Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:
A imprensa tradicional, ou os meios de comunicação vinculados às marcas tradicionais da imprensa, já não são capazes de mobilizar opiniões e vontades no Brasil. A afirmação, feita sem uma pesquisa que a respalde, pode parecer leviana à primeira vista, mas a cada semana se torna mais evidente que a opinião do público e a ação política dos cidadãos passam muito longe de instituições como a mídia ou os partidos.
A mera observação do noticiário permite constatar como certos temas ganham grande destaque no papel sem, no entanto, provocar o número proporcional de comentários de leitores em sua versão digital. No fim, tudo se transforma em um círculo de manifestações entre a imprensa e suas fontes, sob o olhar aparentemente desinteressado da sociedade.
A nova estocada da revista Veja, segundo a qual o ex-presidente Lula da Silva teria pressionado o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes a adiar o julgamento do chamado caso “mensalão”, em troca de uma blindagem do ministro na CPI que investiga as atividades do bicheiro Carlos Cachoeira, é o caso que merece essa observação.
Aposta do Globo
Segundo a revista da Editora Abril, o ex-presidente teria feito “insinuações” sobre as relações entre Gilmar Mendes e o senador Demóstenes Torres, apontado como articulador dos interesses do bicheiro no Congresso e em alguns estados. A história comprada pela imprensa é de que Lula teria pressionado o ministro do STF para adiar o julgamento do caso “mensalão”.
O ex-ministro Nelson Jobim, que participou do encontro, ocorrido no mês de abril em seu escritório de Brasília, afirma que a conversa não teve esse teor, mas a imprensa escolheu a versão de Gilmar Mendes e da revista Veja.
Pois bem. Nas versões eletrônicas do noticiário a respeito do assunto, disponíveis desde sábado (26/5) na internet, não acontece a repercussão que um episódio dessa gravidade deveria merecer. No domingo (27) , o assunto subiu entre os mais comentados no Twitter e ganhou alguma repercussão no Facebook, mas os leitores se dividem entre os que tomam partido sem qualquer questionamento, enquanto outros evidenciam o fato de que não pode haver duas verdades: ou o ministro Gilmar Mendes mentiu ao insinuar que foi chantageado pelo ex-presidente da República, ou mente o ex-ministro Nelson Jobim, que diz não ter havido a conversa nos termos citados por Mendes.
A imprensa, em peso, tende a acreditar na versão de Gilmar Mendes, e entre os jornais aquele que aposta mais fichas na veracidade da denúncia veiculada por Veja é o jornal O Globo (ver “Lula e Gilmar Mendes: conversa errada, no local errado, com pessoa errada”). Mas esse aval serve apenas para estimular mais especulações e dar voz a deputados e senadores que tentam descaracterizar a Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga a quadrilha montada pelo bicheiro Cachoeira no Congresso Nacional em sociedade com o senador Demóstenes Torres.
A imprensa toma partido
A história serve a Gilmar Mendes como antídoto para especulações sobre seu relacionamento com o senador Demóstenes Torres. Para outros envolvidos em maior ou menor grau com o bicheiro, serve para lançar dúvidas sobre o processo em curso.
O leitor de jornais pode perceber claramente que duas versões se chocam no noticiário. A versão da revista Veja, comprada pelos grandes jornais de circulação nacional, diz que o ex-presidente da República tenta usar o caso Cachoeira para evitar condenações no caso “mensalão”. Outra versão, apresentada por representantes do partido governista e veiculada em blogs e outros meios alternativos, levanta a hipótese de que o chamado “mensalão” tenha sido criado e amplificado a partir de um acordo entre o bicheiro Carlos Cachoeira e a revista Veja.
Cada jornal pode tirar suas conclusões, mesmo porque nem tudo que chega às redações vira notícia – parte dos fatos é usada para fundamentar internamente as escolhas editoriais. O que foge à lisura do processo jornalístico é a omissão da imprensa em geral quanto ao fato de que a revista Veja não tem isenção para se manifestar sobre o caso Demóstenes-Cachoeira, uma vez que a publicação da Editora Abril aparece entre os principais interlocutores do bicheiro nas gravações em poder da Polícia Federal.
Apenas a revista CartaCapital se refere a esse fato e lembra as relações entre Veja, Demóstenes e Cachoeira, além de observar que a proximidade entre o ministro Gilmar Mendes e o senador acusado “é pública e notória”.
Interessante observar como a chamada grande imprensa passa ao largo de algumas evidências e despreza outras, conforme o viés que elas dão ao noticiário. Também é interessante constatar que, onde podem opinar – ou seja, nos meios eletrônicos –, os leitores parecem não dar a menor importância ao que diz a imprensa.
A mera observação do noticiário permite constatar como certos temas ganham grande destaque no papel sem, no entanto, provocar o número proporcional de comentários de leitores em sua versão digital. No fim, tudo se transforma em um círculo de manifestações entre a imprensa e suas fontes, sob o olhar aparentemente desinteressado da sociedade.
A nova estocada da revista Veja, segundo a qual o ex-presidente Lula da Silva teria pressionado o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes a adiar o julgamento do chamado caso “mensalão”, em troca de uma blindagem do ministro na CPI que investiga as atividades do bicheiro Carlos Cachoeira, é o caso que merece essa observação.
Aposta do Globo
Segundo a revista da Editora Abril, o ex-presidente teria feito “insinuações” sobre as relações entre Gilmar Mendes e o senador Demóstenes Torres, apontado como articulador dos interesses do bicheiro no Congresso e em alguns estados. A história comprada pela imprensa é de que Lula teria pressionado o ministro do STF para adiar o julgamento do caso “mensalão”.
O ex-ministro Nelson Jobim, que participou do encontro, ocorrido no mês de abril em seu escritório de Brasília, afirma que a conversa não teve esse teor, mas a imprensa escolheu a versão de Gilmar Mendes e da revista Veja.
Pois bem. Nas versões eletrônicas do noticiário a respeito do assunto, disponíveis desde sábado (26/5) na internet, não acontece a repercussão que um episódio dessa gravidade deveria merecer. No domingo (27) , o assunto subiu entre os mais comentados no Twitter e ganhou alguma repercussão no Facebook, mas os leitores se dividem entre os que tomam partido sem qualquer questionamento, enquanto outros evidenciam o fato de que não pode haver duas verdades: ou o ministro Gilmar Mendes mentiu ao insinuar que foi chantageado pelo ex-presidente da República, ou mente o ex-ministro Nelson Jobim, que diz não ter havido a conversa nos termos citados por Mendes.
A imprensa, em peso, tende a acreditar na versão de Gilmar Mendes, e entre os jornais aquele que aposta mais fichas na veracidade da denúncia veiculada por Veja é o jornal O Globo (ver “Lula e Gilmar Mendes: conversa errada, no local errado, com pessoa errada”). Mas esse aval serve apenas para estimular mais especulações e dar voz a deputados e senadores que tentam descaracterizar a Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga a quadrilha montada pelo bicheiro Cachoeira no Congresso Nacional em sociedade com o senador Demóstenes Torres.
A imprensa toma partido
A história serve a Gilmar Mendes como antídoto para especulações sobre seu relacionamento com o senador Demóstenes Torres. Para outros envolvidos em maior ou menor grau com o bicheiro, serve para lançar dúvidas sobre o processo em curso.
O leitor de jornais pode perceber claramente que duas versões se chocam no noticiário. A versão da revista Veja, comprada pelos grandes jornais de circulação nacional, diz que o ex-presidente da República tenta usar o caso Cachoeira para evitar condenações no caso “mensalão”. Outra versão, apresentada por representantes do partido governista e veiculada em blogs e outros meios alternativos, levanta a hipótese de que o chamado “mensalão” tenha sido criado e amplificado a partir de um acordo entre o bicheiro Carlos Cachoeira e a revista Veja.
Cada jornal pode tirar suas conclusões, mesmo porque nem tudo que chega às redações vira notícia – parte dos fatos é usada para fundamentar internamente as escolhas editoriais. O que foge à lisura do processo jornalístico é a omissão da imprensa em geral quanto ao fato de que a revista Veja não tem isenção para se manifestar sobre o caso Demóstenes-Cachoeira, uma vez que a publicação da Editora Abril aparece entre os principais interlocutores do bicheiro nas gravações em poder da Polícia Federal.
Apenas a revista CartaCapital se refere a esse fato e lembra as relações entre Veja, Demóstenes e Cachoeira, além de observar que a proximidade entre o ministro Gilmar Mendes e o senador acusado “é pública e notória”.
Interessante observar como a chamada grande imprensa passa ao largo de algumas evidências e despreza outras, conforme o viés que elas dão ao noticiário. Também é interessante constatar que, onde podem opinar – ou seja, nos meios eletrônicos –, os leitores parecem não dar a menor importância ao que diz a imprensa.
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