* Originalmente publicado no Blog da Cidadania
O primeiro e o segundo maiores jornais do país, entre outros, continuam
enveredando por um processo kamikaze em que se recusam a aceitar a
derrota da tentativa que fizeram de criar, antes para Lula e agora para
Dilma, um problema energético como o que se abateu sobre o Brasil
durante o governo Fernando Henrique Cardoso, de triste memória.
Entre sexta e sábado, esses dois veículos publicaram textos literalmente
surreais sobre o tal “racionamento” que depois reduziram para “apagão” e
depois para “apaguinhos”, mas que terminou em desconto maior nas contas
de luz. O Globo, em editorial, e a Folha de São Paulo, na sua seção de
cartas de leitores, mostram uma direita à beira da histeria.
Comecemos por O Globo. Em editorial em que diz que Dilma “erra ao
explorar energia como tema político” – veja só, leitor: quem explora
politicamente o tema é… “Dilma”! – o jornal não se limita a tomar
partido da oposição, como faz em qualquer assunto há pelo menos uma
década. O Globo, acredite quem quiser, elogiou o racionamento de energia
de 2001/2002.
Segundo a Wikipedia, porém, “A crise do apagão foi uma crise nacional ocorrida no Brasil que afetou o fornecimento e distribuição de energia elétrica” e que foi causada por “Falta
de chuvas, que deixaram várias represas vazias, impossibilitando a
geração de energia, e por falta de planejamento e investimentos em
geração de energia”.
No tópico “causas” (do apagão), a Wikipedia elenca fatores que ninguém,
absolutamente ninguém tem condições de negar, razão pela qual a tese
explicativa sobre por que o país teve que racionar energia sobreviveu
aos filtros políticos da “enciclopédia” eletrônica, que extirpam dela
qualquer referência que não possa ser comprovada.
Conheça, abaixo, as causas, segundo a Wikipedia, para o Brasil ter tido
que racionar energia elétrica durante cerca de oito meses.
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A crise ocorreu por uma soma de fatores: as poucas chuvas e a
falta de planejamento e ausência de investimentos em geração e
distribuição de energia.
Com a escassez de chuva, o nível de água dos reservatórios
das hidroelétricas baixou e os brasileiros foram obrigados a racionar
energia.
Após toda uma década sem investimentos na geração e
distribuição de energia elétrica no Brasil, um racionamento de energia
foi elaborado às pressas, na passagem de 2000 para 2001.
O governo FHC foi surpreendido pela necessidade urgente de
cortar em 20% o consumo de eletricidade em quase todo o País (a região
sul não participou do racionamento, tendo em vista que suas represas
estavam cheias e houve retomada de investimentos no setor).
[FHC] Estipulou benefícios aos consumidores que cumprissem a
meta e punições para quem não conseguisse reduzir seu consumo de luz.
No dia 7 de dezembro de 2001, felizmente choveu às catadupas e o racionamento pôde ser suspenso em 19 de fevereiro de 2002.
Não obstante, segundo os cálculos do ex-ministro Delfim
Netto cada brasileiro perdeu R$ 320 com o apagão ocorrido no final do
governo FHC.
Auditoria do
Tribunal de Contas da União (TCU) publicada em 15 de julho de 2009
mostrou que o apagão elétrico gerou um prejuízo ao Tesouro de R$ 45,2
bilhões.
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Qualquer pessoa minimamente sensata concluirá que o Brasil passou por um
problema terrível que torturou a população por absoluta falta de
capacidade administrativa do governo de turno. Contudo, para o diário
carioca O Globo, o autor do apagão merece elogios.
Leia, abaixo, trecho do editorial “Dilma erra ao explorar energia como tema político”.
“Desde as eleições gerais de 2002, ocorre esse tipo de
exploração, pois o PT fez do racionamento um dos seus principais cavalos
de batalha [sic], atribuindo à administração
Fernando Henrique Cardoso inteira responsabilidade pelo que tinha
acontecido (embora a mobilização da sociedade para evitar consequências
mais drásticas de uma eventual escassez de energia elétrica possa ser
apontada como uma das iniciativas mais positivas do governo FH ao fim de
seu mandato)”
Só para refrescar sua memória, leitor, lembro que o racionamento tucano
de energia previa pesadas multas para quem não reduzisse em 20% o
consumo de energia em casa ou nas empresas e ameaçava com desligamento
do fornecimento quem reincidisse no “crime” de “gastar” mais luz do que o
permitido.
A despeito disso, o jornal diz que a “mobilização da sociedade” que, em
verdade, foi fruto do medo de ficar nos escuro, constituiu-se em “uma
das iniciativas mais positivas do governo FHC”. Ou seja: a falta de
investimentos que causou tantos prejuízos à sociedade não foi negativa,
foi positiva porque o ex-presidente teria feito toda uma nação, alegre e
de mãos dadas, enveredar por um esforço cívico.
Enquanto isso, o mesmo jornal critica o desempenho energético dos
sucessores de FHC, que, segundo o presidente da Empresa de Planejamento
Energético (EPE), Maurício Tomalsquim, fizeram o país chegar, em fins de
2011, com o Sistema Interligado Nacional (SIN) superando 105 mil MW,
instalados em hidrelétricas (77%), termelétricas e fontes alternativas.
O número acima, isolado, não quer dizer muito sem a informação de que a
demanda por energia, naquele ano, foi de 56.000 MW médios. Ou seja: os
investimentos dos governos Lula e Dilma nos tiraram de uma situação em
que só produzíamos 80% da energia de que precisávamos para uma situação
em que produzimos quase o dobro de nossas necessidades.
Registre-se que O Globo faz cortesia para FHC com o chapéu alheio, ou
seja, do povo, pois a economia compulsória que este teve que fazer não
se deveu a FHC, mas às ameaças de represálias do governo tucano a quem
não economizasse.
Todavia, mais engraçadas são as seções de cartas de leitores dos jornais
oposicionistas. Na Folha de São Paulo, por exemplo, esses leitores, na
contramão do sentimento nacional de júbilo com o forte alívio nas contas
de luz, praticamente pedem que elas continuem caras, demonstrando amplo
desconhecimento sobre a real situação energética do país.
Vale a pena ler e rir, já que chorar não adianta.
—–
Folha de São Paulo
26 de janeiro de 2013
Painel do Leitor
Energia
Atenção, presidenta Dilma, eu não quero desconto na conta de
luz. Quero é ter luz todos os dias, o que já não acontece e só vai
piorar se o seu governo sucatear as hidrelétricas para obter essa
redução de tarifa. Já fico sem luz com demasiada frequência. Como será
agora? Não sou pessimista nem do contra, só quero pagar para ter o que
eu preciso.
FERNANDA MADUENO (São Paulo, SP)
*
Ao garantir energia elétrica a todos e com desconto, sem
mostrar claramente como efetivar essa promessa, o governo parece estar
fazendo “gambiarras” financeiras e “gatos” técnicos.
CARLOS GASPAR (São Paulo, SP)
—–
Não deve ter sido fácil a Folha encontrar essas duas peças raras que
querem pagar mais caro pela energia elétrica. Uma delas, fica sem luz
com freqüência. A tal senhora Fernanda por certo desconhece que quedas
de energia que sofre devem ser cobradas do governo do Estado, que não
fiscaliza o cabeamento pela cidade, que se rompe toda vez que chove.
Agora, o impressionante é que as únicas duas manifestações de leitores
que a Folha publicou vêm de um microcosmo da sociedade que, ao contrário
da quase totalidade dela, não deve ter onde enfiar seu rico dinheirinho
e, portanto, quer doá-lo a concessionárias que cobram preços entre os
mais altos do mundo justo no país com maior potencial de geração de
energia.
Essa é a realidade paralela em que vive uma elitezinha minúscula,
egoísta, pervertida, sonegadora, racista e, acima de tudo, golpista que
infecta o Brasil. Eis por que insisto com a presidente Dilma que faculte
às empresas geradoras e distribuidoras de energia elétrica poderem
oferecer aos seus clientes a opção de pagarem mais caro pela energia.
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