alckmin” refere-se à reportagem mencionada em e-mail anterior, onde ele diz:
Ela foi cobrir uma coletiva do governador na USP Butantã sobre a passarela da Cidade Universitária com o Villa Lobos. A repórter pergunta do Camarante, o governador não responde, ela provoca e a assessora de imprensa diz que ela havia ido lá para tumultuar. Tudo isso está no áudio.
Lúcia rechaça:
Primeiro, a matéria que ficou só no site foi a sobre o Caramante. A outra sobre os processos contra os estudantes da USP, em que entrevisto Alckmin e o reitor João Grandino Rodas, nem chegou a ser postada no site e também não foi ao ar na Rádio. Ele proibiu…
Segundo, a coletiva foi convocada para o governador falar da passarela ligando a Cidade Universitária ao Villa Lobos. Só que, como acontece em toda coletiva, boa parte dos jornalistas perguntam sobre outros temas que não o proposto pela assessoria de imprensa. Eu perguntei sobre os processos contra os alunos e sobre o caso do Caramante.
Terceiro, ao perguntar ao Alckmin sobre o Caramante, eu apenas cumpri o meu papel de jornalista. A assessora de imprensa do governador estava no dela, que é, entre outras coisas, de protegê-lo de perguntas embaraçosas. Lembra-se de que na eleição para a prefeitura, em 2012, o Serra se recusou a responder sobre plano de governo e chamou o repórter da Rede Brasil Atual de ‘sem-vergonha? Nosso papel é perguntar para esclarecer.
Ouça o áudio da matéria sobre o Alckmin e o Caramante:

Aí, fiz a pergunta óbvia a ambos: teria havido interferência, pressão, do coronel Telhada para a demissão?
Paulo Salvador descarta:
A relação da entrevista com o Telhada e a demissão é apenas uma ‘vitimização’ dela, uma expressão de contiguidade ginasiana. Tanto é que a matéria foi ao ar.
Lúcia estranha:
Sinceramente não acho que o coronel Telhada tivesse poder para interferir na minha demissão. O que surpreende é o fato de ter ocorrido na sequência da veiculação de uma matéria sobre o vereador e ex-chefe da Rota. A reportagem foi ao ar no dia 5 pela manhã e na tarde do mesmo dia fui sumariamente demitida. Me surpreende mais ainda a demissão ocorrer após o coronel Telhada ter me ameaçado no meio da entrevista.
PAULO DIZ QUE FOI OFERECIDA RECOLOCAÇÃO, LÚCIA DIZ QUE NÃO
No início da semana passada, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo convocou Paulo Salvador para uma reunião, na tentativa de reverter a demissão de Lúcia. Lúcia também foi convidada a participar da conversa.
Ele diz:
Em intermediação no Sindicato dos Jornalistas, foi oferecida a possibilidade de uma recolocação, o que foi recusada pela jornalista.
Ela rebate:
É mentira! As duas sindicalistas que acompanharam a reunião – Cândida Vieira e Lilian Parise — estão de prova. Paulo Salvador disse que até tinha pensado em buscar uma realocação para mim, mas depois mudou de ideia.
Aliás, ao contrário do que o Paulo Salvador afirma, eu só fiquei sabendo o motivo da minha demissão na reunião convocada pela direção do Sindicato dos Jornalistas.
Na reunião, ele deixou claro que não gostava das minhas matérias e disse que ninguém me mandara enfrentar o coronel Telhada. Falou que eu insistia em fazer matérias batendo na polícia, mas que eu deveria falar sobre os latrocínios que ocorrem no Estado.
Paulo falou ainda na frente das duas sindicalistas que se arrependia de não ter fechado a Rádio quando ela saiu do ar (ficamos operando por um período somente na web) e ter mandado todo mundo embora.
Questionei-o. Perguntei se um ex-sindicalista não tinha pudor em falar uma coisa daquelas. Indaguei o que faria se escutasse a mesma afirmação de um dirigente do Banespa [ele trabalhou no banco]. Ele respondeu que as coisas não funcionavam assim no Banespa. Refiz a pergunta. Questionei o que ele faria se estivesse na minha posição e eu na dele. Ele silenciou.
Causa-me ainda espanto a forma pejorativa como ele se refere ao trabalho dos blogueiros na nota de esclarecimento. No intuito de me atingir, acaba por atacar todas as pessoas que exercem o legitimo direito a essa forma de comunicação. É triste constatar que seu discurso em defesa democratização da mídia se esvai em preconceitos tolos.
A propósito. Indagado pelo Viomundo sobre o período em que Lúcia Rodrigues atuou na Rede Brasil Atual, Paulo Salvador informa: ” Trabalhou de janeiro de 2011 a 5 de março de 2013, sendo até março de 2012 vinculada à produtora Berlim, que produzia e geria o programa; depois, a partir de abril, na Editora Gráfica Atitude Ltda, que assumiu o programa”.
Lúcia precisa: “Foi de 31 de janeiro de 2011 a 5 de março de 2013. Só que até março de 2012 trabalhei sem estar registrada, como acontece até hoje com outros colegas da Rádio”.