Por entender que a aliança entre o PSDB e a grande mídia é danosa ao país, talvez não devesse escrever este texto. Afinal, aqui será explicado por que essa aliança vem colhendo fracassos eleitorais cada vez mais retumbantes e essa explicação poderia salvar esse grupo político do haraquiri continuado que pratica cotidianamente.
Todavia, conto com a proverbial arrogância dessa gente para impedi-la de sequer refletir sobre o que direi. Afinal, foi só dizer que José Serra não deveria usar o “kit-gay” que ele mergulhou de cabeça em uma das “estratégias” políticas mais desastradas de que se tem notícia, a qual só perde para a bolinha de papel de 2010.
Vamos ao trabalho, pois. Ao fim da tarde de domingo, certo sadismo me fez sintonizar a televisão na Globo News e/ou na Band, de forma a assistir as coberturas que as emissoras faziam da reta final da eleição em São Paulo. Dirão, assim, que não sou sádico, mas masoquista.
Enganam-se. Cometi esse ato para ver as caras dos pistoleiros do PIG diante do fato de que Fernando Haddad dera uma sova eleitoral em José Serra. E não me decepcionei. Estavam mais do que abatidos, estavam desorientados. Sobretudo na Globo News. Literalmente não sabiam o que dizer, por mais que tentassem afetar naturalidade.
A cena de desorientação e abatimento daqueles jornalistas era tão ridícula que comecei a pôr mensagens no Facebook e no Twitter convocando pessoas a assistirem àquele espetáculo patético. Não tardou e as redes se incendiaram e posts sobre a Globo News começaram a aparecer na blogosfera.
Sobretudo porque a emissora levou para a bancada que pretendia analisar os resultados das eleições o indefectível Merval Pereira, Renata Lo Prete (Folha de São Paulo), Cristiana Lobo e Gerson Camarotti (Globo News).
Lobo era a mais desorientada, ainda que não fosse a única. Chegou a dizer que Lula conseguiu eleger Haddad “por sorte”. Mas o ponto alto foi quando todos eles concordaram que o mensalão tinha, sim, afetado a imagem do PT. Eis que um deles – não me lembro qual –, em um lampejo de lucidez, lembra que “não afetou eleitoralmente, mas afetou”.
Eu ria e falava sozinho. Perguntei à televisão: “Mas se o mensalão não afetou eleitoralmente o PT, afetou como? Entre quem? Em Higienópolis? Entre quem odeia o PT?”.
É piada, não?
O fato é que, como Cristiana Lobo estivesse catatônica, dizendo coisas cada vez mais sem sentido – tão sem sentido que Merval, justo ele, lançava-lhe olhares de incredulidade – e aquilo já me provocava vergonha alheia, decidi espiar a Band. Aí é que a coisa ficou mesmo divertida.
Quem falava era o senador paranaense Álvaro Dias. Se eu contar o que ele disse, se você não assistiu ao programa não irá acreditar. Para ele, o povo fez do PT o partido mais votado em 2012 porque “não ligou o nome à pessoa”. Ou seja: o povo votou no PT em todo país sem saber que estava votando no PT (?!).
Você não acredita? Então assista, abaixo, a declaração do tucano – e não se preocupe que o vídeo só tem pouco mais de um minuto. Continuo em seguida.
Se você pensa que foi só, enganou-se. O que veio em seguida foi ainda pior. Um dos jornalistas da Band disse, como se estivesse falando do clima, que o mensalão não foi suficientemente explorado…
Não é difícil entender, portanto, a razão pela qual o PT, sob esse bombardeio midiático e partidário incessante do julgamento do mensalão, disparou na preferência popular.
Quem pode ser tão retardado a ponto de assistir a 20 minutos ininterruptos de Jornal Nacional apresentando os “melhores momentos do julgamento do mensalão” sem perceber que aquilo visava a eleição que ocorreria menos de uma semana depois?
Quem pode ser tão desmemoriado a ponto de não se lembrar mais, após tão pouco tempo, das previsões de que Lula havia chegado ao seu ocaso e de que Haddad não tinha chance?
Quem pode ser tão cretino a ponto de achar normal que o procurador-geral da República, um ministro do Supremo e uma horda de jornalistas de Globo, Folha, Veja e Estadão torçam todos, juntinhos, para que um julgamento interfira em eleições?
Não resta dúvida de que julgam que este é um país de retardados independentemente de classe social e grau de instrução. Dessa maneira, insultam o brasileiro eleição após eleição. Dizem uma coisa aqui, eles mesmos – ou os fatos – desdizem logo ali e acham que ninguém nota. Por isso é que ninguém mais lhes dá bola.
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